Ao conceder entrevista publicada neste sábado (06/06) para a Folha de São Paulo, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro equiparou o PT ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo Moro, o negacionismo do governo na pandemia do coronavírus pode ser equiparada a resistência petista em assumir seus erros e a insistência do Partido dos Trabalhadores em não fazer nenhuma autocrítica.
Moro diz que é um erro o Partido dos Trabalhadores não reconhecer as falhas cometidas em relação aos desvios na Petrobrás que ocorreu durante os governos petistas. Isso pode ser equiparado ao negacionismo que Bolsonaro vem adotando durante a pandemia do novo coronavírus.
O ex-ministro também não vê nenhum problema em apoiar e até mesmo integrar movimentos que possam ter pessoas críticas ao seu trabalho como juiz da Lava Jato. “Na democracia temos muito mais pontos em comum do que divergências. As questões pessoais devem ser deixadas de lado”, salientou reforçando que não é algoz de ninguém.
Moro também diz que não nenhuma responsabilidade numa suposta contribuição ao crescimento do autoritarismo no governo Bolsonaro. “Algumas pessoas me falaram que viram na minha entrada como alívio porque eu exerceria um papel moderador”, contrapôs. “Quando verifiquei que não tinha mais condições de exercer esse papel, eu saí.”, salientou.
Sobre os movimentos autointitulados pró-democracia e contrários ao governo Jair Bolsonaro, Moro os observa com bons olhos. “Vejo esses manifestos com naturalidade, como reação às declarações que não têm sido felizes por parte do presidente, esses arroubos autoritários.” Destacou que há temas que não deveriam ser discutidos neste momento e são levantados pelo presidente. “Estamos discutindo temas da Guerra Fria, não deveríamos”.
“Arroubos autoritários”
Questionado sobre a utilização da expressão “arroubos autoritários”, Moro utilizou como exemplo a insinuação do presidente da República em “invocar as Forças Armadas” para uma função moderadora. “Minha percepção é que não existe nenhum espaço nelas para um movimento de exceção, um golpe, algo dessa espécie. Quando o presidente fica invocando, de maneira imprópria para defender posições políticas, isso gera nas pessoas receio, temor. Isso é um blefe? Ou é alguma coisa real? Deveria ser evitado”, ponderou.
Se o ex-juiz poderia aderir e participar ativamente de algum desses movimentos, Moro deixou em aberto. “Minhas posições sempre foram muito favoráveis à democracia e ao Estado de Direito, e assim tenho me manifestado publicamente”, salientou.
‘Não tenho problemas com Lula’
Ressaltou que não tem “nenhum problema pessoal com Lula”, em contrapartida “ele pode ter comigo”. “Discordo dele, divirjo do pensamento político dele e igualmente do que foi feito com a Petrobras durante o governo dele. Não existe um sentimento de animosidade pessoal, e divirjo dos crimes que foram cometidos.” Por sua vez, ressalta que os movimentos pró-democracia não são do Lula, então, não vê problemas em apoiar atos que também possam ter a benção do ex-presidente. “Eu não falei que vou abraçar o Lula. O movimento não é do Lula”.
Também descartou uma possibilidade de ser presidente e sair como candidato em 2022. “Nunca tive ambições nesse nível, sou uma pessoa muito mais simples”, salientou.
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