09 de agosto de 2024
Política

DEU NO GLOBO / CPI do Cachoeira: base do governo faz novo esforço para indiciar Perillo

BRASÍLIA – O comando governista da CPI do Cachoeira usa os últimos recursos para garantir a aprovação do pedido de indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e de auxiliares diretos do tucano. O relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), está decidido a pedir no relatório final o indiciamento de Perillo e de integrantes do primeiro escalão do governo goiano. Eles são suspeitos de favorecimento a Carlinhos Cachoeira, principalmente com nomeações de pessoas indicadas pelo bicheiro. Para isso, Odair vem se movimentando com o propósito de obter os dados das quebras dos sigilos telefônicos já aprovadas.

 

O petista quer saber para quem Perillo fez ligações e onde estavam os auxiliares do tucano no momento em que ligaram para membros da organização criminosa de Cachoeira. O detalhamento dos dados, com provas mais precisas, pode assegurar a aprovação do relatório final no plenário da CPI e complicar a vida do governador goiano. Até agora, a comissão recebeu apenas 10% dos dados de sigilo telefônico. O comando da CPI cogita adiar os trabalhos – cujo encerramento está previsto para 4 de novembro – por mais um ou dois meses, caso as operadoras de telefonia não encaminhem os relatórios em tempo hábil.

Para tucanos que integram a comissão, a ofensiva do relator petista contra Perillo é “uma clara reação” aos resultados do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). O esquema de compra de votos no Congresso durante o primeiro governo de Lula já resultou em diversas condenações. Depois de dizer que comunicou a Lula, em 2005, a existência do mensalão, o governador goiano passou a ser considerado um dos principais inimigos políticos do ex-presidente.

A CPI está suspensa desde o dia 4 e só será retomada em 9 de outubro, após o primeiro turno das eleições municipais. Neste período em que não há sessões no Congresso, Odair acionou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para que cobrasse das empresas de telefonia a remessa dos dados provenientes das quebras de sigilo telefônico, entre eles os de Perillo. A comissão ainda não recebeu um único dado das ligações feitas por nove pessoas investigadas, a maioria delas ligada ao governo de Goiás. Na terça-feira, 25, o relator se reuniu na sede da Anatel com representantes das operadoras e cobrou pessoalmente a remessa dos dados.

As informações que interessam ao relator, disposto a reproduzi-las no relatório final, são as ligações feitas a Perillo por Eliane Pinheiro, ex-chefe de gabinete do governador; Wladimir Garcez, ex-vereador do PSDB denunciado na Operação Monte Carlo; e Edivaldo Cardoso, que presidiu o Detran de Goiás por indicação de Cachoeira. As quebras dos sigilos telefônicos não revelam o conteúdo das ligações, mas indicam os interlocutores das ligações, a quantidade de chamadas e o lugar onde o investigado fez ou recebeu a ligação. Este último dado, por exemplo, pode revelar se Wladimir realmente esteve no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, no episódio de uma suposta entrega de dinheiro ao governador, como consta em diálogos telefônicos usados na Operação Monte Carlo.

Outros dados esperados são relacionados aos números de telefone anotados por Cachoeira em sua agenda pessoal como sendo de Perillo. Os números foram registrados na agenda do tablet usado pelo bicheiro. O equipamento foi apreendido e periciado pela Polícia Federal (PF). O comando da CPI quer descobrir ainda, com base nos sigilos telefônicos, os locais de onde Eliane e Edivaldo disparavam ligações para Cachoeira e para outros integrantes da organização criminosa. Perillo sempre negou ter recebido qualquer recado do bicheiro – ou ter repassado mensagens – por meio de seus dois auxiliares.

O GLOBO apurou que, além de Perillo, Eliane e Edivaldo, o relator deve pedir o indiciamento do secretário de Segurança Pública de Goiás, João Furtado Neto, do deputado federal Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO) e de integrantes do governo do Tocantins. Odair também deve reiterar pedido de afastamento do senador cassado Demóstenes Torres do cargo de procurador de Justiça em Goiás.

O depoimento de Lereia, amigo pessoal de Cachoeira e suspeito de ter usado o mandato em benefício do bicheiro, está agendado para 9 de outubro, quando a CPI será retomada. Se não houver prorrogação dos trabalhos, o relatório final será apresentado no fim de outubro, para ser votado no plenário da comissão até 4 de novembro.

– A CPI foi criada por ordem de Lula para atacar o governador de Goiás. Com o desgaste provocado pelo mensalão, o relator personificou toda a investigação em Perillo. A maioria dos integrantes, na verdade, quer investigar a Delta Construções – afirma o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Odair nega direcionamento na investigação e diz que está aprofundando a apuração sobre a Delta, inclusive em cooperação com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O relator afirma que não adianta o conteúdo do relatório final da CPI. Procurado pela reportagem, Perillo não quis fazer comentários, por se tratar de um “relator suspeito”.


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