O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se aproveitou de uma suposta missão oficial a Buenos Aires, em meio ao segundo turno das eleições presidenciais de 2022, para se encontrar com o argentino Fernando Cerimedo, conhecido por espalhar fake news sobre urnas eletrônicas. O filho de Bolsonaro teria usado dinheiro público para se encontrar com o consultor político. O fato foi constatado pela investigação “Mercenários Digitais”.
A investigação feita em parceria entre a Agência Pública, UOL e outros 19 veículos de comunicação latino-americanos, mais quatro organizações especializadas em investigação digital e alunos de um curso de mestrado na Columbia University, apontou gastos com pagamentos para sua campanha durante a estadia na Argentina e encontros com lideranças associadas a Cerimedo.
A equipe de reportagem apurou, com base nas contas prestadas por ele ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que Giovanni Larosa, correspondente no Brasil do portal La Derecha Diário, veículo que pertence a Cerimedo, recebeu, ao menos, R$ 3.900 de Eduardo Bolsonaro. Na viagem em questão, o deputado omitiu informações sobre a missão oficial.
À época, Eduardo não divulgou o caráter oficial da viagem à Argentina. Além disso, também não constam detalhes de sua prestação de contas no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados. Segundo informações do Legislativo, o objetivo da viagem, conforme o deputado, foi “estreitar laços para alcançar o crescimento econômico sustentado (sic) da região”.
Entretanto, a reportagem conseguiu um documento do Itamaraty, que revela que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e a Câmara deram apoio institucional à viagem. A visita foi comunicada à Embaixada do Brasil na Argentina por ofício, classificado como “muito urgente” enviado no dia 10 de outubro do ano passado pela Secretaria de Estado de Relações Exteriores. A justificativa era de que ele estaria em missão oficial “para participar do Ciclo de Atividades para a Difusão das Ideias de Liberdade, entre 12 e 15 de outubro”, portanto, bancado pelo governo brasileiro.
As equipes de jornalismo investigativo constataram que o deputado não esteve no país para missão oficial, e sim, para cumprir agenda eleitoral. O filho de Bolsonaro desembarcou na capital argentina no dia 12 de outubro e permaneceu por lá até dia 15. Durante esse tempo, Eduardo Bolsonaro participou de reuniões com líderes de extrema direita do país, gravou vídeos para a campanha do pai, com o apoio de Cerimedo e deu entrevistas à mídia local.
Os detalhes foram registrados pelo jornal La Derecha Diário, mesmo veículo que teve os perfis do Twitter, Instagram e Telegram suspensos no Brasil pelo TSE por espalhar mentiras sobre a segurança das eleições. A determinação foi dada depois que Fernando Cerimedo divulgou um vídeo no Youtube, no dia 4 de novembro, provocando estímulos negativos contra as urnas, alegando que houve fraude.
Apesar dos registros de pagamentos feitos a funcionários do La Derecha, Cerimedo defende que agiu de forma independente para ajudar Bolsonaro e não recebeu nada por isso.
Leia mais sobre: eduardo bolsonaro / Política