O ex-secretário de Estado de Administração Penitenciária do Amazonas, coronel da Polícia Militar Louismar Bonates afirmou em nota enviada à Folha de S.Paulo que manteve pelo menos uma conversa com “representantes da massa carcerária”, mas negou ter feito acordos com a facção criminosa FDN (Família do Norte).
Em relatório da Operação La Muralla, que investigou a FDN, a Polícia Federal apontou que em julho de 2015, no interior do maior presídio de Manaus (AM), o Compaj, como representante do governo, Bonates e um dos principais líderes da FDN, José Roberto Fernandes Barbosa, fizeram um acordo pelo qual os líderes da facção não seriam transferidos para presídios federais, desde que houvesse paz nas cadeias. A PF baseou-se na troca de mensagens eletrônicas do próprio “Zé Roberto”.
Procurado pela reportagem na semana passada, inclusive junto ao Comando da PM do Amazonas, o coronel não fora localizado para comentar o relatório.
Agora, em nota, ele afirma que não tratou com “Zé Roberto” sobre como evitar uma possível transferência do detento. De acordo com o relatório da PF, a conversa ocorreu em julho. “Zé Roberto” só foi transferido para presídio federal em novembro do mesmo ano, logo depois da deflagração da Operação La Muralla. Bonates deixou o comando do sistema penitenciário, segundo ele a pedido, também em novembro.
Na nota, o coronel negou que tenha ocorrido o diálogo e que “não existe nenhuma fonte confiável, oficial e concreta que confirme essa informação”.
Segundo a nota, que não explicou com quem nominalmente ele se reuniu, Bonates participou de tratativas a respeito de “um campo de futebol no Compaj [presídio de Manaus] que era usado para que os ficassem ficassem no ‘banho de sol’ e que estava desativado por ordem dele, como punição por mau comportamento, inclusive do apenado José Roberto”.
“Em todas as unidades prisionais há um preso que é o representante da massa carcerária junto à administração. Foi solicitado pelos presos uma audiência com a nossa administração para reivindicar o retorno da utilização do referido campo de futebol. Então, foi colocado por nós que para o retorno das atividades naquele espaço ficaria condicionado o comportamento exemplar dos apenados”, afirmou a nota, atribuindo as declarações ao coronel Bonates.
Ainda conforme a nota, Bonates, quando secretário de Justiça, em 2013, “autorizou a transferência de onze presos, considerados líderes dentro das cadeias, para o sistema federal, por mau comportamento, inclusive o apenado José Roberto”.
O coronel disse, segundo a nota, que “todas as vezes em que esteve nas unidades prisionais para tratar de assuntos com a massa carcerária, teve a preocupação de entrar em contato com a Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência (Seai), informando o teor das conversas para que fossem monitoradas ‘a posteriori'”. Disse ainda que não foi chamado, até o momento, para prestar esclarecimentos à Polícia Federal sobre o assunto.
“Louismar Bonates informou que, durante os seus 36 anos integrando os quadros da Polícia Militar do Amazonas, já desempenhou funções em diversas unidades operacionais e que não teve nada que desabonasse sua conduta profissional. Sendo considerado sempre como um oficial exemplar”, afirma nota.
Folhapress
Leia mais:
- Temer destaca construção de presídios para combater ‘insegurança’
- Entidades de advogados criticam ideia de ministro de gravações em presídios
- Cármen Lúcia convoca presidentes de tribunais para reunião sobre presídios
Leia mais sobre: Brasil