23 de novembro de 2024
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Com pandemia de covid-19, mortes de pretos e pardos crescem 28% no Brasil

Sepultamento de vítima da covid-19 em Manaus. ( Foto: Amazônia Real/Via Fotos Públicas)
Sepultamento de vítima da covid-19 em Manaus. ( Foto: Amazônia Real/Via Fotos Públicas)

A morte de brasileiros pretos e pardos no Brasil cresceu 28% no primeiro ano da pandemia de covid-19. O dado é maior que o acréscimo nos óbitos de pessoas brancas, que ficou na casa dos 18% no mesmo período.

Os dados foram divulgados pelo centro de pesquisa Afro-Cebrap, que estudo questões raciais, e pela organização global de saúde Vital Strategies.

Conforme os números, 270 mil brasileiros morreram acima do esperado em 2020, em comparação com anos anteriores. Desse total, 153 mil foram entre pretos e pardos, o que representa 36 mil óbitos a mais em comparação com o excesso de mortalidade da população branca do Brasil.

“Nossa análise mostra as disparidades alarmantes entre a população negra e branca na saúde, que pioraram durante a Covid-19. Incentivamos aqueles que têm poder de decisão a usar os resultados deste estudo para orientar planos de combate à doença que levem em consideração as lacunas na contenção do vírus, no atendimento com base na raça/cor. Isso inclui melhorar o acesso ao tratamento e a vacinas com prioridade, melhorar a qualidade do tratamento e melhorar a coleta de dados”, diz Fatima Marinho, epidemiologista e especialista sênior da Vital Strategies.

Clique e veja os dados da pesquisa

O excesso de mortalidade da população negra com mais de 80 anos foi de 16% enquanto o da população branca na mesma faixa etária foi de 8%. As mulheres negras também foram afetadas de forma desproporcional: o excesso de mortalidade foi 57% maior do que o das mulheres brancas.

Segundo Márcia Lima, coordenadora e pesquisadora do Afro-Cebrap, ao longo da pandemia de Covid-19 as desigualdades raciais deixam desproporcionalmente a população negra exercendo serviços essenciais, o que acaba aumentando sua exposição ao vírus. “Enquanto as camadas mais privilegiadas da sociedade – de maioria branca – dispõem de recursos que lhes garantem a possibilidade de cumprir o isolamento social trabalhando em casa, os profissionais informais e precários – majoritariamente negros – continuam cada vez mais expostos”, diz Márcia.

Principais conclusões por idade, sexo e região

● Em 2020, o excesso de mortalidade por doenças (incluindo doenças respiratórias como a COVID-19) foi de 28% (153 mil) entre pretos e pardos em comparação com 18% (117 mil) entre pessoas de cor branca.

● Os dados mostram que pessoas pretas e pardas até 29 anos morreram 32,9%. Brancos na mesma faixa etária morreram 22,6% a mais.

● Na comparação por sexo, os homens pretos e pardos morreram duas vezes mais do que as mulheres brancas e, entre os homens negros, o excesso de mortalidade foi 55% maior quando comparado à mortalidade dos homens brancos.

● Nas regiões Sul e Sudeste, as desigualdades raciais do impacto da pandemia são maiores do que no Norte. Apesar da menor população negra, o excesso de mortalidade entre pessoas pretas e pardas foi quase duas vezes maior do que entre pessoas de cor branca, em especial no estado de São Paulo, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Paraná.


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