16 de dezembro de 2024
Política

Eduardo Bolsonaro: deputado ou embaixador?

(Foto: Paola de Orte/ Agência Brasil)
(Foto: Paola de Orte/ Agência Brasil)

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A polêmica em torno do assunto começou na quinta-feira (11/07) quando Jair Bolsonaro disse que estava pensando em indicar o filho, Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador nos Estados Unidos. A fala aconteceu durante a cerimônia de posse do novo diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e se dependesse do presidente, estaria apenas nas mãos do filho o aceite. O assunto não demorou para reverberar nas redes sociais. Alguns chegaram a levantar possibilidade de “fakenews” mas o próprio Bolsonaro, por meio das tradicionais lives de quinta-feira, confirmou o convite. “Meu filho fala bem o espanhol e inglês. Anda o mundo todo e é amigo dos filhos do presidente Donald Trump, o qual eu torço para a reeleição agora em 2020”, disse.

Bolsonaro Filho se manifesta

A princípio, parece que o próprio Eduardo Bolsonaro não entendeu muito bem o que estava acontecendo. Nos primeiros momentos que sucederam a fala de Jair, Eduardo disse que precisava ver e que consultaria até sua esposa. Depois, convocou uma coletiva para avisar que caso consolidado o convite, aceitaria sim o cargo. Sua missão seria de “estreitar as relações, resgatar a credibilidade brasileira no exterior e atrair investimentos”. Também disse que “por ser filho de bolsonaro”, as relações com o governo norte-americano seriam estreitadas.

Na coletiva à imprensa, também questionou: “Que tipo de perigo eu represento? Eu represento perigo à aqueles que defendem a ideologia de gênero e são contra as pautas que elegeram o presidente Jair Bolsonaro”, disparou.

Como presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Bolsonaro Filho já vinha desempenhando um papel de “embaixador informal” do Brasil e não é nenhuma mentira que é bem visto por Donald Trump. Em março, durante visita de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, Trump disse que “o filho do presidente foi fantástico”. “O trabalho que realizou durante um período muito difícil foi fantástico, eu sei que é algo que seu pai fica muito grato de ver. Muito Obrigado, trabalho fantástico.” As informações foram publicadas pelo Valor Econômico.

Eduardo Bolsonaro também endossou suas características para assumir a Embaixada. Além de já ter feito intercâmbio nos Estados Unidos, “já fritou hambúrguer” por lá. Também está acostumado com o frio que faz na divisa com o Canadá. “Existe um trabalho a ser feito, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores, tenho vivência pelo mundo”.

Por fim, Eduardo Bolsonaro está disposto a abrir mão do mandato de deputado a assumir o posto: “Se ele [Jair Bolsonaro] determinar, eu vou cumprir”.

Ministro se manifesta

De férias em Portugal, mas atento ao que acontece no Brasil, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, foi indagado pela equipe do Estadão sobre o que achava da indicação do presidente da República. “Um péssimo exemplo” e “um tiro no pé”, foi a resposta. “Agora, penso que o presidente Jair Bolsonaro deve contas aos eleitores e aos brasileiros em geral. O exemplo vem de cima. Ele chegou para nos governar e governar bem, não para proporcionar o Estado aos familiares”, ressaltou.

 

 

 

Alcolumbre diz que Senado aceitará indicação

Assim que a polêmica veio a tona, o presidente do Senado Federal, David Alcolumbre (DEM-AP) disse em entrevista na quinta-feira (11/07) que o Senado não deve colocar barreiras na indicação de Jair Bolsonaro à indicação do filho para a embaixada. Segundo ele, a indicação será aprovada. “Vai ser aprovada. Acho que não [sobre o risco de ser barrada].” David pontuou que os aspectos jurídicos já devem estar sendo estudadas e ele não vai indicar algo que pode ser obstruído, o que inclui qualquer configuração de nepotismo. “Se caracterizasse nepotismo, não mandaria. Se vai mandar, é porque o jurídico já estudou”, disse em entrevista ao Valor Econômico.

De fato, segundo a Controladoria Geral da União, a indicação não configura nepotismo. Ontem (13/07) a CGU se posicionou por meio de nota e disse que se a indicação fosse para algum cargo administrativo (cargos em comissão gratificada, assessoramento e cargos de direção), poderia ser considerada nepotismo. Como se trata de um cargo político, a indicação pode ser aprovada. Apesar da nota citar que o STF talvez possa questionar “há várias decisões do próprio Supremo que excepcionam a vedação prevista na Súmula para cargos estritamente políticos”, menciona o posicionamento da CGU.

PSL em festa
Parlamentares do PSL estão em festa. Não porque estão felizes com o remanejamento de Eduardo a um cargo tão importante como a embaixada norte-americana. Mas porque se verão bem distantes das influências do filho do presidente da República na Câmara dos Deputados. As informações foram publicadas neste sábado (13/07) na coluna da jornalista Mônica Bergamo que escreve para a Folha de São Paulo. Um parlamentar do partido do presidente, disse em tom jocoso que será a coisa mais certa que Jair fez ao longo dos seis meses de governo, segundo a Coluna. O texto lembra que Eduardo já se desentendeu com Joice Hasselmann, que é líder do partido na Câmara e Alexandre Frota.

 

Tem que renunciar?

A Constituição prevê que apenas chefes de missões diplomáticas temporárias não perdem o mandato de deputado ou senador. Embaixadores chefiam missão permanente, então, constitucionalmente Eduardo Bolsonaro deverá renunciar o mandato e isso não será nenhum problema para ele. “Se o presidente Jair Bolsonaro me confiar essa missão, eu estaria disposto a renunciar o mandato”.

Parlamentares da base governista no entanto, tentam fazer com que Eduardo possa assumir a embaixada sem que perca o cargo. Capitão Augusto, do PL de São Paulo, encaminhou uma PEC que está ainda em fase de recolhimento de assinaturas. Ele justificou dizendo que essa proposta já existia, mas não via motivos para celeridade no processo. Com a indicação de Eduardo, Augusto agora pedirá para que Rodrigo Maia (DEM-RJ) e os colegas acelerem o procedimento para que seja aprovado. A PEC alteraria o inciso I, do artigo 56 da Constituição e permitiria que qualquer parlamentar pudesse exercer cargo de diplomata.

Marcelo Calero, aquele ex-ministro da Cultura do Governo Michel Temer que causou alguns problemas para o ex-presidente em não aceitar um esquema de propina que culminou na queda do ex-ministro Geddel Vieira Lima também agiu rápido. Diplomata por formação, Calero não engoliu nenhum pouco a indicação de Eduardo Bolsonaro ao cargo. Chamou de “capricho” e “voluntarismo social” do presidente. Deputado pelo Cidadania, do Rio de Janeiro, Caleiro enviou um projeto de lei para evitar que Eduardo possa assumir a embaixada. “Determinar que sejam designados para chefe de missão diplomática permanente exclusivamente os integrantes do quadro da carreira diplomática do Serviço Exterior Brasileiro”, escreve.

 

 

Olavo se manifesta: “Vai destruir carreira”

Guru intelectual do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho gravou um vídeo ontem (12/07) se manifestando sobre o assunto. “O Eduardo está como um lutador, o guerreiro, o cavaleiro andante”, no combate ao esquerdismo, disse Olavo de Carvalho. Se Bolsonaro é o rei e não pode ir para o combate, o filho Eduardo tem essa função. Caso vá para Washington, Eduardo automaticamente deixa de lutar – aqui no Congresso – contra a esquerda brasileira, na visão de Olavo. Daí o perigo: “no posto diplomático, você não vai poder nem falar sobre o assunto”, pontua Olavo. “O diplomata tem lá suas funções regulamentares, ele não vai poder nem ficar falando do Foro de São Paulo”. Ir para a Embaixada “seria um retrocesso, a destruição da carreira do Eduardo Bolsonaro”.

 

Balão de Ensaio?

Jornal O Globo de hoje sugere que o “anúncio” de Jair Bolsonaro sobre a indicação do filho trata-se de um “balão de ensaio”, isto é: faz uma “cogitação” e se colar colou. Sendo bem recebida pela opinião pública, formaliza o convite. Se não, “volta atrás” e anuncia outro nome.

A publicação ouviu fontes próximas ao Palácio que confirmaram que o presidente tem o costume de antecipar anúncios para avaliar como essas iniciativas serão interpretadas. Com a intensidade do debate em torno do assunto sendo realizado, o presidente costuma medir se é viável ou não, manter a medida. O reforço a ideia é endossado, quando o mesmo os auxiliares mais próximos ao presidente, se surpreenderam com o anúncio.

O ministro da secretaria de Governo lembrou um exemplo em que Bolsonaro utilizou a tática do “balão de ensaio”. “Meu amigo Bolsonaro tem esses momentos. Vou citar a famosa “vou levar embaixada pra Jerusalém”. Eu pergunto: hoje está onde? Em Tel Aviv. Ele manifestou uma intenção”, rememorou.

Chanceler diz que indicação “rome ciclo vicioso” no Itamaraty

Ernesto Araújo, o chanceler que acredita que o aquecimento global é apenas uma “invenção marxista”, que o nazismo é de esquerda defendeu a indicação de Eduardo Bolsonaro ao posto. Em entrevista a BBC nesta sexta-feira (12/07) ele disse que “não há nepotismo nenhum” na indicação. Eduardo Bolsonaro apenas é uma pessoa qualificada ao cargo e que defende a mesma linha de pensamento dele e do presidente Jair Bolsonaro. “[É] a nomeação de uma pessoa que tem um comprometimento com as linhas de política externa do presidente da República e minhas, no caso. Então essa é a razão que levaria a essa nomeação. Não é por ser filho do presidente da República, é por ter capacidade de atuação política e ideias que são as que a gente considera que são corretas”, disse.

Araújo não deixou em nenhum momento de destacar que vê com positivismo a ideia. “Eu confirmei ao deputado Eduardo que vejo com muito bons olhos essa ideia. Depende da confirmação por parte do presidente – ele que faz evidentemente a designação – então seria um excelente sinal para a relação Brasil-EUA que é importantíssima para nós.” Também disse que “será um excelente movimento de política externa.”

Diplomatas se posicionam

1600 funcionários de carreira compõe a Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB). Eles divulgaram uma nota na noite desta sexta-feira que conta com gente preparada e qualificada para assumir a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

A nota destaca os esforços que diplomatas fazem ao longo de suas carreiras para se capacitarem com estudos e passando, inclusive por meio de concursos. “Iniciamos a carreira com uma formação ampla e consistente, por meio de um dos concursos mais rigorosos da administração pública, proporcional às exigências da atuação que precisamos ter dentro e fora do País”.

Confira o posicionamento na integra:

A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) recorda que, atualmente, mais de 1.500 diplomatas representam o País e defendem os interesses nacionais nas embaixadas, consulados e delegações junto a organismos internacionais, além de trabalharem em diversos órgãos do governo federal — inclusive na Presidência da República -, nos quais se encontram, hoje, mais de sessenta diplomatas cedidos.

Os diplomatas atuam em questões fundamentais nas áreas cultural, ambiental, econômica, comercial, proteção e defesa dos direitos humanos, cooperação, paz e segurança internacionais, dentre outras.

Iniciamos a carreira com uma formação ampla e consistente, por meio de um dos concursos mais rigorosos da administração pública, proporcional às exigências da atuação que precisamos ter dentro e fora do País.

Embora ciente das prerrogativas presidenciais na nomeação de seus representantes diplomáticos, a ADB recorda que os quadros do Itamaraty contam com profissionais de excelência, altamente qualificados para assumir quaisquer embaixadas no exterior.

Há mais de 100 anos os diplomatas brasileiros têm a construção da imagem e do desenvolvimento do País como seu objetivo maior, pelo qual norteiam, todos os dias, o seu desempenho. Esse é o papel para o qual foram e continuam sendo diligentemente treinados e preparados.

Associação dos Diplomatas Brasileiros

Trocando filhotes

Numa especie de “troca diplomática”, jornais brasileiros sugerem que Donald Trump também cogita nomear o filho Eric Trump, como embaixador dos Estados Unidos no Brasil. A informação foi reverberada pelo O Globo e também na Revista Crusoé. Eric é um dos filhos do presidente americano e também tem 35 anos, mesma idade que Eduardo.

 

 

 

 


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