O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, disseram ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sabia da existência do caixa dois na campanha presidencial de 2014.
A afirmação já havia sido feita em depoimento para o juiz Sergio Moro, em Curitiba (PR), na semana passada.
Segundo o casal, a petista os recebeu em duas ocasiões: a primeira, em maio de 2014, e a segunda no final do mesmo ano. No entendimento deles, estava claro que o assunto tratado era o pagamento não contabilizado da campanha daquele ano.
No entanto, ambos afirmam que a expressão “caixa dois” não foi utilizada em nenhum momento. Eles disseram que o termo era proibido.
Segundo relatos de pessoas presentes ao depoimento prestado nesta segunda (24), em Salvador, as perguntas do ministro Herman Benjamin, relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, indicam que a sua compreensão é que a ex-presidente só teve conhecimento dos pagamentos ilícitos após a vitória na eleição.
Benjamin questionou quais fatos concretos levavam o casal a achar que a petista sabia. A resposta de Mônica Moura foi que, na segunda conversa, no final de 2014, no Palácio do Alvorada, Dilma perguntou abertamente sobre a conta que havia no exterior indicada para receber valores por fora da campanha.
A mulher do marqueteiro contou que, para essa reunião, voltou às pressas de Nova York (EUA) após uma ligação do assessor Giles Azevedo, que trabalhava para a então presidente, pedindo uma reunião urgente.
Segundo João Santana e Mônica Moura, Dilma mencionou diretamente a Operação Lava Jato no encontro, perguntando se a offshore que receberia os repasses estava protegida em relação às investigações.
Naquele momento, o casal havia recebido apenas a parte oficial, de R$ 70 milhões. Havia ainda dívida de R$ 35 milhões, que, pelo combinado, seriam pagos por caixa dois -ao todo, o contrato foi de R$ 105 milhões.
Na primeira conversa com a ex-presidente, de maio, só estava presente João Santana. De acordo com ele, Dilma disse que ela mesma cuidaria da campanha de 2014, diferentemente do que havia acontecido em 2010, e por isso não havia motivo para se preocupar com atrasos de pagamentos, como já tinha acontecido.
Os dois disseram a Benjamin que não trataram com Michel Temer, candidato a vice, em nenhum momento sobre assuntos financeiros.
João Santana e sua mulher firmaram acordo de delação premiada, homologado no mês passado.
OUTRO LADO
A reportagem tentou contato com Flávio Caetano, advogado de Dilma Rousseff, mas não obteve resposta.
A ex-presidente sempre negou ter conhecimento de práticas ilegais durante ou depois da campanha.
O julgamento da ação que pede a cassação da chapa foi iniciado pelo TSE no começo de abril, mas foi paralisado para que a defesa dos investigados tivessem mais tempo para manifestações e também para que novas testemunhas fossem ouvidas.
A expectativa agora é que o ministro Herman Benjamin inicie o período para alegações finais e, depois, faça seu relatório sobre o caso.
Assim, o presidente do TSE, Gilmar Mendes, deve agendar a votação para maio.
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