A Shein, plataforma de e-commerce que vende produtos internacionais, especialmente no mercado da moda, e que possui confecção própria, tem estado no centro de uma polêmica após denúncias de trabalhos análogos à escravidão terem vindo à tona nos últimos dias. Em duas de suas fábricas na China, filmadas por uma jornalista do veículo britânico Channel 4, foram descobertos funcionários que costuram por até 18 horas seguidas e ganham aproximadamente R$ 0,20 por peça produzida, com direito apenas a uma folga por mês.
Com a denúncia, revelada por meio do documentário “Untold: inside the Shein Machine”, algo em português como “Não contado: dentro da máquina Shein”, a empresa ainda tem sido criticada pelas más condições de trabalho, altos níveis de produtos químicos tóxicos nas peças que produz, cópia de modelos de designers e uso incorreto de dados de clientes.
Para se ter ideia, o Channel 4 revelou que que os trabalhadores não têm horário definido e muitos trabalham mais de 120 horas por semana, sem direito a fins de semana e com apenas um dia de folga por mês. “Aqui não há domingos”, lamenta um dos trabalhadores mostrados na reportagem.
No documentário, a jornalista também relatou que os funcionários eram penalizados em dois terços do seu salário diário se cometessem um erro numa das peças de roupa. Situações como essas justificam o preço baixo praticado pelo site da empresa, focada no “fast fashion”.
Além disso, o documentário descobriu, ainda, que a Shein tem um núcleo de “investigação que busca tendências emergentes nas redes sociais”, transformando-as em designs que encomendam em pequenos lotes de uma rede de milhares de fábricas em Guangzhou, na China.
Em defesa, a marca declarou estar “extremamente preocupada com as alegações feitas”. “Qualquer não conformidade com este código será imediatamente tratada e iremos pôr fim às parcerias que não sigam os nossos padrões”, afirmou em nota divulgada à imprensa.
A empresa ainda reforçou que pediu informações ao Channel 4 para poder agir sobre casos revelados. “Os padrões de Abastecimento Responsável (SRS) da Shein impõem aos nossos fornecedores um código de conduta baseado nas convenções da Organização Internacional do Trabalho e nas leis e regulamentos locais, incluindo práticas e condições de trabalho. Trabalhamos com as principais agências independentes para realizar auditorias sem aviso prévio nas instalações dos fornecedores”, assegurou a empresa.
História
Poucas pessoas sabem, mas a empresa que se tornou gigante no mundo todo em poucos anos existe desde 2008. O especialista em empreendimentos no setor têxtil Jesué Tomé recorda que a empresa quando fundada em 2008, vendia apenas vestidos de casamento. O nome Shein, no entanto, só foi adotado de fato em 2015, mas a virada de chave foi um ano depois, quando passou a apostar em produção própria.
Em 2020, ganhou força através de vídeos de criadores de conteúdo no Instagram e no Tiktok, o que conquistou principalmente a Geração Z. “Hoje, vende em mais de 150 países e é uma empresa avaliada em 30 bilhões de dólares. Há dois anos, tornou-se o maior empreendimento de moda exclusivamente on-line do mundo”, destacou o especialista, completando que valor é superior à da Zara e da H&M juntas.
Ele explica também que os preços incrivelmente baixos por produtos de boa qualidade são o que faz com que a empresa venha conquistando o público de maneira avassaladora, além da facilidade da entrega.
Por outro lado, mesmo que os brasileiros tenham passado a comprar mais roupas pela internet durante a pandemia, ainda é uma porcentagem baixa em relação ao varejo físico, ou seja, menos de 10%.
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