A entrevista do governador Ronaldo Caiado nas páginas amarelas da revista Veja apresenta um líder ponderado para um Brasil em busca de líderes mais à direita e ao centro, sem ferir aquela parte da população que gravita também em direção ao centro. Ele está palatável para um público amplo. Discurso na medida para quem sonha e se mexe para ser, quem sabe, candidato a presidente da República.
Caiado evita inclusive o confronto pessoal com Lula. Tira, assim, a ideia de peleja particular, entre os dois, o que apenas evidencia pequenez de espírito em vez de grandeza de intenções. Bom, isso é o que parece, o que se lê pode-se interpretar a partir do quadro posto de suas recentes movimentações e do eventual significado da busca de um espaço nacional de voz. As páginas amarelas funcionam como um palanque inegável para um (re)posicionamento político para o País ver.
Não há jornada fácil para uma candidatura a presidente. Mais difícil fica se o nome é goiano, um estado sem força eleitoral para marcar posição espontaneamente. Quando Caiado foi candidato, antes mesmo de ser político, o foi porque um grupo precisava marcar posição e ele era o microfone. Ao disputar mandatos, e ganhar, Caiado iniciou uma caminhada própria, lobista de si mesmo: seu pensamento, suas ações, suas propostas. Por mais ruralista que seu grupo seja, é ele que está falando, por conta e risco. E ele faz bem sua parte, tanto que se projetou.
Na entrevista há não aquele Caiado capaz de dar uma boiada para não sair de uma briga, mas o Caiado que tem uma visão de Estado e se sente preparado para presidir. Suficiente para ganhar? Muito cedo para se avaliar este ponto, visto que não está clara ainda a sua capacidade de ser candidato em meio a um jogo que envolve outros nomes, dentro de seu partido, o União Brasil, que tem muito mais munição articuladora. A idade de Lula e a possibilidade de que ele não seja candidato à reeleição abre o leque de interessados. E quanto mais interessados, mais dura a disputa.
A primeira vitória do presidenciável Caiado, portanto, é esta: ser candidato a candidato fora de Goiás, porque aqui ele já se consolidou e tem apoio irrestrito. A segunda: ser candidato. Só então saberemos se as ideias e os esforços do governador são suficientes para fazerem dele presidente do Brasil. Natural, portanto, que Caiado busque palanques nacionais em vez de se contentar com os estaduais. Natural, também, que se cuide para que os problemas paroquiais de um governo que se pauta pela moralidade não vire pedras intransponíveis no caminho.
O discurso e a realidade, numa campanha nacional, cobram alto a fatura. Não dá pra ser lá o que aqui se contemporiza. Não dá pra sustentar numa campanha acirrada, questões que aqui são tratadas com naturalidade. Governo é uma coisa, Caiado é outra. Antes de tudo, é preciso ajustar as pontas para que os pontos de uma candidatura nacional fiquem bem amarrados.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).