A queda da taxa de desocupação vem ocorrendo de forma consistente e atinge todos os segmentos da população, mas tem sido mais intensa entre trabalhadores com ensino fundamental e médio, jovens e mulheres, aponta Carta de Conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre o mercado de trabalho brasileiro divulgada nesta terça-feira (3).
Segundo o estudo, a taxa de desocupação entre os trabalhadores com ensino médio incompleto caiu 3,8 pontos percentuais na comparação entre o primeiro e o último trimestre de 2017 -de 24,2% para 20,4%. Para quem tinha ensino superior, por exemplo, o recuou foi menor, de 9,2% para 7,8%.
Na mesma base de comparação, a queda entre os jovens de 18 a 24 anos foi de 3,5 pontos percentuais, de 28,8% para 25,3%, e entre as mulheres, de 2,6 pontos percentuais, a 13,2% -a taxa dos homens passou de 12,2% para 10,5%.
O desemprego no país voltou a crescer e registrou 12,6% no trimestre entre dezembro e fevereiro, segundo dados do IBGE divulgados na semana passada.
“A alta da taxa de desocupação nos trimestres móveis encerrados em janeiro e fevereiro é decorrente da sazonalidade característica do início do ano. Na comparação com 2017, os dados mais recentes mostram uma recuperação do mercado de trabalho, conjugando expansão de ocupação e de rendimentos”, afirma Maria Andréia Lameiras, pesquisadora do Ipea e uma das autoras do estudo.
O documento diz que a recuperação do mercado de trabalho ao longo dos últimos meses, apesar de esperada, vem surpreendendo positivamente, com o registro também avanço nos rendimentos.
“Em que pese alguma desaceleração no seu ritmo de crescimento, quando comparado a 2017, o rendimento médio real habitualmente recebido registrou alta de 1,8%, no último trimestre encerrado em fevereiro de 2018”, aponta o estudo, destacando altas no setor privado com carteira (2,6%) e por conta própria (1,4%).
Embora parte desse avanço dos salários reais possa refletir o forte recuo da taxa de inflação em 2017, a expansão dos rendimentos ao longo dos últimos meses surpreende porque ainda há um excesso de mão de obra disponível na economia, afirma o documento.
O estudo diz ainda que, embora o aumento da ocupação tenha se verificado, essencialmente, no mercado informal, a ocupação com carteira também mostra resultados favoráveis.
“Segundo o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), nos últimos meses, os saldos dessazonalizados têm sido positivos, algo que não se verificava desde o primeiro trimestre de 2014.”
O estudo aponta, porém, o alto grau de rotatividade dos segmentos sem carteira e por conta própria. Esses dois grupos são os que mais absorvem desempregados, proporcionalmente, mas também são os que mais dispensam trabalhadores.
A ocupação com carteira, por outro lado, é o segmento que menos retira trabalhadores do desemprego, mas vem, proporcionalmente, demitindo menos.
“Embora ainda em retração, na comparação interanual, há uma ligeira redução no ritmo dessa queda para a ocupação com carteira”, diz o estudo.
Transições
No primeiro trimestre de 2017, aproximadamente 19% dos jovens desempregados conseguiam transitar para a ocupação. No quarto trimestre, esse percentual avançou para 24%, de acordo com o levantamento.
No sentido contrário, o percentual de jovens ocupados que foram demitidos recuou de 9% para 7%.
Esse movimento de queda na proporção de trabalhadores ocupados que perderam seus empregos ocorre também nos demais segmentos etários, mas com menor intensidade.
No corte por educação, os dados mostram que apenas o grupo com ensino superior não apresentou aumento na proporção de trabalhadores que migraram do desemprego para a ocupação no último trimestre.
Na transição da ocupação para o desemprego houve recuo em todos os níveis de instrução.
Perspectivas
Para os próximos meses, a expectativa do Ipea é de que o cenário de maior dinamismo do mercado de trabalho se intensifique.
“Já o comportamento da taxa de desocupação dependerá, em grande parte, da trajetória da taxa de atividade ao longo do ano”, dizem os pesquisadores.
A construção desse ambiente de melhora de ocupação e renda projetado pelo Ipea baseia-se na perspectiva de que o avanço do nível de atividade esperado para 2018 ocorrerá, principalmente, pela retomada do consumo das famílias.
Se houver um aumento dos investimentos, no entanto, pode haver uma expansão ainda mais forte da ocupação, diz o estudo.
Lei trabalhista
Outro fator de imprevisibilidade, apontam os pesquisadores, é o efeito das novas regras trabalhistas, que entraram em vigor em 2017.
Por um lado, apontam, a reforma trabalhista deve gerar aumento da formalização do emprego, porque estimularia “a absorção pelo mercado formal de um contingente de trabalhadores sem carteira que poderão ofertar de forma legal trabalhos intermitentes ou com jornadas flexíveis”.
Por outro lado, dizem, a lei n 13.429/2017, conhecida como Lei da Terceirização, aprovada em março, pode vir a favorecer o aumento da participação de trabalhadores por conta própria. (Folhapress)
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