16 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:36

Em áudio, executivo da J&F diz que deu R$ 500 mil a senador do PP

Ricardo Saud.
Ricardo Saud.

Na gravação entregue pela JBS na semana passada à PGR (Procuradoria-Geral da República), o executivo do grupo J&F, controlador da JBS, Ricardo Saud, contou ao dono da empresa, Joesley Batista, que entregou R$ 500 mil em mãos ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), em uma mala, em março passado.

O áudio de 32 minutos, parte de uma conversa maior que, segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode levar à revisão do acordo de delação da JBS, foi divulgado nesta terça-feira (5) pelo site da revista “Veja”. Neste trecho não há menções a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo Saud, o senador teria lhe contado na ocasião que a construtora Odebrecht ofereceu fazer pagamentos no exterior em troca de “um roubo” não explicado na gravação, e que o senador teria recusado a oferta.

O áudio, contudo, indica que a conversa entre Saud e Nogueira não foi gravada porque o executivo da J&F se confundiu e não conseguiu acionar o gravador. Ele já preparava material para usar no acordo de delação premiada com a PGR, que seria fechado no mês seguinte. No acordo, Saud disse que Nogueira recebeu R$ 42 milhões da empresa de carnes para o PP, incluindo R$ 2,5 milhões, em espécie.

A seguir, trechos da conversa entre Saud e Joesley:

“Saud: [Mexendo no gravador] Ah não, pelo amor de Deus, não faz isso comigo, não. Eu não perdi essa gravação, não. Eu estava sem óculos… Eu não acredito, não é possível. [chama um funcionário para resolver o problema] Não, o que eu conversei com ele ali [Ciro Nogueira] é muito sério, acabou, morreu, derrubou tudo. Eu quero ouvir agora, como é que ouve isso?

Joesley: Tá ligado?

Saud: É que estava sem óculos, né, e agora eu subi, eu puxei [uma tecla do gravador] pra cá. Se eu puxei pra cá, eu tinha ligado agora [o gravador]. [O senador] pegou a mala, já marcou de 15 em 15 dias, que ele vai marcar uma putaria para nós, só… [Interrompe] Tá gravando ainda aí?

Joesley: Não.

Saud: Só ‘triple A’, só sem nível… tal. Ou ele ou o irmão, mas ele mesmo preferi vir e tal. ‘Ninguém foi tão correto quanto você e tal’. Ah, não faz isso comigo, não [reclamando do gravador].

Joesley: Não é de 15 em 15 dias?

Saud: Não, não. [chama o funcionário] Vai usar isso aqui? Não é possível, velho, que eu errei assim. Conversou ali em cima que você precisa de ver, você não acredita. Que a Odebrecht queria dar pra ele… Precisa me ajudar a defender isso, cara. ‘A Odebrecht queria me dar’. Eu falei para ele: ‘Ciro, tenta receber da gente aqui’. A Odebrecht queria dar para ele 40 milhões lá fora. Fez toda a papelada, tal, a Odebrecht achando que ele iria roubar, ele não roubou, ele não aceitou, tal. Pegou a mala, fui lá, pus, eu falei: ‘Ó, leva aí a roupa da minha irmã’. ‘Muito obrigado, e tal’. [inaudível] Passar o final de semana.

[Joesley fala ao telefone]

Saud: Não vou passar pro computador, não, vou ouvir no pen drive.

Joesley: Não fica no computador, eu sei, mas eu acho que tem que descompactar.

Saud: Eu fiz um serviço tão bem feito ali com ele. […] Ele não queria levar o dinheiro.

Joesley: Por quê?

Saud: [Ele disse] ‘Não, deixa aí com vocês, eu prefiro tal’. Eu falei: ‘Olha, Ciro, agora você leva. Tá aqui os 500, você leva, e dali a gente se encontra, faz essa parte [inaudível] e você pega’. […] Ele falou ‘não, acertei com [inaudível] uma conta corrente. Deixa aí’. Eu falei: ‘Não, ué’. ‘Esse carro é meu’. ‘Então põe aí’. Eu pus. E ele falou: ‘Vou te apresentar meu irmão, Ricardo, que só você que é da minha confiança e meu irmão. Pronto, vocês dois. De 15 em 15 dias?’ Pode. Eu falei: ‘Não, vamos fazer o seguinte, vamos fazer nós dois mesmos que nós vamos para a putaria e tal’. Então vamos nós dois mesmo.

Joesley: Eu sempre digo isso [interrupção].

Saud: Falou da Odebrecht, que a Odebrecht queria que ele roubasse um dinheiro. ‘Nós vamos ter que… aquele negócio do Cade lá de novo. A gente tem que te pagar alguma coisa’. [Ele respondeu] ‘Não’. ‘Esse negócio é meu e do

Joesley, nós fizemos um negócio aí por fora, tal, não preocupa com isso, não, isso aí não vou cobrar de jeito nenhum. Ó, você sabe que a gente nunca deixou de te pagar nada’. [Falando para Joesley] Cara, nós temos que fazer isso, [interrupção] conversar com o Janot rápido essa reunião para ver [interrupção] o Ministério Público vai continuar a desconfiar de nós.

[…]

Saud: Você não fica muito tenso não, na hora?

Joesley: Não, só por um motivo [interrupção]

Saud: [funcionário entra na sala] Um computadorzão desse?

[…]

Saud: O Marcelo subornando, pagando no exterior, tal.

Joesley: Não, não vai precisar nada disso. Tem três anos que nós está esperando resolver essa porra e nada resolve.
[liga o computador para ouvir uma reportagem no ‘Jornal Nacional’ sobre a Operação Carne Fraca. Comentam sobre a reportagem e sobre riscos para ele] Se caracterizar a organização… Decretou a organização criminosa, aí…

Saud: [comentando a reportagem] Por que [a TV] não deu o nome das unidades? E a BR Food?
Joesley: Teve, foi o primeiro [citado].” (Folhapress)

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