O governo de Goiás enviou dois ofícios ao Ministério da Saúde reivindicando doses extras de imunizantes anticovid, em junho e julho, porém não foi atendido pelo governo federal.
Documentos que o Diário de Goiás teve acesso com exclusividade mostram que em 11 de junho (2021) o secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, enviou o pedido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, uma quantidade extra de vacinas devido aos jogos da Copa América, que seriam realizados em Goiânia.
“A par de cumprimentá-lo, sirvo-me do presente expediente para solicitar a disponibilização de doses extras de vacinas contra a covid-19 para o estado de Goiás, em virtude de sua capital ter sido escolhida como uma das cidades a receber jogos e delegações de seleções que participarão da Copa América”, diz trecho do ofício.
A Copa América ocorreu no Brasil de 14 de junho a 10 de julho. A Argentina acabou sendo campeã vencendo o Brasil. O país sede desses jogos seria a própria Argentina, porém o presidente daquele país, Alberto Fernández, proibiu a realização devido à pandemia da covid-19. A Conmebol, então, contatou o governo brasileiro, que aceitou realizar os jogos no país.
Depois, em 14 de julho, o secretário Ismael Alexandrino volta a enviar a Marcelo Queiroga outro ofício pedindo mais 104.496 doses de vacinas para que, segundo o titular da saúde, fosse feito uma compensação ao estado de Goiás, que havia aplicado essa mesma quantidade em pessoas do Distrito Federal.
“A par de cumprimentá-lo, sirvo-me do presente expediente para solicitar a disponibilização de 104.496 doses extras de vacinas contra a covid-19, a título de compensação pela aplicação desse mesmo quantitativo de imunizantes pelo estado de Goiás em pessoas residentes no Distrito Federal até a data de ontem (13 de julho de 2021), conforme dados constantes do sistema SI-PNI deste órgão federal”, pontua o documento.
No pedido, o secretário argumenta também que o próprio governo do Distrito Federal pediu ao ministério doses extras — e conseguiu — com o estratagema de que usou vacinas aplicando-as em pessoas de outros estados. Neste caso, o governo federal atendeu ao pedido de Ibaneis Rocha e se prontificou de enviar ao DF 250 mil vacinas extras.
Desde o início da campanha de vacinação contra a covid-19 em todo o país, Goiás recebe menos vacinas que outros estados — proporcionalmente. A distribuição dos imunizantes vem sendo desigual, mormente, para os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Goiás, por exemplo, no Centro-Oeste é o estado que menos recebeu vacinas junto ao Distrito Federal, segundo dados apresentados pelo Poder Goiás.
- Mato Grosso do Sul – 61,8% (2.390.520 doses recebidas);
- Mato Grosso – 52,4% (2.619.470);
- Goiás – 48,8% (5.078.230);
- Distrito Federal – 48,8% (2.223.870).
À reportagem do Diário de Goiás, Ismael Alexandrino aponta que essa distribuição deveria seguir estritamente de forma proporcional, isto é, a quantidade vacinas de acordo com a população de cada estado. O titular da saúde disse também que o fato de o país estar há 11 anos sem o censo do IBGE, onde é possível termos números reais da população brasileira, isso também pode prejudicar no envio de vacinas aos estados.
“Vacinação é evento coletivo e devia ser proporcional à população. Além das distorções dos Estados que citei, ainda tem o agravamento da distorção baseado no IBGE, que tem 11 anos o último censo”, explicou o secretário ao DG.
Abaixo a distribuição de vacinas para cada estado
Sudeste (64,6%)
- São Paulo – 68,6% (47.780.488 doses recebidas);
- Rio de Janeiro – 59,9% (15.830.745);
- Espírito Santo – 56,6% (3.387.730);
- Minas Gerais – 54,1% (17.496.244).
Sul (59,2%)
- Rio Grande do Sul – 61% (10.660.686 doses recebidas);
- Paraná – 55,8% (9.553.200);
- Santa Catarina – 54,6% (5.956.710).
Centro-Oeste (50,9%)
- Mato Grosso do Sul – 61,8% (2.390.520 doses recebidas);
- Mato Grosso – 52,4% (2.619.470);
- Goiás – 48,8% (5.078.230);
- Distrito Federal – 48,8% (2.223.870).
Nordeste (48,6%)
- Alagoas – 51,7% (2.426.360 doses recebidas);
- Paraíba – 51,4% (3.033.040);
- Rio Grande do Norte – 50,8% (2.644.510);.
- Pernambuco – 50,1% (6.962.270);
- Maranhão – 50% (4.827.580);
- Piauí – 49,9% (2.350.430);
- Bahia – 49% (10.691.530);
- Sergipe – 48,9% (1.629.050);
- Ceará – 48,8% (6.542.868)
Norte (47,2%)
Amazonas – 64,2% (3.511.590 doses recebidas);
Acre – 63,1% (726.800;
Roraima – 54,1% (460.728);
Amapá – 48,3% (545.230);
Pará – 48% (5.665.400);
Tocantins – 45,5% (1.009.920);
Rondônia – 44,8% (1.143.788).
A reportagem do DG não conseguiu contato com o Ministério da Saúde neste domingo (1).
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