Mesmo afastado e ameaçado de perder o cargo de procurador de Justiça, depois do escândalo Cachoeira, o ex-senador Demóstenes Torres, cassado pelo Plenário do Senado, segue levando “boa vida”. Desde outubro, revela reportagem do Jornal O Popular, ele já recebeu R$ 460 mil do Ministério Público, em salários, benefícios e até férias, em dezembro.
Segundo o texto, assinado pela repórter Fabiana Pulcinelli, “Demóstenes anda tranquilo, de acordo com amigos. Ainda distante de qualquer ameaça de perder o cargo de procurador, não teria razão para maiores preocupações.”
Leia o texto completo, disponível no site do Jornal O Popular, para assinantes:
“Afastado, mas com 45 mil por mês
Desde que deixou a vida política, ex-senador já recebeu R$ 460 mil do Ministério Público de Goiás
Fabiana Pulcineli
11 de julho de 2013 (quinta-feira)
Desde que teve o mandato de senador cassado, há exatamente um ano, Demóstenes Torres trabalhou por três meses. Mas já ganhou mais de R$ 460 mil no cargo de procurador de Justiça no Ministério Público de Goiás (MP-GO). É que, mesmo afastado desde outubro, ele continuou recebendo salários, benefícios e até férias, em dezembro.
Com o tempo livre, Demóstenes se dedica à defesa nos processos (disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público e criminal no Tribunal de Justiça de Goiás), mas também mantém antigos hábitos, como ler, ouvir música, degustar bons vinhos, receber amigos e viajar.
Condenado a perder o mandato por 56 colegas senadores – 19 foram contra e 5 se abstiveram –, Demóstenes assistiu ao enterro de sua vida política depois de quatro meses como alvo de denúncias de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, reveladas por gravações telefônicas da Operação Monte Carlo. De principal voz em defesa da ética no Congresso, em uma trajetória de ascensão durante uma década, ele passou ao segundo senador cassado da história do País.
Um ano depois da crise e com mudanças na rotina, Demóstenes anda tranquilo, de acordo com amigos. Ainda distante de qualquer ameaça de perder o cargo de procurador, não teria razão para maiores preocupações.
No dia 24 de junho, depois de seis meses analisando o inquérito criminal aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e encaminhado ao TJ-GO, o MP-GO deu o primeiro passo em direção à possível abertura de ação penal contra o ex-senador. Denunciou Demóstenes por corrupção passiva e advocacia administrativa, apontando oito crimes.
Na semana seguinte, o ex-senador foi internado no Hospital Neurológico, em Goiânia. Houve especulações de que teria se sentido mal depois de voltar a ser notícia nos jornais com a decisão do MP-GO.
Amigos negam. Dizem que ele submeteu-se a cirurgia para retirada de vesícula. Ficou três dias internado. Recebeu poucas visitas. Cenário bem diferente de quando foi operado de diabetes, em 2009, e fez redução de estômago, em técnica do médico Áureo Ludovico. O médico da semana passada era o mesmo, mas nada das dezenas de ligações e visitas diárias de amigos.
A maioria dos amigos mais próximos se recusou a passar qualquer informação sobre a rotina do ex-senador. Dizem que já sofreu demais e merece ser poupado. A discrição se intensificou depois de reportagem da revista Isto É, publicada em janeiro, com o título A boa vida de Demóstenes.
O próprio procurador teria pedido a amigos e a funcionários de locais que frequenta para não darem informação. A revista contava detalhes dos luxos que o ex-senador continua a desfrutar, incluindo o réveillon em Paris, em um dos melhores restaurantes da capital francesa, os exercícios físicos em uma das principais academias da capital goiana e os caros vinhos.
Demóstenes prepara nova viagem internacional. Há duas semanas, foi a Brasília fazer entrevista para a solicitação de visto para os Estados Unidos. Como perdeu o passaporte diplomático, teve de tirar o comum e pedir visto novamente. Informações de bastidores apontam que o visto teria sido negado. A reportagem não conseguiu a confirmação. De qualquer forma, a próxima viagem não seria para a América, segundo conhecidos do ex-senador.
As viagens internacionais são comunicadas à Justiça, por “excesso de zelo”, segundo o advogado Pedro Paulo de Medeiros. “Não é obrigatório, mas preferimos avisar”, disse, completando não saber se haverá nova viagem.
Demóstenes evita festas e eventos sociais. Mas frequenta restaurantes, na maioria das vezes acompanhado de familiares. Foi visto no Assoluto, Unique, Bartolomeu e Cantina San Marco nos últimos tempos. Também viajou ao Rio, Brasília e São Paulo.
Amigos dizem que Demóstenes está mais próximo dos filhos. Mas estaria rompido com o irmão, o ex-procurador-geral de Justiça Benedito Torres, também citado em gravações telefônicas. Há 20 dias, o CNMP decidiu arquivar a reclamação disciplinar contra Benedito. Por 9 votos a 2, o conselho considerou que os autos não traziam indício de falta funcional do procurador. Ele também foi inocentado pelo TJ-GO em dezembro do ano passado.
O processo disciplinar contra Demóstenes está em andamento no CNMP, mas não houve novidades. O grupo de 82 promotores e procuradores do MP-GO que levou o caso de Demóstenes ao conselho chegou a avaliar uma forma de recorrer da decisão que garantiu a vitaliciedade do ex-senador no cargo do MP-GO, mas não se vislumbrou a possibilidade.
MP diz que benefícios são retroativos
11 de julho de 2013 (quinta-feira)
O Ministério Público Estadual (MP-GO) informou, por meio da assessoria de imprensa, que o procurador afastado Demóstenes Torres recebe, além do salário, diferenças remuneratórias não pagas entre 1994 e 2000 e reconhecidas pela Justiça como devidas à magistratura e aos integrantes do MP em todo o País. É a chamada Parcela Autônoma de Equivalência (PAE).
Na folha do MP-GO há informação de que, de agosto a novembro do ano passado, Demóstenes recebeu valores identificados como “outras remunerações retroativas/ temporárias”. Os pagamentos variaram de R$ 16 mil a R$ 24,8 mil, além do salário, de R$ 24,11 mil. Em novembro, o ex-senador recebeu ainda “gratificação natalina”, de R$ 12 mil – 13º proporcional, de acordo com a assessoria.
Em dezembro, depois de dois meses afastado, Demóstenes teve direito a R$ 8 mil de férias. Os pagamentos extras passaram a ser identificados como “indenizações”. Segundo o MP-GO, os valores referem-se a parcelas dos juros e correção monetária da PAE. Os pagamentos variaram de R$ 15,8 mil a R$ 18 mil até o mês passado.
Em março, os salários subiram para R$ 25,32 mil. Demóstenes recebeu R$ 2,42 mil de remuneração retroativa, já que o aumento salarial de 5% foi retroativo a janeiro.
Demóstenes voltou ao MP no dia seguinte à cassação no Senado, em 11 de julho. Em outubro, foi afastado.”
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