22 de novembro de 2024
Paralisação

Com déficit mensal milionário, Santa Casa de Goiânia pede socorro para evitar bancarrota

Receitas oriundas do SUS e do governo do estado ficam na casa de R$ 4 milhões, enquanto despesas com medicamentos e pessoal beiram R$ 8 milhões
Santa Casa de Goiânia vai paralisar atividades por socorro. (Foto: Santa Casa/Divulgação)
Santa Casa de Goiânia vai paralisar atividades por socorro. (Foto: Santa Casa/Divulgação)

Com um déficit mensal na casa dos R$ 4 milhões, a Santa Casa da Misericórdia de Goiânia vai participar da paralisação nacional na próxima terça-feira (19). Nesta data, não serão realizados atendimentos eletivos, como consultas e exames, numa forma de chamar atenção para o rombo causado pela inflação e a defasagem da tabela SUS.

Segundo a direção do hospital, as cirurgias que já estavam agendadas estão mantidas. “Os pacientes já foram preparados, já fez os exames. Não é justo não operarmos”, explicou a superintendente da Santa Casa de Goiânia, Irani de Moura.

A paralisação quer dar luz a um problema crescente. Com o reajuste dos medicamentos o déficit operacional se escancarou. Um medicamento que antes da pandemia de covid-19 custava R$ 1,90, agora é comprado no mercado a R$ 245. Se há pouco tempo o orçamento para os remédios variava de R$ 900 mil a R$ 1,1 milhão por semana, hoje o custo é de R$ 1,5 milhão, num aumento de mais de 36%.

“Com essa tabela do SUS, a cada dia nós vamos ficando no vermelho, atendendo menos por conta dos valores de medicamentos que subiram muito. Todos os outros serviços, materiais e aumentaram. A cada cirurgia que fazemos, ficamos muito no vermelho”, relata a superintendente.

A conta não fecha porque, segundo a Santa Casa, a instituição recebe um valor de R$ 1,5 milhão do SUS por mês, além de R$ 2 milhões do governo do estado. Com outras fontes de receita, as entradas podem chegar a R$ 4 milhões, enquanto os gastos beiram os R$ 8 milhões por mês, contando com a folha salarial.

O problema não mora somente na defasagem da tabela. A demora no repasse dos valores da tabela SUS para as instituições também trava o orçamento. “Nós estamos subsidiando um sistema de saúde que paga uma consulta médica de R$ 10, 60 dias depois. Uma cirurgia de R$ 100, é paga 60 dias depois”, contou Moura.

Reajuste para profissionais pode entrar na conta

O déficit pode ficar pior. Tramita no Congresso Nacional o PL 2564, que trata do reajuste para enfermeiros e técnicos de enfermagem. Hoje, a Santa Casa de Goiânia dispensa R$ 1,7 milhão para arcar com salários. Atualmente, são 70 enfermeiros e 126 técnicos de enfermagem na unidade. Os cálculos da direção é que a aprovação do texto aumentaria o folha em R$ 1,5 milhão, quase dobrando o valor atual.

“Não somos contra o aumento das enfermeiras, das técnicas de enfermagem. Gostaríamos que toda área da saúde fosse beneficiada com esse aumento, pois todos merecem. Mas não damos conta de pagar”, destaca a superintendente. “Pedimos socorro para que os parlamentares que estão votando essa lei nos ajudem a indicar um fundo para que possamos pagar. Se não entrar algum recurso, não vamos dar conta de pagar os funcionários pelo que recebemos pela tabela SUS”, completou.

Na esteira do reajuste de enfermeiros, podem também surgir aumentos de salários para demais profissionais, como médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais e psicólogos.

Empréstimos mantêm a Santa Casa

Com tamanho prejuízo, a operação ainda se mantém de pé graças aos empréstimos bancários. De acordo com Irani de Moura, a instituição tem recorrido mensalmente aos bancos para evitar fechar as portas.

“Nós fazemos empréstimos e pagamos mensalmente, mesmo com juro crescendo. Ficamos subsidiando o tratamento do SUS no nosso país. Está ficando inviável”, disse.

Hoje, 60% dos leitos de alta complexidade no Brasil estão nas Santas Casas espalhadas pelo território nacional. Com a paralisação, as entidades querem sensibilizar gestores e a sociedade. “Essa é a única maneira que encontramos para explicar à imprensa e aos gestores que precisamos de ajuda para continuar salvando vidas”, disse.

“A gente pede ajuda ao governo federal, estadual, municipal, à sociedade civil organizada para que tenhamos condições de atender essa população mais necessitada. A gente quer atender essa população com qualidade, humanização e temos muitas dificuldades. Nós temos recebidos recursos de emendas para equipamentos e construção, mas é uma conta muito difícil de fechar”, completou.


Leia mais sobre: / / Cidades