23 de dezembro de 2024
Política

Em meio a investigações, Temer decide cancelar viagem a Ásia nesta semana

Foto/France Press
Foto/France Press

O presidente Michel Temer desistiu de viagem internacional que faria a partir do próximo sábado (5) ao sudeste da Ásia em meio ao avanço de investigações da Polícia Federal contra ele.

Segundo a reportagem apurou, ele foi aconselhado por assessores e auxiliares presidenciais a permanecer em Brasília para preparar a estratégia de reação jurídica.

Na semana passada, a Polícia Federal solicitou nova prorrogação de 60 dias em inquérito que investiga se o presidente editou decreto para beneficiar empresas portuárias em troca de vantagens.

A Polícia Federal também pretende nesta semana tomar o depoimento da filha do presidente, Maristela Temer, que teve material para a reforma de sua casa pago em dinheiro vivo, segundo um fornecedor, por Maria Rita Fratezi, esposa do coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista de Lima Filho.

O policial militar seria a principal ligação dos supostos esquemas de irregularidade com o presidente. Na primeira fase da apuração, a PF aprofundou a convicção de que Temer recebeu, por meio do coronel, ao menos R$ 2 milhões de propina em 2014.

A principal suspeita da Polícia Federal, como mostrou a Folha, é de que o presidente tenha lavado dinheiro no pagamento de reformas em casas de familiares e dissimulado transações imobiliárias em nomes de terceiros.

A programação inicial era que Temer embarcasse para a Ásia no dia 5 e só retornasse em 14 de maio, permanecendo mais de uma semana fora. É a segunda vez que ele cancela o roteiro. Na primeira, desistiu por recomendação médica.

O envolvimento de seus familiares na investigação irritou Temer, que fez pronunciamento na última sexta-feira (27) dizendo ser vítima de perseguição criminosa disfarçada de investigação. “É contra a minha honra e pior ainda: são mentiras que atingem minha família”, disse.

Segundo o Palácio do Planalto, o presidente também decidiu permanecer no país para acompanhar a votação de proposta no Congresso que inclui R$ 1,3 bilhão ao orçamento federal. Na semana passada, o governo federal foi informado que a Venezuela e Moçambique deixaram de pagar R$ 1,5 bilhão por obras e serviços.

Com o calote, o Brasil será classificado como inadimplente, o que fará com que o BNDES e bancos privados acionem o Fundo Garantidor de Exportações. Sem o pagamento, cabe ao governo federal pagar os valores devidos ao BNDES e a bancos privados por financiar exportações ao vizinho, principalmente obras da Odebrecht no metrô de Caracas e de Los Teques

Nesta semana, por conta do feriado do Dia do Trabalho, não deve haver sessão legislativa, o que jogou a tramitação da proposta para a outra semana, quando o presidente já estaria em viagem.

No período da ausência de Temer, os presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teriam de pedir licença do cargo ou se retirar do país. Isso porque a legislação eleitoral torna inelegível aquele que ocupa o posto de presidente seis meses antes da eleição, com a exceção do próprio.

Em busca de uma pauta positiva em meio à turbulência política, o presidente anunciará na terça-feira (1) um reajuste do Bolsa Família superior ao defendido inicialmente pela equipe econômica.

Em reunião no Alvorada, na sexta-feira (27), ele definiu que o aumento médio do programa deve ficar entre 5% e 6%, maior que os 3% inicialmente discutidos. A inflação do ano passado ficou em 2,95%.

No ano passado, o programa social não teve reajuste.

O valor maior é uma tentativa do Palácio do Planalto de construir uma marca social em ano eleitoral.


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