Incertezas que rondam as eleições deste ano, o “desencanto com a classe política” e dúvidas sobre a experiência dos possíveis candidatos no Brasil são o “fator-chave” por trás da decisão da agência de avaliação de risco S&P Global Ratings de rebaixar a nota de crédito do país.
O Brasil caiu de “BB” para “BB-“, três pontos abaixo do grau de investimento -categoria de países que são bons pagadores.
“O cenário parece mais incerto como efeito colateral das investigações de corrupção”, diz Lisa Schineller, diretora-executiva de rating soberano da S&P. “Isso vai gerar uma corrida eleitoral mais aberta, e alguém que acaba de entrar no governo talvez encontre dificuldades de formar bases no Congresso para avançar reformas fiscais. Essa é a questão mais urgente e será difícil avançar.”
Schineller insistiu na necessidade de o país implementar “medidas corretivas estruturais na área fiscal”, lembrando a reforma da Previdência parada no Congresso, o aumento da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), e dúvidas sobre a “regra de ouro”, o mecanismo que impede a União de emitir dívida em volume superior aos investimentos.
Na visão da agência, há grande incerteza sobre que rumo a questão da “regra de ouro” pode tomar no futuro, lembrando que será cada vez mais difícil não violar essa meta diante de um ritmo mais lento de reformas políticas.
“Isso se reflete na nossa visão. Apesar de vários avanços do governo Temer, o Brasil tem progredido menos do que o esperado em questões fiscais”, disse. “Dívidas já são muito altas e devem continuar a aumentar e houve muitos atrasos em aprovar medidas corretivas que vemos como essenciais.”
A REFORMA
Entre elas está a reforma da Previdência. Schineller disse ter dúvidas sobre o avanço das mudanças nessa área num ano eleitoral, mas lembrou que “a mera aprovação de uma reforma não vai reverter o curso” de revisão para baixo da nota do país.
“Notamos uma resistência mais profunda a essa mudança”, diz a analista. “E ficamos ainda com a dúvida sobre que tipo de reforma pode surgir. Os atrasos constantes nessa negociação destacam esse desgaste que observamos.”
Mesmo depois da eleição presidencial, e Schineller frisou que a S&P não leva em conta promessas de campanha, e sim indícios reais de mudanças na legislação, a visão da agência em relação ao Brasil será a de um país com dificuldades para realizar grandes reformas, embora esteja em situação melhor que a de seus vizinhos na região.
O crescimento do país que a agência classifica como estável, no entanto, não dá sinais de que vai tomar impulso. De acordo com a S&P, o ritmo da retomada econômica no país ainda será mais devagar do que outros países em crise na América Latina.
Em contraponto, Schineller destacou que o Banco Central está “recuperando sua credibilidade” e que o ciclo de rebaixamento da nota poderia ser revertido caso o próximo presidente consiga dar sinais de habilidade em aprovar reformas com total apoio do Congresso e dar impulso ao crescimento da economia. (Folhapress)
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