Com a proximidade das eleições municipais de 2024, que tem momento decisivo para candidatos a vereador no dia 6 de outubro, diminui o período de pré-campanha, mas isso não afrouxa os perigos do momento. É preciso ter cuidado com o que se fala, com pedidos de voto, gastos que representem abuso do poder econômico e, ainda, no bom sentido da palavra, é necessário ‘rebolar’ para ser conhecido porque as aparições em televisão vão privilegiar os candidatos majoritários: prefeitos e vices.
É o que alerta o jornalista especializado da Métis Consultoria Luiz Carlos Fernandes, mestre, doutor e professor de Marketing, Política e Pesquisa de Mercado em diferentes instituições de ensino superior.
Riscos da divulgação dos pré-candidatos nas eleições municipais
Em entrevista ao Diário de Goiás nesta segunda-feira (22), Luiz aponta para o perigo de pré-candidatos usarem expressões como “vote em”, “eleja”, “apoie”, “marque sua cédula”, “fulano para a Câmara Municipal”, antes do período legalmente previsto para a campanha. São tipos de propaganda antecipada punidos pela legislação eleitoral que já se tornaram clássicas, jurisprudências inclusive.
Além delas, também são proibidas expressões que condenem outros candidatos tais como “vote contra”, “derrote” ou “rejeite”.
Luiz brinca com uma das frases mais vistas em adesivos de carro espalhados pela cidade. “Sou amigo de fulano”, alertando que, na campanha, se este adesivo for repetido, o candidato pode ser denunciado e sofrer consequências sérias. “Usar uma arte com as mesmas coisas, mesmo design que depois ele usa na campanha não pode, mesmo que seja algo como ‘Sou amigo do fulano’, fica caracterizado que houve propaganda antecipada”, aponta também.
E, claro, antes das convenções que vão de 20 de julho a 5 de agosto, quem está na disputa jamais deve divulgar ou mobilizar em torno de uma candidatura, e sim pré-candidatura.
Preferência dos partidos é por investir nos atuais vereadores
Além dos outros percalços, a luta dos novatos com os atuais detentores de mandatos, frisa o professor, ficou ainda mais desigual por conta da distribuição dos recursos do Fundo Partidário. E um dos motivos é a própria sobrevivência das legendas. “O partido que não tiver 2% em 9 estados vai desaparecer”, acrescenta, citando a cláusula de barreira e a formação de federações para dar sobrevida às organizações partidárias.
“Está muito mais difícil para o candidato novo [ter recursos do fundo] porque o partido não investe nele. O dinheiro é público e quem controla o dinheiro não é a justiça eleitoral, é o partido. É entregue ao partido. O partido diz, olha, eu tenho um milhão, eu vou ver pra quem que eu vou investir. E vai investir num cara que tá começando ou o que já tá no terceiro mandato? O que você acha?”, questiona.
Por outro lado, no caso de Goiânia, o professor destaca que vê poucas chances de reeleição de boa parte dos atuais vereadores porque eles têm apoiado a atual gestão e ela tem sofrido alto índice de rejeição.
Eleições municipais e o perigo dos gastos
No campo dos gastos, também é necessária muita atenção mesmo nesta fase de pré-campanha que também oferece perigos. “A gente percebe dois grandes perigos. O primeiro perigo é de você ser acusado de abuso do poder econômico. Quando você começa a gastar muito sem ter justificativa de entrada e saída e sem preocupar com a questão do teto de gastos que em Goiânia, para vereador, acho que é de R$ 700 e poucos mil. Além disso, um candidato em si, só pode gastar 10% do equivalente ao que foi declarado no Imposto de Renda passado dele, senão ele pode ser pego por abuso e poder econômico”, orienta.
Nesse ponto, ele destaca que os atuais vereadores saem em grande vantagem por terem recursos e já terem tido a oportunidade de se tornarem conhecidos. Mas também não estão livres para fazer várias coisas. Um exemplo é a colocação de outdoors.
Para o especialista, alguns dos atuais vereadores que estão fixando esse tipo de publicidade em Goiânia estão brincando com o perigo. Isso porque, mesmo que a mensagem se refira ao trabalho prestado no atual mandato, se eles estão na disputa este ano novamente, também estão proibidos de usar outdoors com seus nomes em qualquer fase do processo. “Outdoor não pode porque o que não pode na campanha, não pode na pré-campanha. É o mesmo caso de pichar muros”, compara.
“Quem não plantou antes da campanha, terá grandes dificuldades”
“A pré-campanha se tornou mais importante do que a campanha, porque na campanha eu vou colher o que eu plantei. Não dá pra plantar mais”, afirma Luiz. Ele destaca que o pré-candidato que não vinha organizado, com grupos de contatos definidos que o conheçam, muito dificilmente tem chances de angariarem um número suficiente de votos. “Não dá pra me apresentar, falar quem eu sou, mostrar minhas propostas e comparar e pedir voto em apenas 45 dias”, justifica.
Dessa forma, o especialista orienta que os pré-candidatos devem aproveitar ao máximo as oportunidades de eventos, entrevistas, reuniões de grupos específicos e explorar os temas de seu domínio nessas oportunidades. “Se eu sou um militar, vou falar sobre segurança pública e se sou um médico, vou falar sobre saúde, coisas que equivalem”, observa.
Marketing de causa relacionada
“O outro caminho são reuniões de temas, o chamado marketing de causa relacionada. Então, se eu defendo a questão ambiental, vou tentar me aproximar dos grupos que têm isso como perspectiva de vida e política, né? É buscar engajamento em grupos que já estão engajados em alguma temática que você possa se incluir nela”.
Para ele, a noção corrente de que a maioria das redes sociais têm um poder muito grande neste processo está equivocada. “Sem ter uma rede minha construída um a dois anos antes da eleição, não funciona”, pontua.
Para Luiz, quem não está alinhado com essas orientações só se elege acidentalmente, “fora da curva”.
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