30 de agosto de 2024
Tecnologia

De veganos a evangélicos, nichos aquecem mercado de app de paquera

Por Matheus Mans São Paulo, 12 (AE) – Há cerca de dois anos uma nova febre chegou ao mercado de aplicativos: os apps de paquera. Puxada pela plataforma norte-americana Tinder, a categoria caiu no gosto dos solteiros do País. Em pouco tempo, os brasileiros já estavam entre os três públicos mais ativos e hoje, 5% da população local utiliza o Tinder.

Mas a alta adesão também trouxe problemas. Em um mercado enorme e com um público muito heterogêneo, encontrar alguém com as mesmas características, desejos, personalidade ou mesmo religião ficou cada vez mais complicado. O mercado, então, começou a se adaptar. Ao invés de um serviço único para todos, sites e apps de nicho se popularizaram. Hoje, encontram-se opções para todos os públicos: de cães a evangélicos, de veganos a pessoas acima de 50 anos.

O Grupo Match – empresa de sites e apps de relacionamento que detém marcas como OkCupid, ParPerfeito e Tinder – percebeu que alguns serviços começaram naturalmente a reunir pessoas com interesses e públicos específicos e decidiu investir na ideia. Lançou soluções como o Divino Amor e o G Encontros, para evangélicos e a comunidade LGBT, respectivamente. “Com exceção do Tinder, todos nossos serviços acabaram entrando no mercado de nicho. Foi um movimento natural.

Pessoas queriam serviços com usuários parecidos e aí acabaram se organizando eles mesmos, sem nossa interferência”, comenta Gaël Deheneffe, presidente do Match.com para a América Latina, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. O OkCupid, por exemplo, agrega pessoas mais escolarizadas.

O ParPerfeito, por outro lado, tem o maior número de interessados em um relacionamento sério. Tudo isso sem direcionamento nenhum dos criadores das plataformas. A Match se animou. Em 2016, quer investir ainda mais na segmentação. “Pretendemos lançar serviços para vários públicos no ano que vem”, diz Deheneffe.

“É muito fácil entrar e, se não der certo, sair desse mercado. Além disso, vendo os resultados do Divino Amor, é muito animador (fazer o investimento).” O Divino Amor representa um dos principais produtos do Match atualmente. Lançado em 2009, o site tem dois milhões de usuários e mais de 40 mil novos perfis criados todo mês. O segredo de seu sucesso foi entender o que o usuário evangélico buscava.

“Nós já tínhamos toda a estrutura pronta. Só precisávamos adaptar o serviço, retirando a opção de beber e fumar ao preencher o perfil, por exemplo”, diz Gaël. O app também não apresenta baladas nas opções de passeio e permite ao usuário escolher a denominação religiosa, dentre 30 opções disponíveis.

Além disso, os desenvolvedores tiveram a consultoria do pastor Antônio Júnior, que ainda responde dúvidas de usuários e publica textos sobre relacionamento na rede. “Muitas vezes a igreja tem apenas 100, 150 membros.

E lá não vai ter a pessoa que você está procurando”, comenta o pastor. “Então o aplicativo ajuda a achar a pessoa certa, que professa da mesma fé.”Segmentação O Kickoff – que já conta com 300 mil usuários no Brasil – é outro app que mira um público específico. Mostrando apenas amigos de amigos, o serviço pretende dar confiança ao usuário e, principalmente, oferecer oportunidades para quem quer um relacionamento sério.

“O Kickoff é posicionado para quem quer se conhecer no mundo real”, comenta Pedro Guerra, sócio da empresa. A abordagem atraiu usuários. A analista de mídias sociais Suzana Aguiar instalou o Kickoff após ler na internet sobre a orientação do app. “Nunca tinha usado esse tipo de app, mas quando vi que o intuito era diferente resolvi baixar. Pelas fotos e características das pessoas que eu vi, a maioria parecia de família, trabalhador”, diz ela, que já planeja para o ano que vem um casamento com o publicitário Luís Carlos Almeida, que ela conheceu pelo Kickoff.

Nem a distância – ele mora em São Paulo, ela em Vitória (ES) – atrapalhou o namoro. “Eu nunca gostei de sair com uma pessoa por sair. Baixei o Tinder, mas vi muita pornografia. Aí uma amiga falou desse app que era para relacionamento mais sério”, diz ele. “Quando encontrei com a Suzana o papo batia, vi que ela tinha os mesmos objetivos. Começamos a namorar”. Já o Happn – que possui 500 mil usuários no Brasil e registrou aumento de 50% em cadastrados no último mês – aposta na atração entre os que estão próximos. O app usa a geolocalização para mostrar o perfil de todas as pessoas que passaram por você ao longo do caminho e permitir que o usuário se conecte com elas pela plataforma.

“Acreditamos que aplicativos focados em serviços de relacionamentos para veganos ou para donos de cachorros, por exemplo, são muito restritivos”, diz Marie Cosnard, diretora de relações públicas do Happn. “A geolocalização é importante, porque é útil estar próximo de uma pessoa para realmente conhecê-la”, diz. O ParPerfeito é uma das mais antigas ferramentas de relacionamento atuantes no Brasil. Chegou por aqui em 2000, na versão web. Hoje, tem mais de 450 mil novos usuários por mês só no Brasil e mais de 50 milhões de cadastros feitos. Representa 80% da receita do Grupo Match.

“Enquanto o Tinder é a entrada, o ParPerfeito é o prato principal”, diz Deheneffe.Futuro Para as pessoas ligadas ao mercado de aplicativos de relacionamento, é certo que o futuro será dos serviços de nicho. “Nós estamos indo para o oposto extremo do Tinder”, comenta Guerra, do Kickoff. “Daqui para frente o mercado tende a se especializar”, diz. Isso não significa, porém, o fim do app norte-americano, mas uma diversificação no mercado. “Acho que no final só cinco ou dez apps vão sobrar”, opina.

Marie, do Happn, diz que antes disso acontecer, há muitas oportunidades para inovação. “Ainda há espaço para novos participantes, já que a maioria das empresas de relacionamento é baseada em modelos antigos que não correspondem à realidade de como as pessoas esperam encontrar seus parceiros”, diz. A visão é compartilhada por Deheneffe. “Com certeza, muitos aplicativos segmentados vão surgir nos próximos anos. Afinal, as pessoas querem encontrar usuários com o mesmo perfil.” COLABOROU LIGIA AGUILHAR 

(Estadão Conteúdo)


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