Em entrevista ao Diário de Goiás, o perito criminal de Classe Especial, Ricardo Matos, superintendente da Polícia Científica de Goiás, destaca a importância da profissão que é celebrada em 4 de dezembro. O Dia do Perito Criminal é uma data que celebra a relevância desses profissionais na busca pela verdade nos processos investigativos. Representando os demais profissionais de renome no Estado, Matos reforça que a atuação dos peritos vai muito além da simples análise técnica, sendo fundamental para garantir que a justiça seja feita.
Ricardo destaca que os 414 peritos criminais ativos em Goiás desempenham um papel crucial na investigação policial. Eles analisam vestígios em locais de crime, realizam exames laboratoriais e produzem laudos que auxiliam delegados em investigações. A atuação abrange áreas como DNA, balística, informática, crimes ambientais e falsificação de documentos. “A perícia é essencial para determinar a autoria e esclarecer os fatos”, ressalta Ricardo.
A principal responsabilidade de um perito é entregar à polícia um laudo detalhado que auxilie na solução do caso. Esses laudos muitas vezes são determinantes para a apuração da autoria do crime. “A impressão digital, o DNA, a análise de voz em gravações de interceptação telefônica, são exemplos de vestígios que podem levar à identificação do criminoso”, diz Ricardo Matos. Essas evidências desempenham papel crucial na elucidação de crimes, seja para confirmar ou refutar suspeitas.
Além disso, Matos destaca a relevância das análises de voz, que são frequentemente realizadas em casos de interceptações telefônicas ou áudios de WhatsApp. “A análise de voz ajuda a confirmar se determinado indivíduo realmente está presente naquela gravação, o que pode ser decisivo para a investigação”, explica.
Trabalho em equipe, uma necessidade da perícia
A perícia criminal é, por natureza, um trabalho colaborativo. A comunicação entre diversas unidades especializadas é fundamental para a eficiência e agilidade na investigação de crimes. Ricardo Matos, perito criminal, destaca que o trabalho não é solitário, e sim um esforço conjunto que envolve especialistas em áreas como DNA, balística, impressões digitais e medicina legal, além da colaboração estreita com a Polícia Civil. “É um trabalho em grupo para desvendar os casos com precisão e agilidade”, afirma ele.
Na prática, a dinâmica de trabalho na Polícia Científica de Goiás exige a integração entre diversas áreas da perícia, como balística, informática forense e análise de DNA. Cada tipo de vestígio tem um especialista responsável pela sua análise, como amostras de DNA que seguem para o laboratório de DNA Florence ou provas de disparos de armas de fogo que são encaminhadas para o laboratório de balística. A coleta de impressões digitais também é direcionada para equipes especializadas, que fazem a comparação com bancos de dados.
A colaboração entre diferentes unidades da Polícia Científica é essencial para garantir que as investigações sejam baseadas em evidências científicas robustas, como DNA, balística e impressões digitais. Além disso, a interação com médicos legistas e a Polícia Civil é crucial para o avanço da investigação. Ricardo Matos reforça que a Polícia Civil, sendo a responsável por conduzir as investigações, tem um papel central nesse processo: “É lá que se conduz a investigação policial”. A estreita relação entre peritos e investigadores permite a análise das evidências e a formulação de teorias sobre o ocorrido.
A cooperação com outras forças de segurança, como a Polícia Militar e a Polícia Penal, também é imprescindível. Embora as funções dessas corporações sejam distintas, a troca de informações e a colaboração mútua garantem o sucesso das investigações. “Em um cenário de crime, todos têm uma função essencial, seja na coleta de provas, no acompanhamento da investigação ou na captura de suspeitos”, conclui Matos.
Casos que marcam a carreira e a vida
Perito criminal com 20 anos de carreira, Matos lembra de um caso que marcou profundamente sua trajetória. Em 2012, ele foi designado para investigar a queda de uma aeronave da Polícia Civil de Goiás, que vitimou cinco delegados e dois peritos criminais, incluindo um de seus próprios colegas de turma, Fabiano de Paula Silva. O caso aconteceu no dia 8 de maio e, além da tragédia humana, envolvia uma situação complexa, pois o avião estava retornando de uma operação policial e carregava um suspeito. A investigação se concentrava em determinar se houve algum crime relacionado à queda do avião.
“Essa perícia foi, de longe, a mais pesada que a gente teve na carreira”, afirma Matos, ao relembrar da intensidade emocional do caso. O impacto não foi apenas devido à gravidade do acidente, mas também pela perda de colegas de profissão. A tragédia teve uma carga emocional ainda mais profunda pela proximidade pessoal e profissional dos envolvidos. “Foi muito pesado”, completa, destacando o lado humano da profissão, que muitas vezes é colocado à prova em situações extremas como essa.
A investigação foi conduzida, além da Polícia Civil, pela Força Aérea, que também assumiu parte do trabalho de apuração. Mesmo diante de toda a pressão, Ricardo Matos e sua equipe seguiram com rigor e precisão, cientes da importância de suas conclusões para esclarecer as circunstâncias da tragédia e para apoiar a justiça.
Cenário da perícia em Goiás
Ricardo Matos compartilha uma visão otimista sobre o futuro da perícia criminal em Goiás, destacando o investimento crescente em tecnologia e infraestrutura. “A polícia científica vem crescendo muito e vai crescer ainda mais”, afirma, apontando a recente implementação de inovações, como o Instituto Médico Legal Veterinário, voltado para crimes ambientais envolvendo animais.
Além disso, o Estado tem investido em equipamentos de ponta, como um aparelho de tomografia e melhorias significativas nas unidades de perícia, incluindo um novo túnel de tiros para testes balísticos, único no país, além de reformas em várias unidades, como a de Morrinhos e Campos Belos.
O avanço na área de DNA também é notável, com Goiás se destacando em avaliações do Ministério da Justiça, ficando em primeiro lugar em termos de eficiência. “Nosso Banco de Perfis Genéticos é um dos melhores do país”, afirma Matos, ressaltando os bons resultados obtidos, especialmente considerando as diferenças populacionais entre Goiás e outros estados.
Ricardo também enfatiza a importância da capacitação contínua dos profissionais. “Estamos formando novos peritos e auxiliares de autópsia, que em breve estarão atuando diretamente nas ruas”, destaca. Ele acredita que essas melhorias, aliadas ao empenho do governo em promover uma segurança pública mais eficaz, garantirão uma atuação mais eficiente da perícia criminal no futuro.
Lições de um perito criminal
Ricardo Matos compartilhou valiosas lições que acumulou ao longo de sua carreira como perito criminal, destacando a importância de sempre focar no cidadão. “A vítima do crime tem que ter o seu familiar ali, quando a vítima, propriamente dita, já está ausente, tem que ter a resposta do Estado”, afirma ele, ressaltando que o trabalho da polícia científica deve ser ágil e eficaz para garantir que a justiça seja feita. Ele orgulha-se de Goiás ser um estado com alto índice de elucidação de homicídios, uma conquista fruto do esforço das polícias civil e científica.
Outra lição importante que Ricardo destaca é a necessidade de agir rapidamente, pois “a verdade que tarda, ela falha”, o que, segundo ele, pode resultar em impunidade. Para ele, a polícia científica tem um papel crucial em entregar resultados ágeis para garantir justiça.
Ricardo também compartilha um conselho para aqueles que desejam seguir a carreira de perito criminal: “Pegar firme nos estudos”. Ele explica que o concurso público para a polícia científica é realizado com frequência e que há muitas oportunidades para profissionais de diversas áreas, como engenheiros, biomédicos, farmacêuticos e especialistas em informática. “Não desistir, que uma hora dá certo”, conclui, motivando os aspirantes a perseverarem em seus objetivos profissionais.
Mais sobre Ricardo Matos
Com 20 anos de experiência na área, Ricardo Matos é um nome de destaque na Polícia Científica de Goiás. Formado em Biomedicina e Direito, Ricardo começou sua carreira na perícia criminal em 2004, atuando em locais de crime na região sul do estado. Em 2017, assumiu a Coordenadoria de Ensino e, em 2023, tornou-se Superintendente da Polícia Científica. Além de suas funções administrativas e técnicas, Ricardo ministra cursos em várias instituições de segurança pública, destacando sua dedicação ao desenvolvimento do setor.
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