Um pronunciamento no sábado à tarde é sintoma de pressa.
E pressa é o que mais tem o presidente Michel Temer (PMDB) neste momento.
Ele precisa de tempo. Corre contra o tempo, porque vê a cada minuto, a cada notícia ou posicionamento de um aliado, o chão da estabilidade política sumir sob seus pés.
Sem apoio popular – que ele não tem –, e sem apoio político – que ele vinha mantendo não por força de sua liderança, mas ao custo de verbas do orçamento prometidas e liberadas aos poucos aos parlamentares –, não há governo que resista.
Temer precisa de tempo para conversar, convencer, articular e, quem sabe, estancar a sangria de seu mandato, com mais verba, com mais comprometimento, seja ele qual for. (Se valeu tudo para chegar ao governo, valeria menos permanecer lá?)
Corre contra o tempo porque cada minuto de notícias e de desconfianças é sinônimo de tempo a menos de governo, porque torna-o mais vulnerável, visto que mais trincado em sua credibilidade.
Sua linha de defesa até agora está ancorada no que defende como grande sucesso de sua política econômica: queda de juros, menos desemprego etc. Em dizer que tudo não passa de um complô contra sua curta gestão, que é uma negação da anterior. E em argumentar que o que está indo bem, não pode parar. É o que ele diz.
Tem gente que acredita. Tem gente que se apega nisso, ou porque precisa manter o discurso de culpabilidade dos governos anteriores para justificar o seu próprio discurso de oposição (ódio, às vezes); ou porque entende que Temer é o mal menor, então vale o esforço de fechar os olhos agora; ou simplesmente porque acredita mesmo em Temer e ponto.
O presidente e seus aliados também se escoram em aspectos laterais para tentar mascarar o principal. Por exemplo, enfatizar a possível jogada de esperteza da família Batista, que comprou dólares antes de tudo vazar. Naturalmente isso precisa ser apurada, e já está sendo, por órgãos competentes. Comprovado o crime, que os responsáveis paguem por ele.
Temer igualmente chama a atenção para o caráter de um empresário que grava clandestinamente conversas para depois usar como moeda de troca pela liberdade. E, ato mais recente, tenta desqualificar os áudios dizendo que estão editados.
São questões laterais porque não escondem o seu próprio comportamento, e muito menos justificam seus atos. Não o exigem de culpa. Não o livram de seus pecados. As acusações e evidências são fortes. Muitas, irrespondíveis.
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Além da delação e das gravações, há documentos. Friboi, Odebrecht e o bom senso não deixam dúvidas sobre questões graves. Ou não é grave negociar milhões de reais para o seu partido? Ou não é grave tentar comprar o silêncio de um aliado? Ou não é grave antecipar a queda de juro da Selic para um empresário?
Temos um presidente pego com flagrante. E que tenta se defender com tergiversações. Com atos de bravura, com esta nova coletiva, e não com fatos.
Michel Temer continua sangrando. Pode sangrar mais se novos fatos surgirem. Segue na corda bamba. Apega-se a todos os botes e a todos os pedaços de madeira que encontra na correnteza para não afundar. Está fazendo o que pode para sobreviver.
Ainda não dá pra saber se vai conseguir. Está cada vez mais difícil. Porque uma coisa é o que o presidente diz. Outra, o que a realidade já mostrou e pode mostrar.
Nota no jornal O Estado de S. Paulo informa que Joesley Batista vai divulgar o áudio completo de sua conversa com o presidente. Talvez apenas enfatizará que tudo está lá, já que, o seu advogado nega que tenha ocorrido qualquer edição no diálogo.
Temer está jogando pesado e alto porque a sua situação é grave, talvez terminal. Joga para respirar, como o afogado que volta desesperado à superfície, mas pode ser seu último suspiro.
Enquanto isso, os partidos e aliados observam e são cobrados. Se resistirem com o presidente, correm o risco de, no fim das contas, morrem afogados com ele. Até onde vão, nesse risco?