19 de dezembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 01:01

Credibilidade da fiscalização do Brasil está em xeque, diz União Europeia

O embaixador da União Europeia no Brasil, João Cravinho, afirma que a credibilidade do sistema de fiscalização do país foi colocado em xeque pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investiga um esquema de pagamento de suborno a fiscais agropecuários para emissão de certificados.

“Queremos evitar a suspensão da compra de carne brasileira, mas está nas mãos do Ministério da Agricultura.”

Folha – O comissário da União Europeia Vytenis Andriukaitis disse que estuda medidas mais rigorosas para a importação de carne brasileira. Quais medidas seriam tomadas?

João Cravinho – Essa crise apanhou a todos de surpresa. Já reforçamos a verificação na fronteira. Agora estamos checando visualmente tudo que entra e fazendo exames biológicos em 20% dos produtos. O comissário deixou claro as informações técnicas que precisamos. Estamos aguardando uma carta do Ministério da Agricultura sobre o assunto.

Na próxima semana, haverá uma reunião entre os 28 países-membros da UE sobre saúde animal, e o tema também será discutido pelo Parlamento Europeu. Essa questão estará sob os holofotes em Bruxelas e precisamos de todas as informações para esclarecer as dúvidas. Queremos evitar uma suspensão da compra de carne brasileira, mas está nas mãos do ministério.

OPERAÇÃO CARNE FRACA PF deflagra ação em grandes frigoríficos Operação contra frigoríficos prende 37 e descobre até carne podre à venda Esquema em frigoríficos repassava dinheiro a PMDB e PP, diz Polícia Federal Carnes de frigoríficos investigados não oferecem risco à saúde, aponta análise Ministro da Justiça aparece em grampo de operação contra frigoríficos Até merenda escolar teve carne adulterada O Ministério da Agricultura argumenta que os problemas de qualidade estão restritos a poucas unidades frigoríficas. A Europa tem dúvidas sobre a qualidade da carne brasileira?

Nós dependemos inteiramente de confiança num sistema de fiscalização agropecuária que conhecemos no papel e por meio de visitas pontuais. Quando há uma investigação da Polícia Federal que diz que a prática não corresponde a teoria, tocam todos os sinos de alarme. Não sabemos se isso é verdade ou falso, mas a credibilidade foi colocada em xeque.

Portanto, precisamos das informações adicionais que permitam restaurar a confiança que foi abalada.

A investigação da PF apontou uma forte promiscuidade na relação entre as empresas e os fiscais agropecuários, inclusive com o pagamento de suborno. Essa questão preocupa a Europa?

Se houve suborno, precisamos saber se é pontual ou sistêmico e se isso gera algum perigo para o consumidor europeu. A princípio, ninguém suborna um fiscal para exportar carne de boa qualidade.

Mas o fundamental para a Europa é que o Brasil tenha um mecanismo de fiscalização que separe as carnes que não estão em condições de serem comercializadas.

Se esse resultado é alcançado de forma pouco ortodoxa, as autoridades brasileiras devem procurar resolver.

A Operação Carne Fraca pode prejudicar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia?

Não. Esse tema não é discutido nesse tipo de negociação, que abrange principalmente cotas e tarifas. Não vai entrar carne sem qualidade na UE, com ou sem acordo.

Na semana passada, negociadores dos dois blocos econômicos estiveram reunidos em Buenos Aires. Qual é a sua expectativa para a evolução das conversas?

Estou otimista. Em nenhum momento, desde que começamos a conversar em 1999, houve um quadro tão favorável à conclusão das negociações.

Temos no Brasil e na Argentina governos muito comprometidos com um acordo, o que não acontecia no passado.

Do lado europeu, a determinação política nunca foi tão grande. Em um momento em que a globalização é colocada em xeque nos EUA e por movimentos dentro da própria Europa, temos que responder. (Folhapress)

Leia mais:

 

 

 


Leia mais sobre: Mundo