28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 28/06/2017 às 18:25

Somos governados por uma estratégia de sobrevivência política. É o custo Temer X o custo Brasil

Temer em churrascaria com embaixadores, após a Operação Carne Fraca, em Brasília
Temer em churrascaria com embaixadores, após a Operação Carne Fraca, em Brasília

Michel Temer (PMDB) chamou o seu marqueteiro particular, Elsinho Mouco, e o foi pra cima do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que apresentou denúncia contra ele, feito inédito na nossa República, o que criou uma agenda prioritária no Congresso: a salvação do presidente, antes da salvação do Brasil. É nesse nó cego que vivemos hoje.

Na estratégia de sua salvação nacional, Temer declarou guerra total. É um recurso antigo, batido, cinematográfico. Costuma funcionar. Está na Netflix. Quem assiste House of Cards, ou acompanha os recentes movimentos de Donald Trump nos Estados Unidos para também se safar de denúncias também graves, sabe como a coisa funciona.

Contra uma confusão negativa para seu lado, cria-se uma confusão maior para todo mundo. E seja o que Deus quiser. Talvez Ele queira mesmo. “…não sei se deus me colocou aqui…”, disse Temer, compungido como um santo reagindo às tentações para renunciar logo. Quem sabe? Deus escreve certo por linhas tortas. Talvez o objetivo seja este: ele lá para medir o livre arbítrio popular.

Não há agenda no País. Há o caos. Não há um governo no poder. Há um presidente usando toda a literatura política de ocasião para se salvar. Os fins justificam os meios. Feio é perder. Não pode é entregar o ouro pro bandido. Perde quem pisca primeiro. Político não tem que ser respeitado, tem que ser temido. Mais vale o poder na mão do que a dignidade no coração. Foda-se: daqui não saio, daqui ninguém me tira.

Nunca tivemos uma realidade política brasileira tão escancarada como a de hoje. Quem dera a pauta fosse só o bom e necessário interesse nacional. O jogo é outro. Vale tudo. Negócios com deputados e senadores são feitos à luz das câmeras. Não há pudor no horizonte. O uso da máquina é institucionalizado em princípio. Denúncia é ficção. Corrupção é ficção. O presidente é ficção. O Brasil atual é ficção. Todos vemos, nesta dura realidade.

Temer ficará no cargo não enquanto quiser, mas enquanto os brasileiros quiserem. Deus é nosso conterrâneo. Cada um faz a sua parte. Talvez nem seja um nó, o que vivemos. Talvez seja apenas a oportunidade de escrever o nosso próprio caminho. Imagine só: uma história em que o autor escreve o seu próprio destino. Vai fazer o quê?

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).