José Dirceu quase não dormiu. Preferiu passar a primeira madrugada fora da cadeia conversando com dois de seus filhos, Zeca e Joana, no apartamento dela, em São Paulo.
Descansou apenas por duas horas, das 5h às 7h, quando acordou para tomar café com familiares e amigos nesta quinta-feira (4).
Bem-humorado, disse saber que sua liberdade é “provisória” mas que vai aproveitar os dias fora do Complexo Médico Penal, no Paraná, para “comer o que quiser”, segundo pessoas que estiveram com ele.
Sentado à mesa com os filhos, esbaldou-se com frutas, café, pão, queijo e presunto antes de entrar no carro com Sandrão, seu motorista na viagem de cerca de mil quilômetros até Brasília, iniciada no fim da manhã desta quinta.
Responsável pela condenação de Dirceu a 32 anos de prisão sob acusação de receber R$ 4,9 milhões em vantagens indevidas, o juiz Sergio Moro havia determinado que o petista passasse o tempo em liberdade na cidade de Vinhedo (SP), onde residia antes de ser preso, mas reviu a decisão após pedido da defesa.
A mulher de Dirceu, Simone, e sua filha mais nova, Antonia, de 5 anos, vivem na capital federal.
Leitor e escritor contumaz na cadeia, o ex-ministro do governo Lula preferiu falar -e muito- desde quando deixou a cela de 12 metros quadrados em que passou o último ano e nove meses. Recebeu ligações de dezenas de dirigentes e parlamentares petistas, disse que quer aproveitar o tempo com a família e amigos e que vai participar de “tudo o que for possível”.
Fez uma ligação, em especial, para o ex-presidente do PT José Genoino, ainda na noite de quarta. Genoino estava comemorando 71 anos. Ambos foram condenados e presos pelo escândalo do mensalão, mas Genoino teve sua pena extinta em 2015.
Dirceu não perdeu o traquejo político. Quem conversou com ele até agora disse que seu mantra é que o PT precisa “se preparar para uma situação de conflito e guerra contra a direita” e construir uma “nova estratégia” para enfrentar o cenário político, marcado, segundo ele, pela polarização.
Insiste na “guinada à esquerda” que precisa ser dada pelo partido e diz que é preciso construir uma nova política de alianças para voltar a governar o país.
Sobre a provável candidatura de Lula, Dirceu disse que, caso o ex-presidente não fique inelegível e consiga concorrer à Presidência da República em 2018, terá que agir de forma diferente.
Para o ex-ministro, Lula precisa expressar um programa “verdadeiramente de esquerda”, com reformas estruturantes e base na mobilização social.
Rota
Dirceu responde a três ações na Lava Jato e já foi condenado em duas delas. Na terça-feira (2), quando teve um habeas corpus (decisão provisória) concedido pela 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), foi denunciado novamente por ter recebido R$ 2,4 milhões, numa medida apressada pelo Ministério Público Federal a fim de pressionar o Supremo, o que não deu certo.
Um dia depois, Dirceu deixou a Justiça Federal do Paraná com a tornozeleira eletrônica, determinação de Moro, e seguiu para a casa do advogado Daniel Godoy, em Curitiba. Estava acompanhado de Roberto Podval, responsável pela sua defesa, Camillo Filho e Marcelo Muzeka, que faziam visitas semanais ao petista na prisão.
Comeram pinhão enquanto aguardaram cerca de duas horas para deixar a capital paranaense, de carro, rumo a São Paulo, para evitar horários de trânsito intenso.
Podval dirigiu a maior parte do tempo e, por volta das 2h da madrugada, chegaram à capital paulista.
Dirceu não poderá sair do Distrito Federal, mas não precisa ficar necessariamente dentro de casa. Além disso, não poderá conversar com ninguém que seja investigado em um de seus processos. (Folhapress)
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