23 de dezembro de 2024
Brasil

Discurso antipolítica de Bolsonaro emperra aprovação da reforma, diz Rodrigo Maia

Rodrigo Maia (dir) vê dificuldades no discurso de Bolsonaro (esq.) (Foto Antônio Cruz, Abr)
Rodrigo Maia (dir) vê dificuldades no discurso de Bolsonaro (esq.) (Foto Antônio Cruz, Abr)

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse nesta terça-feira (26) que um dos obstáculos para o presidente Jair Bolsonaro aprovar pautas como a reforma da Previdência é o seu discurso antipolítica. Segundo ele, se a votação da reforma da Previdência ocorresse hoje na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) o governo perderia.
“O problema é que o presidente está refém do discurso dele de campanha”, disse Maia em seminário do banco BTG Pactual, na capital paulista.
Para Maia é improdutivo o discurso de contrapor “nova política” e “velha política”, que contribui para uma erosão das relações com os congressistas.
“A questão é construir uma aliança. A gente não pode menosprezar a política, criminalizar a política em todos os momentos”, continuou.
Segundo Maia, até o início de junho ou primeira quinzena de julho, os parlamentares estarão prontos para votar a proposta, mas para isso é preciso uma boa articulação.
“Se a gente sabe que é um processo de construção porque pressa em instalar a comissão se vou ter isso organizado lá para segunda quinzena de março? Vamos dar tempo ao tempo para que as coisas se organizem e para que 15 dias não representem derrota da reforma da Previdência”, afirmou.
Segundo ele, o movimento de olhar uma coisa de longo prazo com uma ansiedade de curto prazo é coisa do mercado financeiro.
“Talvez a pressa possa derrotar a reforma, daí não tem dez anos de economia”, disse.
Segundo Maia, não é possível saber quantos votos o governo teria hoje para aprovar a reforma porque a sua base está em formação.
“Hoje eu digo que o governo tem o PSL na sua base e não tem mais partido algum”, afirmou. A articulação do governo precisa melhorar, disse.
Para Maia, não adianta querer colocar o DEM nessa base sem compreender que o partido sozinho não resolve o problema do governo -seria preciso trazer mais 10 ou 12 partidos para aprovar a Previdência.  
“Ir sozinho para a base do governo, como sugeriu o Caiado [Ronaldo Caiado, governador de Goiás], é uma precipitação, um erro de avaliação de como forma a base no parlamento brasileiro”, disse.  
Maia disse que atender a agenda das bancadas temáticas não significa que eles vão votar a reforma da Previdência e alertou que a nova formação da Câmara tem uma oposição mais forte ao governo do que a existente na gestão passada, de Temer. “O governo precisa olhar o Parlamento com um cuidado grande.”
COMUNICAÇÃO LENTA
O presidente da Câmara também fez críticas à comunicação do governo sobre a reforma, que ele considera estar lenta. “A comunicação precisa ser mais ágil”, afirmou. “Já está muito atrasado.”
“As redes sociais são muito rápidas. A contaminação é quase que instantânea. Eu vejo com muita preocupação esse erro […], não ter preparado as redes com essa guerrilha”, afirmou Maia.
Para ele, o risco é o de que Bolsonaro perca o controle da narrativa sobre a reforma e se repita a onda de rejeição que impediu Michel Temer (MDB) de aprovar sua reforma para o sistema de aposentadorias.
“O que vai mobilizar a sociedade, e a sociedade mobilizar os deputados, são as redes sociais. E, se o governo não for rápido, a gente acaba contaminando como acabou contaminada a reforma do Michel Temer.”
Ele acrescentou: “E nós temos a melhor estrutura de comunicação de WhatsApp, que é a estrutura do PSL do presidente Bolsonaro. A gente não pode perder a oportunidade de utilizá-la”.
MILITARES
Maia disse que a proposta de reforma dos militares vai ser encaminhada depois do Carnaval e que é importante aprovar pelo menos uma idade mínima para que eles não se aposentem tão jovens.
Do ponto de vista fiscal, disse ele, a proposta dos militares deve ter um efeito nulo porque virá acompanhada de uma reorganização salarial para as Forças Armadas.
“Também não acho que o general de quatro estrelas por tudo que passou e se preparou ganhar R$ 22 mil e o teto do serviço público ser R$ 39 mil (…) não me parece uma equação correta. Mas a gente sabe que não tem como fazer essa reorganização da noite para o dia senão quebra o Estado”.
Em relação ao serviço público, disse ele, dois temas vão resultar muita pressão: a idade mínima de aposentadoria para os servidores públicos que entraram antes de 2003 e a questão das alíquotas de contribuição progressivas, que já dizem ser inconstitucional.
“Mas é difícil alguém defender a alíquota de quem ganha lá embaixo ser igual a de quem ganha o topo”, disse.


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