Um estado de euforia e de encantamento tomou conta das crianças que estudam no núcleo de educação infantil Carrossel, em Balneário Camboriú (SC), na última quinta-feira (25), quando entraram em sala de aula os mais novos reforços pedagógicos da rede pública de ensino: três espertos robozinhos.
As missões atribuídas a Rope (Robô Programável Educacional) parecem audaciosas para quem conta com apenas três anos de vida, cinco botões coloridos, dez tipos de sons e uma porção de luzes e dispositivos eletrônicos.
Para os 20 pesquisadores de sete áreas do conhecimento da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) que desenvolveram o “brinquedo de programar”, ele será capaz de auxiliar no desenvolvimento cognitivo e motor, estimular a interação e planejamento de ações e ampliar o raciocínio lógico e matemático da molecada entre 4 e 7 anos.
“É muito emocionante ter chegado a um resultado que pode contribuir com a educação de crianças, de estimular uma nova maneira de ver a matemática, sem ranços e sem medo, mas com empatia e afetividade”, diz o professor doutor em informática na educação André Raabe, idealizador do projeto.
Até o final deste ano, vinte e sete núcleos de educação infantil pública de Balneário Camboriú irão receber 30 robozinhos, que podem ser estilizados e rebatizados ao gosto da criançada.
Eles irão auxiliar 4.300 alunos em atividades diversas dentro e fora de sala como contar histórias, resolver problemas lógicos, ensinar noções espaciais e outros.
“Testamos amplamente o robô com grupos de crianças e as reações sempre foram surpreendentes, positivas. Ele leva inovação ao ambiente escolar, apresenta formas diferentes de aplicar o conteúdo aos alunos, que são estimulados a pensarem novas formas de o Rope brincar”, afirma Tatiane do Rosário, mestranda em educação.
Mente aberta
“Eu gostei muuuuuito dele! Já decorei o que faz cada botãozinho”, conta Maria Isabeli, 5, uma das primeiras a testar Rope em aula.
O robozinho é programado para seguir até 44 comandos diferentes de movimentos -para a frente, para trás, para a esquerda, para a direita-, o que o permite, inclusive, a fazer passos de dança.
Como há um som diferente para cada ação executada, os pesquisadores acreditam que crianças com deficiência visual poderão também se beneficiar do recurso.
Junto com os brinquedos de programar, são entregues kits com três tapetes pedagógicos com sugestão de atividades que podem trabalhar formas geométricas, numerais, situações lúdicas.
“Com materiais baratos como papel pardo ou cartolina, os professores e alunos podem inventar tapetes com novos desafios para o Rope. As crianças também vão poder dar sugestões de melhorias ao robô. Elas são as protagonistas do projeto”, afirma André Santana, coordenador da iniciativa.
Para a professora Daili Quevedo, 36, que já recebeu Rope em sala de aula, será necessário, no começo, dedicar um tempo para deixar as crianças à vontade com o robô para que “diminuam a curiosidade” sobre a novidade.
Rope custa cerca de R$ 150 [um similar americano vale R$ 700] e é bancado com recursos de pagamento de fianças de crimes de contravenção. O dinheiro é repassado pelo Ministério Público de Santa Catarina, parceiro da iniciativa inédita, diretamente para os pesquisadores.
Antes de ir à escola, o dispositivo foi apresentado aos professores, que também foram treinados para lidar com a inovação. Espera-se que o robozinho, que tem autonomia de duas horas contínuas de funcionamento, participe de até oito seções com os alunos a cada semestre letivo.
Bolsistas
“O entusiasmo com a ideia foi imediato, assim que nos foi apresentado o projeto, que tem base científica e pedagógica sólida. O robô possibilita trabalhar o erro, até transformá-lo em acerto, ajudando na autoestima, na autonomia do aluno”, declara Denise Leite, secretária da Educação de Balneário Camboriú.
Os códigos de produção de Rope vão ser abertos gratuitamente para instituições públicas de todo o país.
“A intenção é ajudar na melhoria da educação de crianças, não é ganhar dinheiro. Fizemos tudo com muita raça. Alunos que têm bolsas de iniciação científica de R$ 300, R$ 400, dedicaram horas de trabalho. Mestrandos e doutorandos ficaram anos estudando a aplicação e viabilidade”, afirma Raabe.
O projeto, chancelado pela Sociedade Brasileira de Computação, teve contribuições das engenharias mecânica, da computação e de produção, da ciência da computação, do design e da educação. Toda a produção é realidade dentro da universidade, no Laboratório de Inovação e Tecnológica na Educação. (Folhapress)
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