08 de agosto de 2024
Política

Imagem e semelhança da política de resultados

Pesquisa Fortiori mostra que imagem do governo Marconi Perillo está melhorando. Tendência é que melhore mais. O que importa observar é o sentimento

 

Por Vassil Oliveira, pubicado no Tribuna do Planalto

A melhora na imagem do governador Mar­coni Perillo (PSDB) apontada pela pesquisa Fortiori – publicada pelo Diário da Manhã no início da se­mana passada – é apenas o pano de fundo de algo mais e­vidente. Marconi voltou a fazer aquilo que melhor sabe, e que mais o traduz: política.

Embora tente firmar a i­magem de administrador fora do comum, é como político que ele se diferencia. Enquanto es­teve nas cordas, bombardeado por denúncias e crises internas no governo, sofreu desgastes.

Viu seus índices de aprovação desmoronarem e sua perspectiva de poder ser reduzida à avaliação, feita principalmente por aliados, de que não teria condições de ser candidato à reeleição no ano que vem.

Como política é nuvem, o cenário hoje é outro. Por exemplo: uma candidatura sua no ano que vem é dada como certa, e inevitável.

O político Marconi está agindo em várias pontas. A intensificação das obras é apenas uma delas. Sua movimentação pelo interior tem muito de resultado administrativo, mas o que carrega com mais força é o candidato com domínio do Poder – do mandato, da caneta com tinta – e com poder de reação eleitoral.

Cada vez que ele mostra uma obra, comunica junto que está no controle da situação. Prefeitos, deputados, potenciais candidatos e candidatos a adversários, todos entendem a mensagem.

A notícia da reforma administrativa, com enxugamento da máquina e foco no técnico, é outra ponta de ação do governador. Nada de novo.

No início do atual governo, o discurso que agora é embalado como re­novador foi feito com igual vigor, para marcar contraponto à gestão passada. Quem não se lembra do anúncio da diminuição do número de comissionados?

E ela foi feita, de certa for­ma, acompanhada da criação de cargos de gerenciamento com salários altos, quase de secretários. Há menos comissionados hoje que há três, quatro anos?

A reforma dá palanque a Marconi Perillo para que alimente um discurso de gestão competente, no entanto é como oportunidade para reacomodar seus aliados e recuperar o controle de seu secretariado e demais nomeados que ela amplia horizontes.

O resultado político dessa engenharia é o grande ganho que ele caminha ter. Em poucos meses, contará um governo mais seu que o de hoje, com uma equipe mais motivada que a atual,  e um exército de candidatos esperando com chapéu na mão por um apoio e por uma ajuda, pelo amor de Deus!, na eleição.

Em suma, Marconi será o centro das atenções para sua base de sustentação, com força para negociar uma chapa e uma estrutura partidária consistentes para sua reeleição. Ou, se for o caso, para colocar de pé a candidatura de um novo nome ao governo.

Unir sua base de apoio funciona para o tucano ter um quar­tel-general ajustado e sob controle para se defender e atacar. Ninguém é general de uma vontade só, a sua. E este é o pon­to: para quem chegou perto de ficar só, voltar à liderança do grupo é a primeira e maior vitória.

Mas o governador age em pontas além das que lhe estão próximas. Ele joga com a oposição. É candidato negando que o seja; é só política afir­man­do ou­tra coisa; é nada mais que pragmatismo en­quanto os ad­ver­sários choram e atiram a esmo.

As críticas a ele normalmente reforçam sua maior habilidade: a de jogador político. Dizer que Marconi usa a máquina para fazer campanha disfarçada, ou que gasta em propaganda mais dinheiro que qualquer outro governante, não esconde a realidade: ele faz política como ela é.

Vácuo de oposição

O vácuo oposicionista é um aliado oportuno para que Marconi Perillo recupere sua imagem política. Ele está em ação, com agenda intensa, enquanto os adversários lamentam ou mantém-se presos ao discurso de terra arrasada, no Estado e no governo.

O ato reverso: se não conseguiram destruí-lo no meio do furacão do Caso Cachoei­ra, por que vão abalá-lo agora apenas repisando este fato, este escândalo?

O ataque à superfície não atinge o centro da questão. Como pretendem atingi-lo na imagem, se é exatamente esta a que está em evolução, e esta a mais fácil (ou menos difícil) de ser polida?

E há que se considerar que, na visão de que um escândalo abafa outro, talvez seja mais do que sorte dele outros tantos surgirem, como as recentes Operações Miquéias e Tarja Preta, que envolvem nomes da situação e da oposição.

Já vai longe o tempo em que o tucano era o centro das câmeras. Em que ele gastava horas e dias em explicações e contra-ataques, como se em areia movediça. Em vez disso, a pauta que puxa e dita neste momento é positiva; a negativa, mudou de mãos.

Em 1998, um refrão da mú­­sica de campanha de Mar­coni Perillo contra Iris Rezende (PMDB) dizia algo como “o povo dá o poder quando quer, mas também tira quando (se) cansa”. A campanha foi um marco, uma virada política no Estado.

As oposições, enfim unidas e lideradas pelo tucano, chegaram ao poder carregadas por algo maior que o retrato de um político visto nas paredes e nas pesquisas de opinião.

Na época, Iris era a imagem e semelhança de um líder competente, estabelecido, imbatível. Era mais que tudo líder disparado em todos os levantamentos dos institutos de pesquisa. Não adiantou.

O sentimento da população traduzido pela música e expressado na ‘panelinha’ peemedebista foi maior que as pesquisas.

Quem derrotou Iris não foi Marconi. Foi o povo. Algo aparentemente óbvio, mas nem tanto se lembrarmos que muitas vezes quer-se personalizar uma vitória, quando na verdade ela é a expressão de algo muito além de uma camisa azul ou xadrez.

O retrato de hoje mostrado pela pesquisa Fortiori é apenas uma prévia do que certamente será o retrato de Marconi Perillo e sua administração no ano que vem. Um retrato em que estará provavelmente mais ‘bonito’ e fortalecido.

Quer dizer que a tendência é que sua imagem continue a me­lhorar. E que o cenário eleitoral acompanhe essa metamorfose, adaptando-se a seu favor.

Nesse caso, o que pode derrotá-lo não é o inimigo. É o sentimento. O mesmo sentimento que, por outro lado, poderá reelegê-lo inclusive no primeiro turno. Aí é que se dará o embate inevitável.

Marconi chama atenção à sua imagem para proteger-se do sentimento do povo. Isso é fazer política.


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