28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 24/11/2012 às 15:11

Tudo é o que parece e o que não é também

E o que não é política?

O relatório do deputado Odair Cunha (PT) na CPMI do Cachoeira desagradou geral.

Mas quem disse que era para agradar a todos?

O argumento de que se trata de uma peça política e que por isso tem de ser desqualificada é político.

O outro argumento, o de que Odair foi pressionado por seu partido para fazer daquele jeito, também é político.

E mais o outro, o de que tudo era cortina de fumaça para encobrir o mensalão, como dizer que não é político?

O governador de Goiás, tucano Marconi Perillo, vocifera aqui e ali que é alvo de perseguição política. Fora o ponto de que disso ele entende bem – perseguição política, diga-se –, há o que aponta para o óbvio: a sua resposta é política.

Política versus política. Políticos versus políticos. Assim gira a roda da vida, e a vida política nacional não é diferente.

E quem é inocente? Quem atira a primeira pedra?

Todo o julgamento do mensalão teve um componente político evidente, inclusive com a imprensa de modo geral cumprindo um papel mais partidário – da condenação, custe o que custar – do que, como ensinam os bons manuais de redação, de isenção.

Isenção… Mito político, jornalístico, humano.

Na vida, nem defunto é isento, já dizia meu velho tio (na verdade, lá na sabedoria passaquatrense que o distinguia, ele literalmente falava: “Na vida, assim como na morte, ninguém é inocente”).

Eu não tenho medo da política. Você tem?

Jornalismo é informação; política é versão.

Eis uma das lições que aprendi com o velho e sábio Archibaldo Deslandes Fiqueira logo nos meus primeiros passos, como seu aprendiz. Não que ele precisasse dizer isso; bastou eu observar, andando pelos corredores do Congresso, o que muito fiz e por muito tempo.

Política está nos bastidores. E aqui, nas ruas. É verdade, porque é versão.

Porque a verdade é que chega um tempo em que não se diz mais que esta é “a verdade absoluta”, porque não há verdade absoluta, há versões resolutas.

Marconi Perillo bate o martelo de sua convicção no que lhe convém: desqualificar as acusações que pesam sobre ele de fazer parte de uma quadrilha que prejudicou e prejudica Goiás – entre outras coisas, como está no relatório.

É a verdade dele. A versão que ele dá ao relatório, acusado de ser uma versão dos fatos para agradar Lula, que, na versão de Marconi, nutre-lhe ódio mortal pelo alerta do mensalão, embora se saiba que a história não é bem essa, mas que foi adequada a parecer assim porque interessa aos tucanos hoje que seja assim.

Depois do suposto alerta a Lula sobre o mensalão, sabe-se que Marconi buscou aproximação com Lula, e que em um encontro em Brasília o goiano, então senador, prometeu ao na época presidente da República não só votar como fazer o seu partido aprovar a CPMF.

Foi o que aconteceu? Não. Marconi, poucas horas depois de apertar a mão de Lula fez discurso duro contra a CPMF, e ajudou a enterrá-la.

Mas a versão é que Lula persegue Marconi.

Em Goiás, como Marconi domina a maior parte da mídia com verba generosa e pressão poderosa – está tudo registrado aqui, no Diário de Goiás, é só buscar nos arquivos – , fica o dito pelo bendito tucano.

Marconi faz o jogo da vítima. Qual a novidade? E o que é isso senão política?

Na versão relatada por Odair Cunha há fatos que comprometem o governador goiano. Disso ele não fala, a não ser para xingar Odair. E ele xinga com veemência. E diz que vai processar.

Processar Odair Cunha é um gesto político de Marconi para criar um fato, um factoide que desvia a atenção para o que está no relatório e o incrimina, a ponto de ser qualificado como quadrilheiro.

O relatório tem acertos e tem erros. Tem exageros. Tem distorções. Depende da visão. Depende do interesse. Depende do ponto de vista. Depende.

E tem versões de casos específicos que não são como são. Mas, a partir do momento em que foram anotados lá, são fatos – se não como de fato ocorreram, o são de outra ordem, agora a ordem de fato gerado por estar lá, anotado.

O fato no relatório é político, independente de ser verdade. Porque verdade, em política, é versão.

Pareço repetitivo porque política também é isso: repetição.

Não há novidade. Não há originalidade. Nem antes, nem depois de Maquiavel.

Temos um embate nacional de forças políticas poderosas, que produzem efeitos colaterais dolorosos para muitos – eu que o diga –, mas isso não torna ninguém inocente, porque a roda da política gira independente das boas intenções, dos bons e da verdade, esteja ela onde estiver.

Livre-arbítrio. Divino. E infernal.

No embate nacional, PSDB, PT, PMDB e tantos outros partidos, e a imprensa junto, lutam por seus interesses, e eles estão acima de todas as coisas, assim pelos séculos e séculos…

E você, caro leitor, que se vire para acreditar no que quiser. Porque além de tudo há nisto ainda: a sua versão.

Ou você acha que está isento, é inocente e vive fora da política?

Negar o inegável nada mais é do que… política.

E o que não é política?

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).