23 de dezembro de 2024
Brasil

Diretor do Museu Nacional diz que em três anos visitantes podem voltar

Incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o mais antigo do Brasil (Foto: Vítor Abdala/Agência Brasil)
Incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o mais antigo do Brasil (Foto: Vítor Abdala/Agência Brasil)

Um mês após o incêndio que atingiu o Museu Nacional, na zona norte do Rio, o diretor da instituição, Alexander Kellner, disse estar “extremamente confiante” com o que viu ao entrar na área afetada pelo fogo logo após a tragédia.

“Não sou um cara de natureza otimista nem pessimista, mas estou extremamente confiante com o que eu vi. Porque teve parte que colapsou, não queimou, então aquilo que ficou embaixo temos chance de preservar”, disse o paleontólogo nesta terça (2) em entrevista em frente ao museu. “Teve outra área que queimou tudo, ali a chance de eu conseguir resgatar alguma coisa é menor.”

Os trabalhos de resgate do acervo ainda não começaram, por questões de segurança. Desde o dia 21 de setembro, uma empresa contratada pela UFRJ (Universidade Federal do RJ), que gere o museu, vem realizando obras para estabilizar a estrutura do prédio.

O palácio de 200 anos está rodeado por tapumes, e a entrada está sendo controlada. Cerca de 25 funcionários trabalham ali dentro diariamente. O processo vai incluir, além da estabilização, a colocação de uma cobertura provisória sobre o antigo palácio, onde ficavam as grandes exposições do museu e muito de seu acervo.

Todo esse trabalho deve durar até seis meses e, conforme cada área do prédio for considerada segura, começarão os trabalhos de resgate. “Vamos entrar à medida em que eles forem escorando e essas áreas forem sendo liberadas. A Luzia [crânio humano mais antigo do Brasil] não está nesse primeiro caminho”, afirmou Kellner, questionado se algum setor seria priorizado.

Para essa fase, estão sendo usados R$ 8,9 milhões liberados emergencialmente pelo Ministério da Educação, que estão sendo empregados também no isolamento da área e na instalação de contêineres para abrigar os pesquisadores que perderam seus locais de trabalho com o desastre.

Depois disso, o diretor do museu disse estar tentando conseguir um valor de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões, que o Congresso Nacional precisaria incluir no Orçamento do ano que vem, para reconstruir a infraestrutura básica do edifício, com paredes e teto definitivo.

“Se nós conseguirmos essa dotação orçamentária e ela não for contingenciada, eu acredito que em três anos já vamos ter alguma coisa bacana [e as pessoas poderão voltar a visitar o museu]”, calculou ele. Uma outra verba de R$ 5 milhões, já garantida pelo Ministério da Educação, será usada depois para formular um projeto de redefinição das áreas internas do prédio.

“Não foi todo o acervo que se perdeu, felizmente, porque já havia uma programação do museu de sair do palácio”, frisou. “A gente tem muito acervo ainda, e esse acervo dá um museu de história natural. Não tenho múmia, mas estamos conversando com outras instituições, por exemplo, sobre empréstimos a longo prazo.”

Uma das prioridades agora é voltar a atender as crianças -segundo ele, cerca de 20 mil alunos de 600 escolas visitavam o local anualmente. O Museu Nacional está fazendo uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar R$ 50 mil e permitir que funcionários possam visitar colégios levando itens do acervo.

Em um segundo momento, ainda com essa verba, a instituição quer criar um roteiro de visitação focada em botânica e zoologia, usando os jardins históricos do Horto Botânico do museu e reformando um pequeno edifício que existe ali. “Será para alunos, não será o grande público nesse primeiro momento”, disse o diretor.

Nesta terça, Kellner também criticou uma obra da Prefeitura do Rio que está sendo feita para desviar um rio na região, o rio Joana, que segundo ele pode comprometer a segurança de funcionários que trabalham no reforço do museu.

“Toda vez que eles dinamitam dá para sentir o tremor. Além do prédio, pode prejudicar a segurança das pessoas”, afirmou. A obra faz parte do programa de controle de enchentes da Grande Tijuca, na zona norte da capital fluminense.

Ele diz que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) prometeu paralisar as detonações e chegou a fazer isso a pedido do museu, mas voltou a realizá-las dois dias atrás. A Seconserma (Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente) ainda não se manifestou.

Leia mais:


Leia mais sobre: / Brasil