Originalmente publicado no jornal Tribuna do Planalto
O mundo político em Goiás e no Brasil ficou de boca aberta ao presenciar o abraço apertado entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Marconi Perillo (PSDB) na quinta, 19, quando Dilma veio a Goiânia assinar a ordem de serviço para a construção do corredor de ônibus norte-sul (BRT Norte-Sul) da capital. Isso porque, além do abraço – que mais pareceu afeto entre dois velho amigos do que apenas um ‘gesto republicano‘ –, as palavras de Marconi no discurso tucano foram o grande estopim para diversas especulações. Qual seria a intenção política de Marconi ao transformar um dos centros mais hostis à presidente, já que Dilma perdeu as eleições em Goiânia, em porto seguro para a petista?
Há alguns pontos apresentados por aliados e analistas políticos nos bastidores que tentam explicar tal ação por parte de Marconi. O primeiro se trataria de um “agradecimento”. É senso comum que o governo Dilma Rousseff viabilizou o terceiro governo Marconi Perillo ao liberar vultuosas somas de dinheiro para obras e para o saneamento da Celg (que teve 51% das ações vendidas para a Eletrobrás). Com os empréstimos, parcerias e convênios, Marconi conseguiu construir uma agenda positiva e superar os desgastes que lhe acertaram em 2012, com o envolvimento de seu nome na Operação Monte Carlo da Polícia Federal. O resultado disso foi a reeleição do tucano no ano passado.
Outra possibilidade é que Marconi estaria olhando para o seu novo governo e não conseguindo ver saída econômica para tocar uma nova agenda de obras. Até mesmo grande parte das obras – como Hugo 2, duplicações de rodovias, Credeqs, Centro de Excelência do Esporte, dentre outras – começadas na gestão passada ainda não foram terminadas e necessitariam de recursos para as suas respectivas finalizações. A previsão para o Estado na área econômica, assim como para o Brasil, não são animadoras. Desta forma, Marconi precisaria, novamente, da ajuda federal para dar ‘uma cara’ ao seu quarto governo. Os elogios a Dilma iriam nesta direção.
Um outro motivo, mais eleitoral, é que Marconi estaria vendo possibilidades de deixar o PSDB e se filiar para um partido da base da presidente, a fim de concorrer à presidência da República em 2018. Ser candidato nacional é um sonho antigo de Perillo e viabilizar este projeto dentro do PSDB não é tarefa fácil. Isso porque a cúpula do partido dificilmente abre espaço para lideranças fora de São Paulo. Apenas depois de seis eleições (sendo quatro derrotas) é que o PSDB apoiou um candidato que não fosse paulista. Aécio Neves (PSDB-MG), nas eleições passadas, conseguiu a indicação depois que os nomes do PSDB de São Paulo se esgotaram. Para 2018, porém, além de Aécio há a possibilidade da candidatura do atual governador de São Paulo Geraldo Alckimin. E para Marconi? Pouco espaço.
Veja o discurso do governador na integra
O PSD poderia ser o destino para o governador goiano. O partido é da base de Dilma e seu aliado em Goiás. Mesmo assim, esta possibilidade ainda não passa de especulação. É verdade, porém, que esta especulação ganhou muita força após a passagem de Dilma por Goiânia. Qualquer sinal de Marconi neste sentido, de agora para frente, será minuciosamente analisado. Mesmo porque ainda tem a análise de que se Marconi colar em Dilma e a presidente recuperar sua popularidade, o goiano poderia ser uma alternativa até mesmo dentro do PSDB, já que, neste outro contexto, opositores mais xiitas, como Aécio Neves, perderiam espaço.
Seja qual for a intenção de Marconi com os elogios a Dilma, as palavras de apoio à petista não ressoaram bem fora dos limites do Paranaíba. Segundo o Blog do Josias, um tucano da executiva nacional confidenciou que “não era hora” de Marconi se solidarizar e defender Dilma e que tal atitude não foi bem digerida pela cúpula tucana. Mesmo com a informação da Folha de São Paulo – que revelou que o governador, há dez dias, criticou a presidente em evento fechado do PSDB -, as palavras de Perillo colocou um ponto de interrogação na cabeça de aliados e adversários. Seja qual for o plano que esteja traçado na cabeça do governador goiano, o certo é que dependerá dos acontecimentos nos próximos anos. Até lá, todos os cenários parecem estar abertos.
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