05 de dezembro de 2025
Igualdade Racial • atualizado em 20/11/2025 às 09:15

Consciência Negra: avanços são “extraordinários”, mas desafios persistem, diz presidente da Fundação Palmares

No Dia da Consciência Negra, Fundação Palmares e CNPIR avaliam progresso e cobram aceleração das reparações históricas
Presidente da Fundação Palmares vê avanços na igualdade racial, mas ressalta desafios no Brasil. Foto: Divulgação.
Presidente da Fundação Palmares vê avanços na igualdade racial, mas ressalta desafios no Brasil. Foto: Divulgação.

No Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares, o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Santos Rodrigues, afirma que o Brasil avançou de forma “extraordinária” no combate às desigualdades raciais ao longo das últimas seis décadas. Em entrevista à Agência Brasil, o dirigente destacou que conquistas históricas do movimento negro ajudaram a construir uma sociedade mais democrática, embora o país ainda esteja longe do cenário ideal.

Rodrigues cita como marcos importantes políticas afirmativas como as cotas raciais, a criação do Ministério da Igualdade Racial e a ampliação da proteção a territórios quilombolas. Para ele, figuras como Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez, referências intelectuais e políticas na luta antirracista, pavimentaram o caminho para que o tema ganhasse centralidade na agenda pública.

Apesar dos avanços, o presidente alerta que o racismo brasileiro se manifesta de maneira distinta de outros países. “É um racismo sistêmico, um crime continuado, sofisticado e permanente. Ele vai encontrando fórmulas de evitar que o negro esteja vivo para usufruir dessas ações afirmativas. É o caso das chacinas no Rio, na Bahia ou em São Paulo, onde há mortandade da população negra”, afirmou.

Serra da Barriga: símbolo de resistência

Rodrigues também ressaltou o papel da Serra da Barriga, em Alagoas, onde funcionou o Quilombo dos Palmares, o maior e mais longevo das Américas. O local abriga o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, espaço dedicado à memória e cultura afro-brasileira, e é um dos focos de atuação da Fundação Palmares desde sua criação, em 1988.

Ele lembrou que, entre 2018 e 2022, a Serra da Barriga ficou sem atividades oficiais no Dia da Consciência Negra. A retomada das celebrações, agora sob a vigência do feriado nacional aprovado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representa, segundo ele, um marco na valorização da memória negra.

“A população negra não está pedindo nada que não seja devido. Nós construímos esta Nação com trabalho, com suor, com sangue, e o Brasil é a terceira maior população negra do mundo, depois da Nigéria e Etiópia”, afirmou Rodrigues, reforçando a necessidade de reparações históricas, ainda em ritmo “mais lento do que meus antepassados sonharam”.

O presidente destacou melhorias realizadas no parque quilombola, como ações de preservação, acessibilidade e expansão das informações disponíveis aos visitantes brasileiros e estrangeiros.
“Edificar a memória do povo brasileiro não é uma tarefa simples, porque envolve tudo que foi ocultado e tratado pela política como esquecimento”, disse, citando episódios como a Guerra de Canudos e a Revolta dos Malês.

Políticas de igualdade racial: avanços e obstáculos

A secretária-executiva do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Larissa Santiago, também avalia que o Brasil avançou no debate público sobre racismo. Para ela, as políticas educacionais foram decisivas na ampliação da presença negra em universidades e em cursos técnicos federais.

“As pessoas entendem melhor o que significa igualdade racial e conseguem discutir com mais clareza temas como racismo e enfrentamento às desigualdades”, apontou. Com mais estudantes negros no ensino superor, afirmou Larissa, cresceu também o número de professores negros, o que fortalece a abordagem de temas ligados a raça, gênero e classe nas escolas.

Entretanto, ela reconhece que o país ainda enfrenta barreiras profundas, especialmente em áreas essenciais. “O Brasil é um país de dimensão continental, com uma maioria negra espalhada por diferentes territórios. Entre os desafios está garantir acesso pleno à saúde e à segurança pública”, destacou.

Para os especialistas, a data de 20 de novembro segue sendo um marco não apenas de celebração, mas também de reflexão e mobilização. O entendimento comum é de que a luta por igualdade racial avança, porém exige continuidade, firmeza e políticas públicas amplas para alcançar toda a população negra brasileira.


Leia mais sobre: / / / / Cidades / Notícias do Estado