David Luiz só queria dar alegria pro seu povo, mas acabou dando um golpe (ou impeachment, a depender do lado da torcida) na presidente da República.
Se de 2014 para cá todo dia foi um 7×1 diferente para Dilma Rousseff na popularidade, na economia e no Congresso, isso tem a ver, sim, com o fracasso no Brasil na Copa, argumentam os economistas Eduardo Zilberman e Carlos Carvalho, este do Banco Central.
Ao cruzar a cronologia de eventos da última eleição presidencial com o movimento na Bolsa de Valores, os dois perceberam que o impacto sobre o mercado financeiro da derrota para a Alemanha foi semelhante sobre resultado apertado no primeiro turno.
Nos dois casos, os investidores anteciparam o enfraquecimento futuro da petista e o fortalecimento da oposição e precificaram isso nas ações. O vexame da seleção, portanto, foi também um choque político.
“A nossa hipótese é que já existia uma insatisfação latente com o governo que o 7 a 1 fez aflorar, e o mercado financeiro percebeu isso”, diz Zilberman.
As manifestações de junho de 2013 e os efeitos da desaceleração econômica, que já começavam a ser sentidos, foram potencializados pelo mau desempenho no futebol -ainda que o governo não tenha nada a ver com esse campo.
De acordo com os professores da PUC-Rio, essa conexão entre esporte e política na cabeça do eleitor não é nova e nem exclusiva do Brasil. Pesquisadores nos Estados Unidos, por exemplo, já observaram que a vitória de times de futebol americano locais a poucos dias da eleição fortalece o atual incumbente nas urnas.
Do mesmo modo, em caso de derrota, os eleitores puniam o governante votando contra ele.
Dinâmica semelhante aconteceu com Dilma em 2014, defendem Carvalho e Zilberman. Ainda que a petista tenha vencido as eleições, a margem foi muito mais apertada do que mostravam pesquisas de opinião.
Isso porque o fracasso na Copa foi o golpe -ou impeachment- que faltava para amarrar as frustrações de quem já estava insatisfeito, de modo difuso, com a política e a economia.
Por isso, a petista já entrou no segundo mandato com um cartão amarelo. Pouco depois, levou o segundo e foi expulsa do jogo.
1×7
E se Deus fosse top, como já disse Neymar em um celebrado tuíte antigo, e tivesse curado milagrosamente o jogador de sua lesão, liberando-o para jogar contra a Alemanha, invertendo o placar contra os europeus?
Nesse caso, é provável que o mercado financeiro teria antecipado um fortalecimento eleitoral da ex-presidente, diz Zilberman. Se a seleção tivesse levado a taça, a hipótese do pesquisador é que Dilma ganharia a eleição com uma vantagem maior.
Em um cenário mais realista, um placar menos humilhante -uma derrota por 2 a 1, por exemplo- teria diminuído em muito os efeitos da Copa sobre a disputa política, diz Zilberman. Não teria sido o choque que foi.
“Acho que a dramaticidade do fracasso, de alguma maneira, tirou o brasileiro da zona de conforto, o que pode ter desencadeado esses processos”, afirma. (Folhapress)
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