Com a pandemia de Covid-19, os eSports vêm ganhando ainda mais espaço. Diferente de demais modalidades, os esportes eletrônicos podem ser jogados remotamente e, durante o período de isolamento social, servem também como diversão. Tem gente, porém, que leva a disputa virtual muito a sério.
Em Goiás, por exemplo, a Federação Goiana de Futebol Digital (FGFD) se movimenta para participar, a partir de 18 de julho, do Campeonato Brasileiro de 11×11, no Pro Evolution Soccer (PES). A competição é promovida pela Confederação Brasileira de Futebol Digital e Virtual (CBFDV) e já tem 192 times inscritos, com mais de 6 mil participantes. Só de Goiás, seis equipes já estavam inscritas. A premiação é de R$ 80 mil para o campeão.
A grande favorita é a Nitroxx, que tem a participação do presidente da FGFD, Edson Junio. O regulamento obriga que o elenco tenha, no mínimo, oito jogadores do próprio estado e seis atuando em campo. Com as vagas para e-atletas de fora, a equipe buscou quatro estrangeiros, que jogam pelo Barcelona, Arsenal e nas seleções de Portugal e França.
No torneio, a intenção é mostrar a força do futebol digital goiano. A seleção estadual recentemente venceu a Copa Centro-Oeste e está nas quartas de final da Copa do Brasil. “Temos uma base muito boa, com jogadores que já jogaram mundiais”, disse o presidente da FGFD. “Goiás, por ter jogadores de nível nacional e mundial, é bem representado. Entraremos como um dos melhores times do x11”, completou.
Crescimento de receita
Edson Junio relata que houve um crescimento acima das expectativas com a chegada da Covid-19 e as políticas de isolamento social. Nesse período, ele já foi procurado para promover seis torneios de futebol digitais, seja por bancos, colégios, shoppings ou até mesmo clubes de futebol. “O online cresceu muito devido à pandemia. Você tem um patrocínio maior e uma visibilidade maior, com transmissão pela internet e redes sociais”, conta.
Com os eSports sendo alavancados, há uma previsão de crescimento de receita. Para 2021, o Brasileiro de Clubes x11 deve pagar premiação de R$ 1 milhão ao campeão e realizar torneios mensais com prêmios de R$ 80 mil. No estado, a FGFD e a Nitroxx já foram procuradas por Goiás e Vila Nova para fecharem parceria, mas as propostas não agradaram. Um acordo próximo é com a gigante austríaca de bebidas Red Bull. Se o negócio for fechado, a federação pretende oferecer prêmio de R$ 60 mil a R$ 100 mil no Campeonato Goiano a partir do próximo ano.
Além disso, o setor começa a se profissionalizar, seguindo os moldes do futebol, com contratos detalhados, inclusive com multas rescisórias, e um sistema para registrar os vínculos dos e-atletas, a exemplo do Boletim Informativo Diário (BID) da CBF.
“Os jogadores terão contrato e serão federados a nível estadual e nacional. O vínculo será de, no mínimo, dois anos, com alguns salários na faixa de R$ 80 mil a R$ 100 mil e com taxas e multas a serem pagas para liberar para outros times. A coisa está bem profissional mesmo”, disse Edson Junio.
Talento goiano no mundo
O ex-jogador de futebol Wendell Lira, goiano de nascimento e residência, abandonou os gramados após levar o Prêmio Puskás para seguir carreira nos esportes eletrônicos. Hoje, ele é um dos e-atletas mais respeitados no Fifa, representando inclusive o Sporting Lisboa, um dos principais clubes de Portugal. Outra grande estrela é o anapolino Pedro Resende, que defende a organização Elleven Esports, do craque galês Gareth Bale, do Real Madrid.
Organização profissional em Goiás
Nem só de futebol vivem os eSports. Um dos games que melhor promoveu a modalidade foi o League of Legends (LoL) e, em Goiás, há uma equipe profissional que disputa torneios nacionais. Trata-se da Rensga, uma organização que chamou atenção pelos bons resultados e também pela irreverente comunicação, que reforça a cultura goiana.
A Rensga surgiu no cenário nacional em 2019 após adquirir uma vaga no Circuito Desafiante de League of Legends, a 2ª divisão brasileira, abaixo do Campeonato Brasileiro de LoL (CBLoL). Mesmo não se classificando, o time marcou o início da regionalização dos eSports. Em 2020, estruturou sua base com mais dois times – Rensga Academy e Rensga GO – além de reforçar sua comissão técnica e inaugurar um Centro de Treinamento dentro da Orbi Gaming, um complexo com mais de 800 metros quadrados. Criou ainda uma equipe de Counter Strike: GO para ampliar a atuação no cenário de games e esportes eletrônicos.
Do início do ano até agora a Rensga LoL já conquistou o GC Rift e classificou-se para o Circuitão, que começou na última segunda-feira (8) e segue até agosto. A Rensga CS:GO chegou a classificar-se para a Liga PRO, porém, precisou ser reformulada e no momento disputa a Liga Desafiante da modalidade.
O time de eSports pertence à holding Go Gaming, formada por empresários goianos de diversos segmentos, que tem como objetivo descentralizar o mercado de games e esportes eletrônicos, até então, concentrado no eixo Rio-São Paulo. O primeiro produto desta iniciativa foi a Rensga Esports, depois a construção do espaço Orbi Gaming. Entre jogadores e técnicos, são 30 empregados, todos remunerados. Segundo o diretor de operações da holding, Djary Veiga, os eSports ganham força em Goiás, principalmente após a profissionalização inaugurada pela empresa.
“Acredito que o cenário dos eSports em Goiás, principalmente depois da nossa chegada, vai ganhar força e se desenvolver com mais rapidez. E esse é o nosso propósito e o que queremos incentivar. A nossa atuação em todas as pontas, inclusive, favorece isso: temos um time profissional, instalamos um local físico onde as pessoas podem se encontrar e assistir às transmissões e jogar também até a própria escola que existe dentro da Orbi”, pontua.
Cenário distinto
Para a maioria dos fãs, a realidade ainda é de amadorismo. O estudante Fábio Adriano Manço, de 25 anos, desenvolveu logo cedo a paixão pelos games. Quando a onda dos eSports chegou, ele também se deixou levar e, por hobby, disputou competições amadoras de Fifa e semiprofissionais de League of Legends. No futebol digital, inclusive, levou um título de um torneio em Anápolis.
A avaliação, porém, é de que ainda há muito a melhorar nos torneios menores. “Em Goiás é um pouco fraco, mas vejo muito espaço para crescer”, diz ele, citando a baixa premiação e o incentivo reduzido para que os e-atletas participem. Manço pontua ainda que o LoL, atualmente, é melhor estruturado que o futebol digital. “Foi o League of Legends que trouxe esse hype dos eSports, tanto aqui como no resto do Brasil”, afirmou.
Games se tornam fonte de renda
Nem só em competições os jogos são fonte de renda. Para Adrielly Alves, que iniciou transmissões em um canal na Twitch, plataforma que reúne jogadores streamers e fã dos jogos, há cerca de quatro meses, os eletrônicos serviram não só como entretenimento, mas também passaram a ser fonte de renda.
Com as restrições impostas pelas autoridades para conter o avanço da Covid-19, ela viu a demanda aumentar, e seu canal já soma mais de 2,5 mil seguidores e começou a arrecadar com isso. O dinheiro, proveniente de doações, veio bem a calhar no momento em que a streamer se viu desempregada. “Considero como meu trabalho atualmente”, afirma. Ela pondera que a remuneração ainda não é elevada, mas há muito espaço para crescimento. “A área vem crescendo cada vez mais e se diversificando em relação aos jogos, o que faz melhorar também a visão dos criadores de conteúdo e reduzindo talvez esse tempo para que seja um trabalho rentável”, pontuou.
Alves relata que, embora não seja uma e-atleta, muitas pessoas interessadas em participar de competições amadoras de eSports passam pelo seu canal para pegar dicas dos mais variados jogos que são ali representados e interagir com outros jogadores. “É uma forma de praticar o eSport porém não chega a ser nem em um nivel amador, que treina e se capacita para trabalhar com isso em específico”, avalia.
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