O diretor da revista Veja em Brasília, Policarpo Junior, não apenas usava a organização criminosa liderada por Carlinhos Cachoeira como fonte jornalística, mas também solicitava serviços à quadrilha, que iriam embasar as matérias ditas jornalísticas que a revista publicaria dias depois. É o que mostra um estudo realizado pela assessoria técnica da CPMI do Cachoeira (que envolve técnicos da Policia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF), Tribunal de Contas da União (TCU), entre outros), a pedido do deputado Dr. Rosinha (PT-PR). “Este estudo demonstra um envolvimento pessoal de Policarpo com a quadrilha, que foi muito além da relação jornalista-fonte. Ele deve, sim, explicações ao país”, sustenta.
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O deputado protocolou, nesta sexta, (10) novo pedido de convocação do jornalista de Veja. O assunto será discutido pela comissão em reunião administrativa, na próxima terça (14). O primeiro foi apresentado pelo senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), mas nem chegou a ser apreciado, por decisão da maioria dos membros. Com as conclusões do estudo, Dr. Rosinha acredita que a grande resistência que alguns parlamentares tinham à convocação de Policarpo será quebrada.
“Alguns membros, como Miro Teixeira, argumentavam que a convocação de jornalistas atentaria contra a liberdade de expressão, mas o estudo demonstra que estamos tratando de uma pessoa tão envolvida com a quadrilha que chegava a determinar suas linhas de trabalhos. Policarpo precisa explicar se participava da organização criminosa, se a usava para atingir seus interesses ou se era usado por ela”, acrescenta.
O deputado explica que o estudo se baseia na análise das gravações realizadas pela Polícia Federal (PF), que foi autorizada judicialmente a grampear os telefones dos então supostos membros da quadrilha, durante as Operações Vegas e Monte Carlo. Para surpresa geral, acabaram flagrando várias conversas entre eles, inclusive Cachoeira, com Policarpo de Veja.
Dr. Rosinha conta também que o estudo não apresenta nenhum diálogo novo, que ainda não tenha sido divulgado pela imprensa. Sua originalidade reside no fato de que cruza os diálogos flagrados pelas escutas com o material jornalístico divulgado posteriormente pela revista Veja. “O cruzamento nos permite dimensionar o envolvimento do Policarpo”, esclarece.
O deputado admite também que, até o momento, as provas não implicam na participação de outros diretores ou da família Civita, proprietária do Grupo Abril, que edita Veja, com o esquema. “É difícil acreditar que a direção da revista desconhecia o nível da relação de Policarpo com a quadrilha, mas ainda não temos provas definitivas do contrário”, esclarece.
Pressão
A pressão para a convocação de Policarpo Júnior à CPMI do Cachoeira cresce no Congresso Nacional. Na última terça-feira (7), o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (PT-SP), afirmou da tribuna que já passou da hora de convidar o jornalista para esclarecimentos. “É impressionante a capacidade que este jornalista tem de estar em coisa enrascada. Eu não sei se ele está envolvido ou não, mas tudo que tem enrosco, grampo e arapongagem ele está dentro. E paira uma dúvida, se é como jornalista ou membro do crime organizado”, disse.
Já o senador Fernando Collor (PTB-AL), em discurso nesta sexta-feira (10), no plenário do Senado, disse não ter dúvidas de que Policarpo Júnior pertence à quadrilha e reforçou a tese de Rosinha, afirmando que o jornalista ora recebia encomendas da organização de Cachoeira, ora pedia a eles que grampeassem parlamentares e outras pessoas, “o que servia aos interesses políticos e interesses comerciais dessa verdadeira cambada”, disparou.
Segundo o senador, há uma clara relação de dependência entre a organização criminosa e a revista Veja desde 2004, pelo menos, e já é hora de Policarpo Júnior prestar informações sobre as mais de 100 interceptações telefônicas dele com integrantes da organização criminosa. As razões apontadas são a gama de informações que ele dispõe, em segundo porque já não existiria nenhum sigilo da fonte a ser preservado, uma vez que a relação já é pública e admitida pelo próprio veículo e, em terceiro, porque ele não tem motivos para se calar na CPMI, como outros depoentes convocados tem feito. “Não são os meios [de comunicação] que insistem em afirmar que a CPMI não deseja aprofundar as investigações? Eu desejo aprofundar as investigações”, provocou.
Outro fato que reacendeu a possibilidade de convocação de representantes da revista Veja à CPMI do Cachoeira foi a denúncia feita pelo juiz da 11º Vara Federal de Goiânia, Alderico Rocha Santos. De acordo com o juiz, a esposa de Cachoeira, Andressa Mendonça, o teria chantageado, em troca de vantagens para seu marido, com a divulgação, na revista Veja, de um dossiê que o comprometeria. Em sua última edição, a revista Veja se defendeu afirmando, entre outras coisas, não fazer e não divulgar dossiês. “Quem pode acreditar nesta balela?”, questionou Collor da tribuna do Senado.
(Com texto de Najla Passos e Vinicius Mansur, reproduzido da Carta Maior )
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