Depois de um novo episódio de racha, o PSDB anunciou mais uma vez uma mensagem de “trégua” entre as alas que divergem sobre a permanência do partido na base do governo Michel Temer.
Nos bastidores, tucanos admitem que o “acordo” foi firmado em tom de desconfiança entre as alas divergentes da sigla.
Ao deixar um encontro com lideranças regionais da legenda, o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado, disse que há “paz no ninho”.
“O PSDB tem marca da responsabilidade, de olhar o Brasil antes de seus interesses. Temos papel extremamente relevante nesse momento político pelo qual passa o país. Esse apoio que damos ao governo do presidente é em torno da agenda de reformas”, disse, acrescentando que a questão de desembarque está “superada”.
O tom de “paz” foi repetido pelo presidente interino da sigla, senador Tasso Jereissati (CE). “[O PSDB] Não estava dividido. O partido tem divergência, vai continuar tendo divergências e graças a Deus tem divergência porque não somos partido de pensamento único. Partidos de pensamento único são comunistas”, declarou.
Tasso, contudo, disse que manterá o discurso de autocrítica, que foi objetivo de revolta de uma ala do partido após o tema ter sido usado como mote central de um programa veiculado na TV na semana passada.
Autocrítica
“Esse processo é de autocrítica. É absolutamente necessária a autocrítica não só para o nosso partido, eu diria que até mais para os outros partidos e para toda a política brasileira”, afirmou Tasso, dizendo que a discussão sobre permanência no governo foi superada, mas reconhecendo que seguirá no mesmo tom adotado pelo programa. Ao ser questionado sobre o tema, Aécio disse que a discussão sobre a adoção de um ‘mea culpa’ estava “superada”.
Essa não é a primeira tentativa de reconciliação do partido. Desde que Aécio se licenciou do comando do PSDB em maio, após ter sido gravado pelo empresário Joesley Batista (JBS) pedindo R$ 2 milhões, o partido vive uma espécie de “duplo comando”.
Enquanto Tasso vem defendendo um discurso de autocrítica e a saída do governo, Aécio tem mantido proximidade com Temer, com quem tem conversado com frequência.
Aécio e Tasso se reuniram na quarta-feira (23) e concordaram em levantar uma nova trégua. O acordo, contudo, foi firmado em tom de desconfiança mútua, de acordo com tucanos ouvidos reservadamente pela Folha de S.Paulo.
O senador cearense negou que tenha convidado o mineiro para selar a paz. “Não precisava selar paz onde não tinha guerra”, disse, cometendo gafe ao chamar Aécio de “ex-presidente” do PSDB, mas corrigindo-se em seguida e se referindo a ele como “licenciado”.
O encontro desta quinta (24) teve como objetivo definir um calendário de convenções municipais e estaduais do PSDB. Em dezembro, a sigla deve fazer uma convenção para realizar a escolha de uma nova executiva nacional e definir o candidato à Presidência em 2018.
Segundo colocado nas eleições presidenciais de 2014, Aécio negou ter interesse em se candidatar para o cargo no ano que vem. Tasso também disse não estar disposto a disputar a Presidência da República em 2018.
Reforma política
Aécio comentou o projeto de reforma política, em discussão no Congresso, e voltou a elogiar as mudanças na legislação aprovadas na quarta em comissão na Câmara. Ele é coautor da proposta de emenda à Constituição que prevê o fim das coligações partidárias e que cria uma cláusula de barreira. De acordo com essa medida, as legendas precisam atingir um desempenho mínimo nas urnas para terem acesso ao fundo partidário.
“Vamos apoiar a proposta apresentada pelo Caiado, que estabelece o fundo eleitoral que será alimentado pelos recursos da compensação que os meios de comunicação recebem em razão do tempo disponibilizado pelos programas partidários. Acabaríamos com programas partidários, esses que acontecem fora do cenário eleitoral, e essa compensação, falou-se em R$ 2 bilhões, não há um número exato, poderia sim alimentar o fundo eleitoral, sem que haja necessidade de recursos orçamentários para isso”, afirmou.
O projeto proposto pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) está pronto para ser votado no plenário do Senado. A relatoria foi distribuída nesta quinta para o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO).
Pelo texto, os recursos eleitorais viriam do dinheiro que o governo repassa a emissoras de rádio e TV por transmitirem os programas eleitorais e de multas aplicadas aos partidos.
Aécio voltou a dizer que o PSDB apoia a volta do financiamento privado de forma “mais limitada”, mas que não há condições de que a medida seja aprovada para 2018.
A reforma política enfrenta dificuldades no Congresso. Para terem validade para as eleições do ano que vem, as mudanças na lei precisam ser aprovadas até o fim de setembro. (Folhapress)
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