Gustavo Petro fez história ao vencer as eleições presidenciais na Colômbia, após derrotar o empresário Rodolfo Hernández, no domingo (19). Ex-membro de um grupo guerrilheiro na juventude, ex-prefeito da capital colombiana, Bogotá, e atual senador em segundo mandato, ele será o primeiro político de esquerda a governar o país.
Na avaliação de dois especialistas ouvidos pelo Diário de Goiás, a vitória de Petro reforça o papel do Estado na economia. “As sociedades latino-americanas estão percebendo que é necessário mais Estado para superar os desafios impostos pela pandemia de Covid-19 e por um processo inflacionário mundial”, de acordo com Tiago Zancope, mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com pesquisa focada na América Latina.
“A população colombiana tem uma expectativa de que, com Petro, haverá um aumento do gasto público”, complementa. Para ele, o presidente eleito da Colômbia foi capaz de mostrar um caminho por meio do qual é possível promover realizações pelas mãos do Estado.
O historiador também destaca a crise da política tradicional no país, especialmente dos partidos de direita conservadora e liberal. “Imagino que muitos colombianos apostam no Petro pela possibilidade de tentar algo diferente daquilo que já foi tentado.”
Frederico Figueiredo, oficial de Chancelaria com experiência na região, lembra que os acordos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2016, não produziram os resultados esperados e, na prática, a violência e a corrupção não diminuíram.
“Parte da população percebeu que o problema não era a guerrilha, e sim o Estado e suas relações com governo, Forças Armadas, oligarquias e paramilitares ligados ao narcotráfico”, pontua o especialista, que faz questão de ressaltar que suas opiniões são pessoais e não refletem o posicionamento do Ministério das Relações Exteriores.
Onda de esquerda
Além disso, de lá para cá, houve, segundo ele, uma piora na situação social, com aumento da pobreza, o que ficou ainda mais claro com a Covid-19. “Aparentemente é possível falar em uma onda mais à esquerda na América do Sul. Há diferenças entre as esquerdas que estão no poder, mas um Estado socialdemocrata, mais intervencionista, com estímulos econômicos e sem austeridade fiscal, é um traço comum de quase todas.”
Tiago Zancope concorda. “Esquerda não é a mesma em toda a região. Por exemplo, o presidente do Chile, Gabriel Boric, é muito mais progressistas do que o presidente do Peru, Pedro Castillo. O que aproxima é o papel do Estado na economia. Se os gastos públicos serão um problema, é uma outra discussão, mas é fato que os eleitores escolheram opções que possam dar resultados mais imeditados, de curto prazo”, argumenta.
Agora, depois do resultado das eleições na Colômbia, os únicos países sul-americanos governados pela direita são Brasil, Uruguai, Paraguai e Equador, que também apresentam diferenças entre si.
Por fim, Frederico Figueiredo chama a atenção para a postura de Hernández, que adotou uma estratégica parecida com a do presidente Jair Bolsonaro (PL), de focar nas redes sociais e não se importar com os debates, mas, no fim, reconheceu a derrota para Petro de forma democrática.