22 de dezembro de 2024
Justiça

Com cartão de Goiás, PF conclui que Bolsonaro deu ordem para fraudar vacina; entenda

A polícia indiciou Bolsonaro e Mauro Cid por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informações no caso que apura a falsificação de certificados de vacinas de Covid-19
Por meio de Mauro Cid, houve a obtevenção de um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. (Foto: reprodução)
Por meio de Mauro Cid, houve a obtevenção de um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. (Foto: reprodução)

O relatório conclusivo da Polícia Federal (PF) sobre a falsificação do certificado de vacinação contra covid-19 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) detalha um esquema articulado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro César Cid, que possibilitou a obtenção de certidões fraudadas para pelo menos nove pessoas.

As conclusões da PF foram baseadas em depoimentos e na análise de diversas evidências, incluindo trocas de mensagens em aplicativos de celular, registros de login em sistemas de saúde e dados de geolocalização dos envolvidos, entre outros.

O sigilo em torno do relatório final da PF foi levantado nesta terça-feira (19) por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo inquérito que conduziu as investigações.

Segundo a PF, o esquema teve início em novembro de 2021, quando Cid solicitou ao sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, seu colega na Ajudância de Ordens da Presidência, que o auxiliasse a obter um cartão de vacinação falso para sua esposa, Gabriela Santiago Cid.

Reis então contatou seu sobrinho, o médico Farley Vinicius de Alcântara, que conseguiu um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde de Goiás, preenchido com informações falsas sobre doses da vacina contra a covid-19, em nome de Gabriela.

As informações sobre as doses foram retiradas de um cartão de vacinação de uma enfermeira vacinada na cidade de Cabeceiras (GO), conforme mensagens encontradas em um serviço de armazenamento em nuvem utilizado por Cid para armazenar suas mensagens do WhatsApp.

Este primeiro cartão de vacinação falso foi elaborado com anotações manuscritas e assinado por Alcântara, que é sobrinho de Reis e médico. A PF utilizou dados de geolocalização para mostrar que o celular de Gabriela Cid estava em Brasília no dia em que ela supostamente teria sido vacinada em Cabeceiras.

As investigações apontaram que a tentativa de inserir os dados falsos no sistema ConecteSUS, a fim de emitir o certificado de vacinação, não foi bem-sucedida. Isso ocorreu porque a tentativa de inserção dos dados no sistema foi realizada a partir do Rio de Janeiro, enquanto os lotes das vacinas indicadas no cartão foram distribuídos para Goiás. Não foi identificado conhecimento prévio de Crespo sobre a falsidade do documento. O processo foi posteriormente tentado por outro militar, Paulo Sérgio da Costa Ferreira, também sem sucesso.

A tentativa de inserção dos dados falsos no ConecteSUS foi feita por meio da prefeitura de São Gonçalo (RJ), com o cadastro de uma pessoa chamada Sonia. No entanto, ela teria se recusado a participar do processo ilegal depois de saber de sua natureza. A inserção dos dados falsos no ConecteSUS só teria sido realizada após a intervenção do ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, que conseguiu realizar o procedimento em Duque de Caxias, com novos dados de vacina, provenientes de um novo cartão de vacinação falso.

Em seu depoimento, Brecha afirmou que não conhecia Ailton Barros e negou a inserção dos dados falsos no ConecteSUS. No entanto, a PF conseguiu identificar que o login no sistema responsável pelo registro das informações foi feito em seu computador, por meio de um modem instalado em sua residência, em Niterói, no Rio de Janeiro.

Uma vez que o esquema deu certo para Gabriela Cid, foram inseridos posteriormente registros de vacinação falsos para as três filhas de Mauro Cid, bem como para Jair Bolsonaro e sua filha, Laura. Outras pessoas que se beneficiaram do esquema foram Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, auxiliares do ex-presidente, e o deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ). Todas as inserções teriam sido feitas por Brecha.

Em sua colaboração premiada, Mauro Cid confirmou todo o esquema e afirmou que “imprimiu os certificados e entregou em mãos ao então presidente da República Jair Messias Bolsonaro”. O ex-presidente teria tomado a primeira dose de vacina da fabricante Pfizer em 13 de agosto de 2022, do lote PCA0084, e a segunda em 14 de outubro de 2022, lote FP7082, ambas no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias.

O objetivo de todas as inserções fraudadas de dados de vacinação no ConecteSUS era emitir certificados de vacinação contra covid-19 para permitir viagens de lazer aos Estados Unidos.

Bolsonaro, Cid e outras 15 pessoas foram indiciadas pela PF por diversos crimes relacionados à falsificação de certificados de vacinação. O relatório foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, que agora deve solicitar que o Ministério Público Federal apresente seu parecer sobre o inquérito policial.

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