Faltando menos de 2 meses e meio para as eleições deste ano, em Goiás, há apenas três pré-candidatas oficializadas na disputa para o Senado (Manu Jacob – PSOL e Denise Carvalho- PCdoB) e para o Governo do Estado (Cíntia Dias – PSOL). Sobre o cenário da participação feminina para a disputa desses cargos, o Diário de Goiás conversou com cientistas e analistas políticas.
A co-fundadora do Goianas na Urna e especialista em políticas públicas educacionais, Emília Marinho reconhece o valor das candidaturas ao mesmo tempo em que também chama a atenção para a pouca abertura que as mulheres têm neste âmbito. “Reconheço a importância e fico feliz por ver as candidaturas das pré-candidatas listadas. Entendo que convergem estratégias de conquista de visibilidade e aumento de capital político e fruto de boas negociações, reconhecimento e articulações com dirigentes dos seus partidos. Mas, por outro lado, me entristece ver escancarada na formação das chapas a pouca abertura para ambição política das mulheres nos poderes executivos e legislativos de maiores senioridades. Este cenário é o triste resultado de um projeto de poder político a serviço da manutenção do poder para homens brancos”, ressalta.
Já a professora e pesquisadora, doutoranda em Antropologia Social, Camilla Nascimento, destaca que ainda existem muitos entraves porque a atuação política constrói-se muito antes do lançamento de uma pré-candidatura. Ela lembra que Goiás ainda não teve uma governadora e sequer uma prefeita na capital.
“Além disso, apenas os partidos de esquerda fazem tentativas sérias no sentido de corrigir isso, haja vista as tentativas realizadas pelo PT de Goiás, que conta com uma presidenta estadual que inclusive já concorreu como candidata ao governo. Assim, Goiás é um estado com pífia participação de mulheres na política, se mantendo firme ainda em suas raízes históricas de exclusão das mulheres da cena pública”, destaca.
Peso cultural
Para a cientista política Ludmila Rosa, as poucas candidaturas de mulheres ao Senado e ao governo estadual permitem entender de que lugar estamos falando. “Goiás ainda é um estado que precisa enfrentar essa questão da busca pela equidade, igualdade e principalmente pela igualdade de oportunidades. Sem contar que há várias cidades goianas em que não há nenhuma mulher na Câmara de Vereadores”, aponta.
Rosa também destaca o fato de que nós, enquanto mulheres, temos superioridade numérica, mas, apesar disso, temos uma submissão em relação a nossa representatividade nos parlamentos, câmaras, na política institucional se comparado a representatividade masculina. “E não é qualquer variação de representatividade masculina. Temos homens majoritariamente brancos, heterossexuais, e com idades entre 45 e 50 anos ou mais de idade. Além disso, não estamos atrelando a variável homem com a variável renda, porque aí é que é possível perceber o quanto a nossa representatividade em matéria legislativa é absolutamente desigual e em desconformidade com o que é de fato o Brasil”, afirma.
Para ela, esse cenário não pode ser afastado do peso cultural. “A nós mulheres, sempre foi dada a imputação de nos apropriarmos do ambiente privado, doméstico, enquanto que, os assuntos que dizem respeito a vida pública, ao sustento, economia, política, tratado como se masculinos fossem, o que é um erro cultural, e sociológico. Não há nada que nos remeta a dizer que essa naturalização é correta que não seja o aspecto cultural, do machismo estrutural e estruturante da nossa sociedade no nosso modo de pensar e de agir. Precisamos continuar enfrentando essas feridas abertas, mostrando dados, estatísticas que mostram que mulheres em posição de poder e liderança são muito funcionais, além de dados que mostram que a mulher tem um componente moral mais consolidado e isso as torna menos corruptíveis ”, finaliza.
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