22 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 01:13

Em dissonância com cúpula da CNBB, arcebispo de SP defende reformas

Em dissonância com a cúpula da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, adotou um tom mais brando sobre as principais reformas defendidas pelo governo Michel Temer.

“Penso que de toda maneira há necessidade de reformas tanto na lei trabalhista como na lei da Previdência”, disse nesta segunda-feira (10), na sede da Cúria Metropolitana. “Sim, acho que é necessário fazê-las e fazê-las bem.”

Em março, o conselho permanente da maior entidade católica do país divulgou uma nota para manifestar “apreensão” com as mudanças na Previdência propostas por Temer. O prelúdio cita uma passagem do livro de Amós (Antigo Testamento): “Ai dos que fazem do direito uma amargura e a justiça jogam no chão”.

“Os direitos sociais no Brasil foram conquistados com intensa participação democrática; qualquer ameaça a eles merece imediato repúdio”, diz o texto, assinado por presidente, vice e secretário-geral da CNBB, respectivamente dom Sergio da Rocha, dom Murilo Krieger e dom Leonardo Steiner.

Para o 1º de Maio, uma nova mensagem, desta vez sobre “o risco de perda de direitos trabalhistas e de precarização das relações de trabalho”, como disse dom Sergio à reportagem.

Na semana passada, em entrevista à Rede TV!, Temer afirmou que a oposição às reformas vinha de “uma parte da CNBB e nada mais do que isso”. “E o que está acontecendo com uma parte da CNBB, não é que eles estejam contra, é que eles fazem uma coisa que a Igreja sempre fez, que é proteger os pobres”, acrescentou.

Segundo dom Odilo, os comunicados do alto escalão da entidade não falam por todos os bispos. “Aquelas manifestações não tiveram apoio explícito da CNBB.”

“É claro que há bispos mais afinados com certas tendências”, disse o arcebispo paulista.

Por se tratar “de um assunto complicado que mexe com os brasileiros”, críticas de parte do bispado “são muito normais”. Só não devem ser confundidas com uma posição oficial contra a gestão Temer, até porque “a CNBB não é sindicato ou partido que se manifesta a favor ou contra o governo”.

Dom Odilo destaca que os textos que hoje tramitam pelo Congresso já sofreram muitos ajustes, ou seja, dá para discutir como melhorar as reformas. “Estamos num momento de diálogo.”

“Por outro lado, é difícil que todos se sintam satisfeitos. Também há situações de difícil ajuste. Em alguns casos, trata-se de perder posições alcançadas, diríamos privilégios”, afirmou.

Reforma Política

O líder católico também defendeu outra reforma, esta mais distante do horizonte do atual governo: a política.

Ele repercutiu a nota “Grave Momento Nacional”, na qual a CNBB abordou a “crise ética” num país refém do “fisiologismo político que leva a barganhas sem escrúpulos”, pediu uma “profunda reforma do sistema político” e se mostrou apreensiva com “a ascensão de salvadores da pátria”, caso o desinteresse do povo por seus governantes avance.

“Não se poderia pensar numa democracia sem haver ampla liberdade de organização política”, afirma dom Odilo. Mas a “infinidade de partidos” é “excessiva” e deve ser combatida por uma “boa reforma política”, diz.

Mesmo as siglas maiores não devem ganhar cheque em branco da sociedade, segundo o católico. “Evidentemente que com isso não se está dizendo que partidos podem ser corruptos, fazer maracutaia.”

Fora de moda com o eleitorado, os políticos tradicionais ainda importam, diz dom Odilo. “Com quem nós devemos contar se não com eles? Não são todos que estão corrompidos. Devemos considerar que há políticos honestos também.”

Já candidatos “antipolíticos que se apresentam como messiânicos” provocam receio. “A história mostrou que alternativas personalistas não são boas para a sociedade.”

Questionado sobre o prefeito João Doria, um dos que veste esse manto do “antipolítico”, dom Odilo afirma que às vezes “discurso e realidade podem não sintonizar”. “Quem governa faz política”. (Folhapress)

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