04 de dezembro de 2025
Segurança Viária • atualizado em 25/11/2025 às 19:39

Detran-GO e UFG iniciam implantação de sistema inédito para unificar estatísticas de trânsito em Goiás

Projeto pioneiro vai unificar dados de acidentes em Goiás, melhorar a precisão das estatísticas e orientar políticas públicas de prevenção
Delegado Waldir apresenta proposta do SIGO durante reunião com instituições de trânsito e segurança em Goiânia. Foto: Divulgação,
Delegado Waldir apresenta proposta do SIGO durante reunião com instituições de trânsito e segurança em Goiânia. Foto: Divulgação,

O Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) e a Universidade Federal de Goiás (UFG) anunciaram nesta terça-feira (25) a implantação do Sistema Integrado de Ocorrências de Trânsito de Goiás (SIGO), iniciativa que vai unificar, pela primeira vez, todos os bancos de dados relacionados a acidentes e sinistros viários no estado. O objetivo é eliminar informações duplicadas, dar mais precisão aos indicadores e subsidiar políticas públicas capazes de reduzir mortes e feridos no trânsito.

A reunião de pactuação ocorreu na sede do Detran-GO, com a presença de representantes de instituições de segurança pública, saúde, engenharia de trânsito, atendimento pré-hospitalar e perícia. Segundo os organizadores, o SIGO nasce como um modelo pioneiro no país, com potencial para servir de referência nacional.

“Informações difusas geram fake news”, diz presidente do Detran-GO

Ao apresentar o projeto, o presidente do Detran-GO, Delegado Waldir, afirmou que a iniciativa responde a um problema histórico: a fragmentação das informações. Ele destacou que, hoje, diferentes agentes produzem dados sobre acidentes forças de segurança, serviços de saúde, órgãos municipais, entidades federais e até empresas privadas, mas sem integração entre si.

“O que a gente enfrenta ao longo do tempo são informações difusas. Temos dados da iniciativa privada, da Secretaria de Saúde, das forças de segurança, do governo federal, da PRF. Isso é complicado para o gestor que trabalha mobilidade, engenharia de trânsito e proteção à vida e também para o jornalista, que lida com isso todos os dias”, afirmou.

Waldir relembrou casos de distorções publicadas na imprensa nacional justamente pela ausência de dados integrados. “Ano passado, um jornal colocou Goiás como o estado com maior número de atropelamentos. Impossível. Era uma informação falsa que virou fake news por falta de uma base concreta”, disse.

Segundo o presidente, o SIGO criará “um banco de dados confiável, acessível a todos e capaz de orientar políticas públicas eficazes na prevenção de sinistros”.

Ele também informou que a parceria com a UFG é decisiva para criar um modelo metodológico sólido. “Não tem como fazer isso sem a Universidade Federal, sem a doutora Poliana e sem todos os órgãos municipais e estaduais envolvidos nessa discussão acadêmica”, declarou.

Unificação permitirá respostas mais objetivas à sociedade

Waldir explicou que o sistema deverá resolver problemas recorrentes enfrentados tanto pelos órgãos públicos quanto pela imprensa. “Em alguns momentos, vocês fazem questionamentos e não respondemos com precisão. Isso é enganar o cidadão. E nós não queremos mais isso”, completou.

Ao citar o aumento de 170 mil veículos na frota goiana somente neste ano, ele ressaltou que decisões sobre mobilidade dependem de dados confiáveis. “Com que dados os prefeitos vão enfrentar esse aumento? Com que indicadores os gestores vão trabalhar? O SIGO é a resposta acadêmica e técnica que a sociedade merece”, afirmou.

“Sem dados, agimos às cegas”, diz a coordenadora do projeto

A coordenadora do SIGO, professora Poliana Leite, da UFG, reforçou a urgência do projeto diante da quantidade de mortes evitáveis no trânsito. “Sem dados, ficamos cegos. Não conseguimos criar políticas públicas assertivas porque não sabemos onde o acidente aconteceu, qual a gravidade, nem os fatores de risco envolvidos”, explicou.

Poliana destacou que o projeto integra instituições essenciais, como Samu, Corpo de Bombeiros, polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal, serviços de saúde estadual e municipal, perícia criminal e órgãos de trânsito. “É um projeto construído a várias mãos. Não existe a menor condição de ser feito só dentro da UFG ou só dentro do Detran. Precisamos de todas as instituições”, disse.

Caminho do dado

A construção do SIGO terá duração de 18 meses, período considerado necessário para analisar e integrar todas as etapas de produção das informações, desde o preenchimento inicial dos formulários no local dos acidentes até o processamento final dos dados.

“O dado começa no local do acidente: no preenchimento feito pelo policial, pelo agente do Samu ou pelo bombeiro. Precisamos entender todo esse caminho, diagnosticar falhas e resolver problemas como o sub-registro”, afirmou Poliana.

Ela adiantou que o projeto utilizará ferramentas de inteligência artificial para qualificar as informações. “Vamos aplicar IA para identificar inconsistências e aumentar a confiabilidade dos registros”, completou.

De acordo com ela, a primeira etapa, iniciada no mês passado, consiste na adesão das instituições e na nomeação de representantes técnicos para mapear as bases de dados existentes. “Algumas instituições nem possuem base estruturada. Vamos criar sistemas e metodologias para que elas consigam abastecer o banco único”, afirmou.

A professora destacou ainda que o projeto terá integração com iniciativas nacionais. “O SIGO é pioneiro. Não existe nenhum estado brasileiro com base de dados unificada. A ideia é que a nossa plataforma já converse com o projeto nacional. Se der certo, serviremos de modelo para o país”, explicou.

Acesso público e acompanhamento

Segundo os coordenadores, a sociedade, jornalistas, pesquisadores e gestores poderão acompanhar a construção do SIGO ao longo do processo. “Qualquer cidadão, parlamentar ou instituição pode procurar o Detran ou a UFG para participar das discussões e acompanhar o projeto”, disse Waldir.


Leia mais sobre: / / / / Cidades / Notícias do Estado