23 de dezembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 10:00

É cedo para dizer que submarino esteja quase sem oxigênio, diz militar

O submarino argentino ARA San Juan, desaparecido na quarta, deixa o porto de Buenos Aires / Foto: Armada Argentina/Reuters
O submarino argentino ARA San Juan, desaparecido na quarta, deixa o porto de Buenos Aires / Foto: Armada Argentina/Reuters

O capitão de Mar e Guerra da Marinha brasileira José Américo Alexandre Dias disse na tarde desta quarta-feira (22) que é cedo para dizer que o submarino argentino ARA San Juan está prestes a ficar sem oxigênio para a tripulação de 44 pessoas.

O submarino fez seu último contato na manhã da última quarta-feira (15), o que ensejou uma operação de busca com a participação de vários países. O Brasil dá apoio às operações com três navios da Marinha e dois aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).

Segundo Dias, há diversos mecanismos que garantem oxigênio ao submarino, inclusive tanques para momentos de emergência. Ele falou em hipóteses, já que não se sabe ainda a condição atual do submarino, bem como o que o fez perder as comunicações com a superfície. Há a suspeita de que houve falha nas baterias utilizadas na propulsão do submarino.

O submarino possui tanques de oxigênio para casos de emergência, como um incêndio a bordo. Há uma tubulação em que a tripulação pode conectar máscaras para respiração. Dias explicou que é possível também reduzir de forma sensível as operações humanas a fim de diminuir o consumo de oxigênio a bordo.

O navio tem diversas formas de se “reabastecer” de oxigênio para a tripulação. A principal delas é captação de ar na própria superfície. Os submarinos do tipo convencional -caso do equipamento argentino desaparecido- recarregam as baterias por meio de um sistema ativado quando ele sobe à superfície. Geralmente, durante esse processo ocorre a chamada “renovação atmosférica”, quando o oxigênio é captado acima do mar.

Há também as chamadas “velas de oxigênio”, que são mecanismos semelhantes ao do snorkel no mergulho. Uma espécie de tubo é enviado à superfície para captar ar. Para isso, explicou Dias, é preciso que o submarino esteja a pelo menos quinze metros da superfície.

Não se sabe, contudo, se o navio está ou não preso no fundo do mar. Além dos tanques de emergência e das formas de buscar ar na superfície, existe ainda um procedimento químico para renovação do ar no submarino. Há produtos químicos que, a depender de seu manuseio, liberam oxigênio, caso do produto chamado “cal sodada”. Os submarinos possuem compartimentos e equipamentos que transformam a cal sodada em oxigênio.

“O submarino é um equipamento projetado para ficar oculto e por isso a dificuldade de rastreamento. Não é possível afirmar qual percentual de chance de salvamento neste momento, mas a esperança permanece. Também não dá para afirmar categoricamente que o oxigênio está prestes a terminar. São muitas variáveis envolvidas”, disse o capitão de Mar e Guerra.

Visita

A Marinha convidou jornalistas para visitar o submarino brasileiro S-32 Timbira, atracado em uma base naval em Niterói, na região metropolitana do Rio. O submarino não é igual ao argentino, mas seria da mesma classe e de fabricação alemã. Para acessar seu interior, é preciso descer por uma escada no casco superior do equipamento. As instalações são apertadas e os corredores, muito estreitos.

O submarino tem motores a diesel, que funcionam quando ele está na superfície e que carregam as baterias usadas nos sistemas e na propulsão quando equipamento está no fundo do mar. De acordo com Dias, a partir do momento em que o submarino for encontrado, será possível enviar “capsulas”, ou pequenos submarinos de resgate, que podem recompor os estoques de oxigênio.

O Brasil ajuda na operação de buscas com uma fragata equipada com sonar e um “telefone submarino”, capaz de acessar a frequência utilizada pelo equipamento desaparecido. O navio brasileiro possui tripulação de 34 socorristas, um médico e um enfermeiro, além de compartimentos com sala de cirurgia e equipamentos hospitalares.

Uma segunda embarcação, o navio polar Almirante Maximiano, possui um sonar de grande capacidade que mapeia o fundo do mar. Um terceiro navio, que está neste momento a caminho da Argentina, é o Navio de Socorro Submarino Felinto Perry, que possui as chamadas “cápsulas” que podem acessar o submarino no leito do oceano.

Apesar dos recursos extensos, eles só podem ser utilizados quando a localização do submarino for determinada. O oficial da Marinha Brasileira garantiu, contudo, que é cedo para dizer que a tripulação sofre risco de ficar sem oxigênio.

“O corpo humano tem certa capacidade de conviver com oxigênio limitado, como ocorre por exemplo com as população que vivem em altas altitudes e ar rarefeito. Também não dá para dizer se foi na quarta passada, quando houve o último contato, que o navio fez a sua última recomposição dos estoques de oxigênio”, disse.

Há também mecanismos que podem ser usados para tentar fazer o submarino subir à superfície. Os chamados tanques de lastro, que são compartimentos que são enchidos de água para fazer o equipamento descer ao fundo do mar, podem ser enchidos de ar para que o submarino flutue. Esses tipo de mecanismo é acionado manualmente e a Marinha brasileira ainda não tem informações do motivo pelo qual ele não foi utilizado ainda.

Uma outra forma seria evacuar a tripulação em trajes especiais de mergulho. Os tripulantes vestem uma espécie de escafandro moderno e uma parte do submarino é inundado com água do mar, expelindo os tripulantes por força da gravidade.

É um risco, no entanto, adotar a medida caso o submarino esteja em águas muito profundas. As pessoas podem morrer por conta da pressão atmosférica. “Com base na literatura disponível e nos treinamentos ao redor do mundo, é possível dizer que essa medida pode ser adotada em até 150 metros abaixo da superfície, sem garantia total de sucesso”, disse Dias. (Folhapress)

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