O cientista britânico Tim Berners-Lee, 61, criador da internet, divulgou uma carta aberta neste domingo (12) em que aponta para três desafios que precisam ser superados, segundo ele, para “salvar a web”: a perda de controle sobre dados pessoais, a facilidade de disseminar desinformação, como notícias falsas, e a falta de transparência existente na propaganda política online.
Na carta, que marca o 28º aniversário de sua invenção, Berners-Lee diz que conceder dados pessoais tornou-se comum para ter acesso a serviços gratuitos online, mas que “não percebemos um truque” ao permitir que grandes empresas de coleta de dados “”como Google, Facebook e Amazon”” controlem essas informações.
“Como nossos dados são mantidos em servidores de empresas, fora de nossas vistas, perdemos os benefícios que poderíamos ter se tivéssemos controle direto sobre esses dados e escolhêssemos quando e com quem compartilhar”, diz.
Para Berners-Lee, um efeito colateral desse armazenamento de dados é a forma como os governos “observam cada vez mais cada movimento online” e aprovam leis como a Lei de Poderes de Investigação do Reino Unido, por exemplo, que legaliza uma série de ferramentas de espionagem usadas pelos serviços de segurança.
Essa vigilância, segundo ele, cria um “efeito assustador sobre a liberdade de expressão”, mesmo em países que não são governados por regimes repressivos. “Monitorar todos a todo momento é algo que simplesmente está indo longe demais.”
Outra preocupação de Berners-Lee é a de que é muito fácil para a desinformação se espalhar na internet, especialmente porque houve uma consolidação da forma como as pessoas encontram notícias e informações por meio do
Facebook e do Google, que selecionam o conteúdo a ser exibido baseado em algoritmos que “aprendem” com a coleta de dados pessoais.
“O resultado final é que esses sites mostram o conteúdo que eles acham que vamos clicar. O que significa que uma informação errônea, ou uma notícia falsa, surpreendente chocante ou pensada para atrair nossos preconceitos pode se espalhar como incêndio florestal”, afirma.
PROPAGANDA POLÍTICA
No terceiro desafio exposto no documento, ele aponta como a propaganda política está sendo usada de “maneiras antiéticas” na rede e se tornou uma indústria sofisticada e direcionada, com base em enormes bancos de dados pessoais no Facebook e no Google.
Segundo ele, a propagação dessas informações pode se tornar antiética quando eleitores são direcionados para sites de notícias falsas, que usam mensagens para desencorajar as pessoas a votar, por exemplo –como a campanha de
Donald Trump é acusada de ter feito com determinados grupos com cujo apoio Hillary Clinton contava.
“A publicidade direcionada permite que uma campanha diga coisas completamente diferentes, possivelmente conflitantes para diferentes grupos. Isso é democrático?”, questionou.
Berners-Lee disse que a Web Foundation “”organização que fundou em 2009, dedicada à melhoria e disponibilidade da web”” está trabalhando nessas questões como parte de uma estratégia de cinco anos. “Construir a web que temos envolveu a todos nós, e agora cabe a todos nós construir a web que queremos “”para todos.”
(FOLHAPRESS)
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