07 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 22/08/2023 às 14:47

Vai passar de qualquer jeito

“É tarde demais”. Essa foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando pensei em mudar de profissão, aos 25 anos de idade. A própria pressão interna, gerada pela comparação com os que me rodeavam, me levava a crer que, sim, eu estava velha demais para recalcular a rota e procurar por algo que me fizesse mais feliz.

A gente cresce com o pensamento de que aos 30 anos a vida precisa estar resolvida. Aos 25 o destino precisa estar traçado, para que aos 35 a casa esteja arrumada e o ninho esteja pronto pros que vierem. A gente se compara, e na maioria das vezes, se perde.  

Foram precisos dois anos até que eu tivesse coragem de voltar à estaca zero e retornasse para a faculdade em busca do meu reencontro. O “é tarde demais” se transformou em “vai fazer tudo de novo?”. Dessa vez não vindo de mim, mas dos de fora, que questionavam a minha coragem de começar uma nova graduação e me aventurar pelos cansativos quatro anos de estudo, mais TCC, mais rotina extenuante de conciliar trabalho e faculdade. 

Até que ouvi de alguém que o tempo passaria de qualquer jeito, eu tendo coragem para enfrentar as dificuldades que me separavam da vida dos sonhos ou escolhendo permanecer em algo que não me completava. Viver uma vida na qual você não se reconhece é um fardo muito mais pesado de carregar do que a rotina universitária. Disso eu sabia. Só não sabia que o tempo passaria tão rápido. 

Quatro anos depois da decisão que mudou tudo, cá estou eu, no último ano da faculdade, em uma rotina completamente diferente e mais feliz. Me reencontrei profissionalmente e, ainda, me redescobri como pessoa. Ao buscar por uma profissão com a qual eu me identificasse, acabei me reencontrando com a menina que sempre soube o que fazer, só não parou para se ouvir. Reencontrei também talentos, velhos hobbies, fiz novas amizades e aprendi a confiar mais em mim e nas minhas capacidades. 

A vida guia a gente pelo caminho. A nossa intuição nos mostra quando mudar a rota, o destino, e fazer o retorno na estrada. Por mais que eu tenha atrasado um pouco a viagem, voltar atrás me poupou sofrimentos que eu provavelmente encontraria lá na frente, por insistir em seguir em um trajeto que não era pra mim, não me levaria para a felicidade. 

Pela estrada, tive que abrir mão de algumas bagagens que carregava comigo, mas entendi que a gente muda um tanto com o passar do tempo, e aprendi a abrir mão do que não se encaixava mais, em prol de muambas novas. Ainda não cheguei lá ainda, porém, o tempo, que ia passar de qualquer jeito, já me proporcionou vivências muito mais satisfatórias do que se eu tivesse me negado a ir nessa aventura por medo de estar tarde demais. 

A verdade é que não tem hora certa para as coisas. Cada um sabe do seu próprio momento. A vida traz as pessoas e as oportunidades certas conforme a gente vai indo. Nem tudo precisa estar resolvido aos 30 anos e o ninho não tem que estar pronto até os 35. Vai passar de qualquer jeito, você estando contente com a vida que tem ou não. Então, por que não escolher pelo que te faz feliz, mesmo que isso te custe um retorno na estrada?! Ainda há tempo, mesmo que você tenha 25, 35 ou 60. O tempo passa de qualquer jeito, a gente é que escolhe de que forma passaremos por ele.

Luana Cardoso Mendonça

Jornalista em formação pela FIC/UFG, Bióloga graduada pelo ICB/UFG, escritora e eterna curiosa. Compartilho um pouco do mundo que eu vejo, ouço e vivo, em forma de palavras, afinal, boas histórias merecem ser contadas