19 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:38

Delator relata orientação de Miller ao preparar acordo de delação

Policiais Federais deixam apartamento de Marcelo Miller, ex-procurador da República, no Rio
Policiais Federais deixam apartamento de Marcelo Miller, ex-procurador da República, no Rio

O delator Ricardo Saud, executivo do grupo J&F, que controla a JBS, relatou em depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República), prestado na quinta-feira (7), que recebeu orientação do ex-procurador Marcello Miller durante a elaboração do acordo de delação premiada da empresa.

Miller foi auxiliar do procurador-geral, Rodrigo Janot, até meados do ano passado, quando voltou a trabalhar na Procuradoria no Rio de Janeiro. Em 5 de abril, ele foi exonerado do Ministério Público Federal e passou a advogar para o escritório Trench Rossi Watanabe, que negociou o acordo de leniência (de pessoa jurídica) do grupo J&F.

Saud disse que contou a Miller sobre um encontro que teve com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que havia sido gravado, e sobre outras gravações que pretendia fazer -tudo isso antes de o acordo com a PGR ser fechado.

“[Saud afirmou] que disse a Marcello Miller que gravaria o [senador] Ciro Nogueira (…); que disse a Marcello Miller que gravou José Eduardo Cardozo; (…) que Marcello Miller disse que aquilo daria cadeia, que iriam para cima dele, depoente, e José Eduardo Cardozo; que depois dessa conversa Marcello Miller saiu da sala e estava mandando mensagens no celular; que achou isso estranho, o fato de mandar mensagens logo após essa conversa; que não mostrou a gravação de José Eduardo Cardozo a Marcello Miller, apenas mostrou um pen drive”, diz trecho do depoimento.

Prisão

Ao pedir a prisão do ex-procurador e dos delatores Saud e Joesley Batista, dono da JBS, a PGR destacou que há “indicativo de que Marcello Miller, ainda na condição de procurador da República, teria, em princípio, ajudado os colaboradores a filtrar informações, escamotear fatos e provas e ajustar depoimentos e declarações, em benefício de terceiros que poderiam estar inseridos no grupo criminoso [formado pelos delatores]”.

Na última quarta (6), o escritório Trench Rossi Watanabe respondeu a uma solicitação de informações feita pela PGR e encaminhou documentação interna a Janot.

“Entre os documentos apresentados constam elementos de que, antes de março do corrente ano, Marcello Miller já auxiliava o grupo J&F no que toca o acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal. Há, por exemplo, trocas de e-mails entre Marcello Miller e advogada do mencionado escritório, em época em que [ele] ainda ocupava o cargo de procurador da República, com marcações de voos para reuniões, referências a orientações à empresa J&F e indícios de tratativas em benefícios à mencionada empresa”, escreveu Janot no pedido de prisão.

Para a PGR, há indícios de que Miller tenha cometido o crime de exploração de prestígio, além da possibilidade de ter sido cooptado pela organização criminosa composta pelos executivos da JBS, “passando, em princípio, a integrá-la”.

Joesley e Saud tiveram prisão decretada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin. O pedido de prisão de Miller foi negado pelo ministro.

Neste domingo (10), Miller divulgou nota em que afirmou que “jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei”.  (Folhapress)

Leia mais:

 

 

 


Leia mais sobre: Brasil