27 de dezembro de 2024
Disputa violenta • atualizado em 06/10/2024 às 14:29

Consultor destaca alto grau de violência nas eleições municipais de 2024 e detalha possíveis influências

De acordo com as estimativas, foram 109 casos de homicídios relacionados à disputa política no país, sendo 90% de candidatos a vereador
Altair Tavares entrevistou o professor e sócio da Métis sobre o aumento da violência nas eleições 2024. Foto: Diário de Goiás
Altair Tavares entrevistou o professor e sócio da Métis sobre o aumento da violência nas eleições 2024. Foto: Diário de Goiás

O aumento dos casos de violência política nas eleições municipais de 2024 levanta um questionamento sobre as possíveis causas da crescente agressividade na disputa eleitoral. O editor-chefe do Diário de Goiás, Altair Tavares, entrevistou o professor e sócio da Métis Consultoria, Luís Carlos Fernandes, para falar sobre o tema, e, da influência da rivalidade extrema-esquerda versus extrema-direita nesse processo.

Confira a entrevista na íntegra:

Altair Tavares: Professor Luís Carlos, temos relatos de muitos atos violentos contra candidatos, há uma diversidade grande pelo país afora. O senhor se lembra de alguma eleição com tamanha agressividade?

Luís Carlos Fernandes: Não, é isso que me preocupa. Salvo engano, saiu da imprensa, já tem 109 casos de homicídios. Ou seja, acho que 90% são de vereadores e o restante são de candidatos a vereadores e de candidatos a prefeitos. Eu acho esse número absurdo. Eu não tenho número de eleições anteriores, mas eu não me recordo de tamanha violência em eleição como nessa que está tendo agora. A gente imagina que no processo democrático a gente transforma o antagonismo em agonismo, como dizem os teóricos. O inimigo vira adversário. Inimigo eu mato, adversário eu perco e ganho e meu adversário hoje pode ser meu aliado de amanhã. Então me assusta muito esse número. Eu acho que é um fator que a gente tem que pensar depois, estudar detalhadamente para entender por que tamanha violência, num processo democrático.

Altair Tavares: O que o senhor imagina que tenha alimentado essa situação? A polarização, a presença do crime organizado? Qual a sua perspectiva?

Luís Carlos Fernandes: Sim, eu imagino que tem todas essas questões. Se você for ver, desses 109 casos notificados aí, de candidatos, boa parte aconteceu em grandes cidades: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, no Rio, que são locais onde o crime organizado está muito presente. Mas, aconteceram em cidades pequenas, de Rondônia, no Nordeste também. Então, eu imagino que a polarização chegou ao extremo e a violência não é a força do argumento, é o argumento da força que está presente. Outro dia eu falei sobre isso. Quando localizaram o manual de propaganda de guerra, ele tem 12 itens e o último item fala “transforme a raiva, a frustração, em extrema violência”, então, a polarização nesse modelo fake news, nesse modelo de guerra, de propaganda de guerra, eles caminham para esse extremo, da violência máxima, da violência como um argumento de decisão política.

Eu acho que tem a ver com isso. Tem a ver também com essa entrada do crime organizado que está patrocinando candidatos, que está coagindo eleitor. É uma série de questões, também, que eu acho que tem a ver com isso, isso precisa ser melhor estudado. Mas, acho que o eleitor tem permitido esse tipo de argumento e valorizado, de certa forma. Acho que o eleitor tem que se posicionar contra isso, não aceitar, porque a democracia é o sistema em que valem propostas, valem argumentos. A força dos argumentos, não o argumento da força.

Altair Tavares: O senhor me faz recordar aqui de uma palestra do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, num encontro de comandantes das polícias militares do Brasil, há cerca de dois meses. Caiado dizia que o Estado de Goiás estava vigiando a presença do crime organizado nas empresas. A presença desse crime em instituições. E aí, a gente tem essa abordagem também que já é distribuída, já é muito falada, que o crime organizado também patrocina candidaturas.

Luís Carlos Fernandes: Eu imagino que sim. O crime organizado está em tudo. Eu imagino que ele agora também quer ocupar o espaço político, porque ele precisa de braços políticos para ele continuar se movimentando no país. Como não é simples, o processo eleitoral não é um processo que você domina facilmente, então, às vezes, o caminho – não estou justificando aqui, não estou explicando, estou tentando entender – talvez seja eliminar os adversários mais competitivos.


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