Uma casa nos Jardins, em São Paulo, de R$ 14 milhões, e um helicóptero, de R$ 8,4 milhões, seriam alguns dos itens da conta-corrente de propina paga desde 2011 pelo empresário Joesley Batista ao operador Lúcio Funaro, um dos personagens da crise no governo Temer.
O empresário entregou em seu acordo de colaboração a planilha de entrada e saída de pagamentos que mantinha com o operador, que mostra um total de repasses de R$ 173 milhões somente a Funaro. O montante é muito superior ao valor que Joesley terá que pagar de multa no compromisso de delação, que é de R$ 110 milhões -cada executivo da JBS pagará um valor próprio.
Iniciada em 2011, a conta-corrente era abastecida por diferentes empresas da holding J&F, dona da JBS, como Eldorado Celulose e Vigor.
Em seus depoimentos de colaboração, Joesley vincula diretamente o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a esses valores pagos a Funaro, dizendo que eles atuavam em conjunto, e cita ainda ligação desse “grupo” com Temer, por “ser da turma do PMDB da Câmara”.
A maior parte do suborno pago se referia à liberação de empréstimos na Caixa Econômica, disse o delator.
Ele falou que Cunha e Funaro influenciavam as operações no banco e que, sem pagamento, não haveria a liberação de financiamentos. Citou ainda o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, que também virou delator.
Ao falar sobre o início dos pagamentos, Joesley disse que Funaro e Cunha foram “encampando” setores do governo de Dilma Rousseff e cobrando propina nas áreas sob suas influências. “Eles vinham tomando terreno, este grupo.
Encampou o [fundo de investimento] FI-FGTS, encampou a Caixa, aí encampou o Ministério da Agricultura.”
Na pasta da Agricultura, falou Joesley, teve que pagar propina de R$ 2 milhões por uma medida que nem sequer havia pedido, sobre a regulamentação da exportação de restos bovinos.
A planilha já tinha sido encerrada antes da delação, mas os pagamentos continuaram até uma semana antes de Joesley prestar depoimentos ao Ministério Público Federal, contou o empresário. Funaro está detido desde julho de 2016 e é réu em ação, em Brasília, sobre o FI-FGTS.
CASA REFORMADA
A planilha de Joesley mostra uma série de pagamentos vinculados à casa nos Jardins, como reforma de R$ 220 mil, em 2013, e até remuneração de funcionários.
Situação parecida ocorreu com o helicóptero. Joesley guardava junto ao balanço da conta de Funaro uma relação de pagamentos de taxas aeronáuticas e de seguro. Na planilha, há um lançamento de R$ 434 mil relacionado a gastos com o equipamento.
Nesta semana, a J&F acertou o pagamento de multa também em um acordo de leniência (espécie de delação empresarial). Serão desembolsados R$ 10,3 bilhões, mas em um prazo de 25 anos.
OUTRO LADO
Para a defesa de Lúcio Funaro, Joesley adotou a estratégia de contar “fabulações” ou distorções para conseguir “benesses” em seu acordo de colaboração premiada.
O advogado Bruno Espiñeira, que defende Funaro, diz que seu cliente tinha uma atuação legítima junto a Joesley, e trabalhou, por exemplo, prestando assessoria para solucionar pendências do grupo empresarial com o frigorífico Bertin. Apenas um dos contratos, disse, tinha valor de R$ 80 milhões.
Questionado a respeito da casa e do helicóptero, Espiñeira disse que não pode comentar o assunto porque desconhece detalhes sobre o caso.
Ele também não comentou as acusações de ligação com Eduardo Cunha.
A defesa de Cunha não se manifesta a respeito. Temer vem negando participação em irregularidades e afirma que “não tem o que esconder”.
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