O presidente Michel Temer está liberando emendas para aliados fiéis e demitindo do governo aqueles nomes indicados por parlamentares rebeldes, que não estão dispostos a votar a reforma da Previdência que ele quer. E as profundas mudanças na legislação trabalhista, diga-se.
Sem tirar nem por: o presidente joga duro com sua base e contra os adversários na Câmara dos Deputados e no Senado. Aos aliados, tudo; ao resto, a mão pesada do governo.
Essa é a noticia escancarada, reproduzida por sites e jornais, na TV e no rádio. Sempre acompanhada de análises detalhadas, que vão na linha ‘ele vai conseguir’, ‘ele não vai conseguir’ aprovar sua pauta.
Tem até torcida organizada nas redes e nos comerciais pagos, destinados a convencer para Michel poder vencer.
Bem e mal, em todos os canais e veículos muito se fala de Temer como fato e farto em sua ação presidencial com a caneta cheia de tinta na mão.
Enquanto isso, pouco se fala do que, em tese, colocou o povo na rua, e que sustenta a ação do presidente: a repulsa ao velho e nada bom toma-lá-dá-cá, à política do fisiologismo, da barganha, da compra de apoio no Congresso.
Sem meias palavras, porque sem disfarce, Michel Temer faz o jogo sujo do mal público, condenado até outro dia, e ninguém fala disso, só fala de sua habilidade em fazer bem o jogo sujo – como se diz (na propaganda), necessário para um país melhor.
Não há povo na rua contra a prática de hoje; houve contra a prática anterior. Como não há percepção do que se está (des)construindo com as reformas em curso, porque o que importa é… que estava tudo errado, embora estivesse tudo – ou muita coisa – certo.
E os parlamentares que aprovaram o impeachment em nome da moralização da política, o que fazem?
O de sempre, independente de quem está no governo: negociam o voto. Por que fariam diferente, se tudo mudou para não mudar nada?
Em curso desde tempos imemoriais, segue a todo vapor a política do benefício público por conveniência. Conveniência do eleito, conveniência do eleitor.
Se tem verba, deputado e senador votam de um jeito; se não tem verba, votam de outro. Depois discursam para o povo, que, como eles, da boca pra fora é um, e da boca pra dentro… bem, ninguém é perfeito.
Temer sabe das coisas. Sabe que o Brasil, na teoria, é um, e na prática, é outro.
Nem disfarça. Quem disfarça é aquele que vai para a rua cobrar uma coisa mas elege e apoia outra: a mesma.
Temer é o presidente que melhor representa o povo brasileiro neste momento: é o avesso de si mesmo.
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