Os professores de todo o mundo precisaram se reinventar em 2020. A pandemia de covid-19 mudou a rotina de todos os trabalhadores, em especial, o da educação. O setor foi atingido em cheio e, com a suspensão das aulas presenciais, precisou ser ágil para evitar maiores danos aos alunos.
Em Goiás, desde março, as classes só se reúnem virtualmente. Os professores, dos mais jovens aos mais experientes, rapidamente tiveram que aprender a lidar com a tecnologia, com computadores, celulares e tablets, além de ambientes de reuniões virtuais.
“Quem manteve vivo o sistema educativo são os professores. Desde suas casas, com seus recursos próprios, se desdobrando para aprender novas tecnologias. O reconhecimento e mérito é desses trabalhadores, que tiveram que aprender rapidamente essas tecnologias”, ressalta o presidente do Sindicato dos Professores de Goiás (Sinpro), Railton Nascimento.
De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, o período pandêmico é marcado, acima de tudo, pela superação dos professores. “Tem sido uma luta. Nem todos estavam prontos para fazer um trabalho remoto e usar os mecanismos tecnológicos. Mas temos nos superado. A dedicação tem sido imensa por parte dos profissionais, que merecem todo o reconhecimento”, destacou.
Desafios
Nascimento vê muitos colegas mais estressados com a adoção das aulas remotas. Segundo ele, além da dificuldade com a tecnologia, há uma pressão, inclusive do ponto de vista emocional, e uma sobrecarga de trabalho.
“Não é fácil saber que está sendo filmado, que as famílias e o corpo diretivo da escola também está assistindo”, cita. “Além das aulas, os professores tiveram que passar a atender WhatsApp, participar de reuniões com família e com os próprios alunos”, destaca.
O presidente do Sinpro cita que é importante discutir a necessidade de desconexão dos profissionais. “É demandado praticamente 24 horas. É um desafio respeitar o descanso para os professores”, pondera. Ele revela que, notando a sobrecarga, várias instituições concederam esta semana de folga para alunos e docentes.
A desigualdade também é um problema na educação remota. Como parte dos estudantes não tem acesso às ferramentas necessárias para manter a rotina de aulas virtuais, muitos ficaram prejudicados. “É claro que há disparidades. A educação tem níveis muito diferenciados. Os desafios para o ensino remoto de crianças são muito maiores. Há desigualdade. Não é possível dizer que a aprendizagem é a mesma. Ficaram bem evidente as fragilidades”, explica Nascimento.
Bia de Lima também reconhece que o ensino remoto não é ideal, mas valoriza a união das forças educacionais para oferecer o melhor para o momento. “Não resta a menor dúvida de que não é a mesma coisa que a aula presencial. O esforço é redobrado, dos pais, das famílias e dos professores”. Ela diz ainda que, para evitar maiores perdas aos alunos, é preciso “ter um olhar muito mais dedicado a isso mais à frente”.
Valorização
A presidente do Sintego lembrou que os professores precisam ser valorizados, pois seguem apresentando resultados elogiáveis mesmo longe das condições ideais. “Não é à toa que somos primeiro lugar no Ideb”, recorda. “Portanto, não dá para ficar dois anos com salários congelados como ocorre em Goiás”, completa Lima.
Além da valorização, Nascimento, que afirma que o mundo está próximo de mais uma revolução, pede que sejam debatidas normas de proteção social para a nova realidade da categoria. “O ensino remoto é um fato, mas os professores vão utilizá-lo. Precisamos estabelecer normas. Não pode haver demissão em massa, com superlotação de aulas”, cita.
O presidente do Sinpro pede ainda respeito à propriedade intelectual dos docentes. “Não pode a escola gravar a aula e depois usar o material sem contrato e a devida autorização”, afirma.
Volta às aulas
Com a queda nos indicadores da epidemia em Goiás, o Comitê de Operações de Emergência (COE) já cogita o retorno das aulas presenciais para novembro. Os representantes da categoria discordam de uma retomada neste momento. “O correto é quando tivermos uma vacina ou um controle maior sobre a pandemia. O risco à vida ainda é muito latente”, disse Bia de Lima.
Railton Nascimento questiona ainda se todas as escolas já teriam condições de implementar, em novembro, os protocolos sanitários aprovados pelas autoridades de saúde. Ele também pondera que uma volta no próximo mês seria sobrepor o interesse econômico ao social.
“Qual o sentido de voltar neste momento? Os pais se sentirão seguros de enviar seus filhos no último mês de aulas? A curva é descendente, mas a pandemia não acabou. Há uma pressão já pensando no período de matrículas de novembro. A preocupação não é com as aulas”, diz.
Ele afirma que o ideal é se pensar num planejamento amplo para 2021. “Voltar em novembro é açodado, vai gerar desconforto e insegurança”, reforça.
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