A questão imigratória não está causando divisões apenas entre os parceiros europeus. Na Alemanha, a coalizão conservadora da chanceler Angela Merkel está à beira da ruptura, apenas três meses após o início de seu governo.
A disputa ocorre entre a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler, e a União Social Cristã (CSU), espécie de legenda irmã da conservadora CDU no estado da Baviera. Ambos são aliados há quase 70 anos.
A terceira força na coalizão, o Partido Social Democrata (SPD), diz estar perdendo a paciência com os demais.
“Creio que Merkel vai tentar até o fim encontrar uma unidade neste tema”, disse o porta-voz de assuntos domésticos da CDU e aliado da chanceler, Mathias Middelberg. Questionado sobre se a aliança com a CSU corre o risco de ruptura, ele disse à radio Deutschlandfunk: “Isso não pode ser descartado”.
Middelberg disse que a grande maioria da CDU apoia a posição de Merkel de tentar encontrar uma solução europeia para a questão imigratória, tema que deve dominar a cúpula da União Europeia, nos dias 28 e 29 de junho.
A Alemanha quer propor no encontro que os refugiados sejam divididos de maneira mais equitativa entre os países da UE, onde a questão tem causado fricção entre dois importantes membros, a Itália e a França.
Mas a CSU não quer esperar e quer que Merkel tome uma decisão unilateral.
A política de portas abertas adotada pela chanceler em 2015 acertou em cheio a Baviera, que recebeu a maior parte do cerca de 1 milhão de refugiados acolhidos pelo país. Depois, essas pessoas foram distribuídas pelos diversos estados alemães, seguindo critérios populacionais.
A CSU considera que essa política foi responsável pelo apoio ao partido populista anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), que se tornou a maior força da oposição no Parlamento após as eleições de setembro do ano passado.
O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, que é da CSU, quer que a Alemanha rejeite a entrada de refugiados que já tenham sido registrados em outros países europeus, uma medida a que Merkel se opõe. A CSU enfrenta eleições regionais em outubro e teme que suas décadas de domínio na Baviera sejam ameaçadas pelo sentimento anti-imigração.
Em contrapartida, a CDU sugere que sejam rejeitados na fronteira apenas aqueles cujos pedidos de asilo já tenham sido negados por outros países europeus. Sugere ainda fazer acordos bilaterais que permitam a “devolução” daqueles que já tenham dado entrada no pedido de asilo em outro país da UE.
O premiê da Baviera, Markus Söder, é contrário às ofertas. “Precisamos ouvir nosso povo”, disse ao tabloide Bild.
O SPD (centro-esquerda) instou as legendas irmãs a resolverem suas diferenças. “A tarefa de governar nosso país não é um episódio de Game of Thrones, mas um assunto muito sério. Aqueles envolvidos não devem se esquecer disso”, afirmou o ministro das Finanças Olaf Scholz, social-democrata.
Nesta sexta-feira (15), a difusão de uma notícia falsa sobre o fim da coalizão provocou certo pânico no país.
Vários meios de comunicação repercutiram um tuíte que parecia proceder da cadeia pública alemã ARD e que anunciava o fim da aliança política da chanceler. O tuíte se propagou rapidamente pelas redes sociais.
O índice Dax da Bolsa de Frankfurt perdeu temporariamente meio ponto percentual e a taxa de câmbio no mercado também sofreu com a notícia.
Mas a informação era, na verdade, uma “brincadeira” da revista satírica Titanic. Um jornalista da publicação “disfarçou” sua conta do Twitter para que parecesse ser a da ARD e difundiu a notícia. (Folhapress)
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