Ipojuca (PE) – A presidente da República, Dilma Rousseff, participa nesta quinta-feira, 14, de cerimônia no estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE), para o lançamento do navio encomendado pela Petrobras André Rebouças, e do batismo do navio Marcílio Dias, ainda em fase de construção. Na plateia, estão centenas de funcionários, que relataram à reportagem, sem se identificarem, o clima de insegurança dentro do estaleiro.
Desde outubro do ano passado, 1,4 mil funcionários foram demitidos, por causa de atrasos no pagamento da Sete Brasil pela construção de sete sondas de perfuração para a Petrobras, que serão usadas em áreas de pré-sal. A informação é do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco.
O estaleiro – comandado pelas construtoras Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e investidores japoneses – entrou em crise desde que vieram à tona escândalos de corrupção envolvendo as construtoras, a Sete Brasil e a Petrobras.
No mês passado, o EAS enviou carta à Sete Brasil, responsável pela contratação das sondas, comunicando o cancelamento do acordo. A empresa, no entanto, não reconheceu a comunicação e argumentou que não há suporte legal por parte do EAS para justificar a suspensão do contrato. Procurada, por meio da assessoria de imprensa, a EAS, onde acontece o evento de lançamento de navio, não se pronunciou sobre o caso.
Também a Petrobras conseguiu na Justiça se desvincular da Sete Brasil, que passa por uma crise financeira desde que o antigo diretor Pedro Barusco, delator na Operação Lava Jato da Polícia Federal, revelou a existência de um esquema de corrupção envolvendo a empresa comandada pelos bancos Bradesco, BTG e Santander, além de fundos de pensão.
Hoje, Dilma vai prestigiar o lançamento de um navio do tipo suezmax, voltado ao transporte de óleo cru, que partirá para abastecimento em Salvador, na Bahia, e, em seguida, para o primeiro carregamento na Bacia de Campos. Esse é o primeiro evento do tipo que a presidente participa desde que a Petrobras divulgou o balanço e virou “uma página” em sua história recente de crise, por conta dos episódios de desvios de recurso.
Com capacidade de 1 milhão de barris por dia, quase a metade da produção nacional de petróleo, o navio André Rebouças tem as mesmas características de outro lançado em dezembro, o Henrique Dias, também no EAS, sem que houvesse qualquer cerimônia para isso. Além da presidente Dilma, participam do evento desta quinta o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, o presidente da subsidiária de logística da estatal (Transpetro), Cláudio Campos, e executivos da EAS, cujos nomes não foram revelados pela assessoria de imprensa.
O navio petroleiro André Rebouças, que parte hoje em Pernambuco, é o nono a ficar pronto dentro Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef). Ao EAS foram encomendados 22 dos 49 navios contratados no total. Com área de 1,5 milhão de metros quadrados e em operação desde 2008, dentro do projeto do governo de incentivo ao setor naval para o desenvolvimento da economia, a partir de contratações feitas pela Petrobras, o Atlântico Sul já entregou quatro embarcações à Transpetro – os petroleiros João Cândido, Zumbi dos Palmares, Dragão do Mar e Henrique Dias.
Existem ainda outros 12 contratados, mas há um suspense se todos serão levados adiante ou se entrarão no programa de desinvestimento da Petrobras, já que a ordem da empresa é desacelerar projetos.
(Estadão Conteúdo)
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