O dólar disparou em relação ao real nesta quinta-feira (7), com investidores especulando sobre os rumos políticos e econômicos do Brasil e em meio a uma aversão global a risco que atingiu os países emergentes.
O dólar comercial fechou em alta de 2,24%, cotado a R$ 3,925. No dia, chegou a subir mais de 3% e alcançou R$ 3,968, indicando que o patamar de R$ 4 vislumbrado por analistas até outubro é uma questão de tempo e pode vir antes. O dólar à vista avançou 3,03%, para R$ 3,938.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, caiu 2,98%, para 73.851 pontos.
Para tentar conter a disparada da moeda americana, o Banco Central vendeu integralmente, nesta sessão, a oferta adicional de até 40 mil novos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, totalizando US$ 2 bilhões.
Mais cedo, já havia vendido todo o lote que vem ofertando de até 15 mil novos swaps (US$ 750 milhões). Vendeu integralmente também os 8.800 swaps para rolagem do vencimento de julho, somando US$ 2,2 bilhões do total de US$ 8,762 bilhões que vencem no próximo mês.
Em comunicado divulgado em meados de maio, quando iniciou as ofertas de 15 mil contratos, a autoridade monetária já havia indicado que poderia realizar atuações adicionais como a de hoje a qualquer momento, se necessário.
Nesta terça (5), por exemplo, colocou 30 mil contratos adicionais, dos quais vendeu 16,2 mil. Logo depois, anunciou segunda operação, para ofertar o restante (13,8 mil), mas só vendeu 6.110 contratos.
Analistas apontam que investidores estão testando o Banco Central para avaliar até onde ele consegue segurar com os swaps tradicionais e, assim, pressionar por intervenções ainda mais fortes, como leilões de linha -quando o Banco Central vende dólar à vista, mas com compromisso de recompra.
Na prática, a compra de um contrato de swap pelo BC funciona como uma injeção de dólares no mercado futuro.
“O Banco Central poderia entrar hoje no mercado comprando e vendendo dólares. Pensando em oferta e demanda, ele daria um choque de oferta e, assim, o valor diminuiria. Mas essa não é uma política que o BC tem demonstrado que gostaria de usar”, diz Joelson Sampaio, professor da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
A situação cambial do Brasil se deteriora conforme as eleições de outubro se aproximam e pesquisas de intenção de voto não comprovam o avanço de candidatos considerados pelo mercado como comprometidos com o ajuste fiscal.
Assim, incertezas no front político nacional afastam investidores, ao mesmo tempo em que expectativas de alta de juros nos Estados Unidos atraem fluxo de capital até então alocado em países emergentes para a economia americana, mais sólida e menos arriscada. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fará nova decisão sobre juros na próxima semana, e a projeção dos especialistas é de alta.
Das 31 principais divisas do mundo, 17 perdem para o dólar nesta quinta, incluindo o rand sul-africano (-1,94%), o rublo russo (-1%) e o peso mexicano (-0,78%).
O quadro brasileiro piorou também após a paralisação dos caminhoneiros. O mercado teme o reflexo do movimento na produção e na inflação -o IPCA de maio será divulgado nesta sexta (8), e o mercado vê uma taxa de 0,29%-, bem como o impacto que as medidas do governo para subsidiar o diesel podem ter nas contas públicas.
Entenda o que é SWAP
O swap (“troca”, em inglês) é uma operação para liquidação em data futura que promove a troca de taxas ou rentabilidade de ativos financeiros entre agentes econômicos.
Um swap tem sempre duas pontas, uma que aposta na variação dos juros (compradora) e outra que aposta na variação do dólar (vendedora).
Normalmente, o Banco Central assume a ponta compradora e os investidores assumem a ponta vendedora.
No fim do prazo do contrato, o BC recebe a variação de juros (taxa Selic) durante o período em que vigorou o contrato e paga ao investidor a variação do dólar ocorrida no mesmo período, além de uma taxa de remuneração com base anual (“cupom cambial”).
Ou seja, quem vende esse contrato fica protegido caso a cotação do dólar aumente, mas tem de pagar a taxa Selic para o comprador, no caso o BC.
“É como se o Banco Central dissesse que vai fazer uma operação e, no futuro, o investidor poderá comprar dólar a R$ 3,50. Se no futuro o dólar estiver mais baixo, o BC ganha, porque continua recebendo os R$ 3,50. Se o dólar sobe, no entanto, o banco perde”, explica Sampaio.
O objetivo dessas operações é oferecer hedge cambial -proteção contra variações excessivas da moeda americana em relação ao real- e liquidez ao mercado de câmbio.
“Geralmente, quando o Banco Central faz essas operações, ele não está buscando ganhar, por isso, no final, ele costuma perder. O que ele quer mais é trazer equilíbrio para o mercado”, acrescenta Sampaio.
Estoque e reservas
Desde a última sexta (1º), o estoque de swaps em circulação no Brasil aumentou 13,5% e, desde o final de abril, 44,5%.
Em US$ 34,4 bilhões, no entanto, eles ainda são apenas um terço do que foram em seu pico, durante a crise política de 2015 e 2016 que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff.
O estoque de swap cambial encerrou 2017 com US$ 23,8 bilhões. Em 2016, era de US$ 26,6 bilhões, enquanto no final de 2015, de US$ 108,1 bilhões.
As reservas cambiais brasileiras seguem estáveis em quase US$ 382 bilhões e demonstram que o país tem folga se comparado a outros países emergentes que também passam por estresse cambial. Na Argentina, por exemplo, a reserva era de pouco mais de US$ 50 bilhões em abril.
“Estamos em condições melhores do que Argentina e Turquia, por exemplo, mas essa situação está se deteriorando. As últimas semanas mostram que talvez a gente esteja começando a entrar no mesmo grupo que eles”, diz Sampaio.
André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, observa que o Brasil pode estar sofrendo um ataque especulativo -quando um conjunto de investidores decide apostar na desvalorização da moeda de um país.
“Eles acreditam que o ativo tem que ir para um determinado patamar, o mercado força para isso. O governo pode jogar esse jogo de várias formas. Pode fazer os swaps e tentar dizer ‘calma’. Mas uma hora também o mercado vai perceber que o Brasil tem uma grande reserva de dólares e um superávit comercial grande, ou seja, a moeda não deve explodir”, diz Perfeito. (Folhapress)
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